Valorização do real não alivia inflação e BC eleva estimativa para 7,1%
O câmbio mais baixo não deve ser suficiente para diminuir a pressão sobre os preços, já que as commodities estão mais caras no mercado internacional
Apesar da valorização do real frente ao dólar gerar expectativa nos brasileiros de um arrefecimento na inflação, o recente alívio no câmbio não deve ser suficiente para diminuir a pressão sobre os preços. O alerta foi dado nesta quinta-feira, 24, pelo Banco Central, que elevou a estimativa de inflação de 4,7% para 7,1%.
Segundo a autoridade monetária, a elevação dos preços de commodities e dos preços de produtos importados – especialmente desde a escalada do conflito entre Rússia e Ucrânia −, embora atenuada pela recente apreciação do real, provoca um novo choque de oferta na economia doméstica, com impacto altista sobre a inflação e negativo sobre a atividade econômica no curto prazo.
A moeda brasileira apreciou 13,5%, mas segundo o BC isso ameniza parcialmente o crescimento do preço das commodities. “Os gargalos nas cadeias produtivas globais ainda têm pressionado os índices de inflação e tendem a se agravar com o conflito entre Rússia e Ucrânia”, aponta o relatório de inflação, divulgado nesta quinta-feira. A autoridade atribui parte significativa da inflação aos preços do petróleo e dos alimentos. Em um cenário alternativo, sem maiores pressões no preço do petróleo com o barril a 100 dólares, o BC estima uma inflação menor, de 6,4% ao final do ano.
O mercado também ainda não está absorvendo essas quedas do dólar em suas projeções. No boletim Focus, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) segue em sua décima semana consecutiva com projeções de alta, e já saltou de 5,56% para 6,59%. O BC também aumentou a probabilidade para 88% a 97% de a inflação ficar acima do teto em 2022, e zerou as possibilidades de ancorar as expectativas dentro da meta.
Embora o câmbio tenha caído nas últimas semanas para o patamar abaixo de 5 reais, o mercado segue projetando um dólar a 5,30 reais ao final do ano. Para os especialistas, o movimento recente de queda da moeda americana no Brasil também não deve surtir grandes efeitos na inflação. Porém, se o câmbio se mantiver nos patamares abaixo de 5 reais até o fim do ano, a inflação pode, sim, ter uma leve descompressão, em especial, nas importações, como as de petróleo.