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Sinais de retomada animam mercado e Ibovespa encosta em 100 mil pontos

Índice se aproxima do patamar do início de março, quando a disseminação da doença e o temor das consequências na economia derreteram a bolsa

Por Luisa Purchio Atualizado em 8 jul 2020, 20h14 - Publicado em 8 jul 2020, 17h20

Seguindo a tendência de retomada da atividade econômica e dos números positivos da indústria e do comércio no país, o Ibovespa, principal indicador da bolsa brasileira, encostou nos 100 mil pontos, patamar que não atingia há quatro meses, desde o aumento da contaminação pelo novo coronavírus do país e o derretimento da bolsa brasileira. Nesta quarta-feira, 8, a bolsa fechou nos 99.769 pontos, alta de 2,05%, refletindo valorização generalizada dos papéis negociados na B3 com as sinalizações de que o ponto mais agudo da crise para a economia ficou para trás.

A principal influência na alta desta quarta foi a divulgação de números do varejo brasileiro, superior ao dobro da expectativa do mercado. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que em maio as vendas no varejo cresceram 13,9% em relação a abril, quando houve queda brutal de 16,8% no comércio. Apesar de a base de comparação com abril ser baixa, as informações do comércio indicam que o ponto mais difícil foi superado e que a reabertura gradual e a adaptação do comércio a nova realidade ajudou a não parar a movimentação econômica. No acumulado do ano, no entanto, os índices estão em -3,9% em relação a 2019, o que mostra que ainda há um longo caminho para voltar aos patamares pré-pandemia e podem haver novas ondas de pessimismo.

Além do otimismo com os dados do comércio – que se somam a índices positivos da indústria e à visão do governo de que o pior na área econômica já passou – a gradual alta do Ibovespa acompanha os sinais de que o governo Bolsonaro vai se alinhar melhor com o Legislativo e o Judiciário. Ela também foi impulsionada pelas expectativas sobre o avanço das vacinas contra a Covid-19 e a retomada mundial da atividade econômica. Fundamentais para esse retorno são os incentivos de governos e bancos centrais que vêm baixando as taxas básicas, aumentando a liquidez de suas moedas e concedendo benefícios assistenciais à população. “A maioria dos países colocou na economia cerca de 10% de déficit nominal. Com os juros baixos, isso incentiva as pessoas a tomarem empréstimos e consumir mais”, diz Thomas Gilbertoni, especialista da Portofino Investimentos. O otimismo que ocorreu hoje na bolsa brasileira após os dados do IBGE está relacionado a essas medidas que mantém empregos e animam a aquisição de bens e consumo. “A importância do dado fica ainda mais evidente quando lembramos que, sob a ótica da demanda, o consumo das famílias é responsável por dois terços do PIB nacional”, diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.

Apesar da alta, os ganhos no Ibovespa não foram maiores porque ainda há incertezas globais sobre os rumos da pandemia e o surgimento de novas ondas. Essa cautela existirá até que haja acesso a um remédio ou imunizante que cesse de vez o risco de colapso dos sistemas de saúde e mais isolamentos sociais. Além disso, o mercado espera muita volatilidade nas bolsas devido a fatores locais. Nos Estados Unidos, por exemplo, que se aproxima das eleições presidenciais, ressurgem brigas comerciais com a China e a discussão sobre novas taxas à Europa. Cada vez que surge uma turbulência dessas, as bolsas são afetadas. “Esse sobe e desce deve continuar nos próximos dois a três meses porque o mercado está acompanhando tudo ao mesmo tempo”, diz Victor Beyruti, analista da Guide Investimentos. Isso indica que, a trancos e barrancos, o Ibovespa está perto de ultrapassar a sua simbólica marca dos 100 mil pontos.

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