Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

‘Sem reformas, Brasil será sempre o país do futuro’

O comentarista-chefe de Economia do 'Financial Times' afirma que não há segredo na receita para a recuperação econômica: corte de gastos e realização imediata de reformas estruturais

Por Naiara Infante Bertão
29 mar 2015, 08h41

O Brasil é a sétima economia do mundo e se movimenta tão rápido quanto um mastodonte: não consegue avançar com a rapidez necessária para dar um grande salto de desenvolvimento. A avaliação é do economista britânico Martin Wolf, comentarista-chefe do Financial Times e atento observador da economia brasileira. Segundo Wolf, o quadro de estagnação da economia brasileira só vai mudar se o país conseguir melhorar consideravelmente sua taxa de poupança e investimentos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil cresceu apenas 0,1% no ano passado. Se em 2014 o país escapou da contração econômica por causa da mudança de metodologia no cálculo do PIB, em 2015, será difícil reverter o número vermelho. Expectivas de economistas consultados pelo Banco Central (BC) para o relatório Focus mostram contração de aproximadamente 0,87% no ano. “Essa situação é muito improvável de ser mudada em breve, especialmente ciclicamente. Se isso o faz permanentemente o país do futuro, então ele continuará assim”, afirma o economista. Leia trechos da conversa.

A crise econômica brasileira deve perdurar no longo prazo?

Não está muito claro se o Brasil, de fato, passa por uma crise. A meu ver, parece mais que o país está vivendo no período baixo de um longo ciclo econômico que deve levar ainda um tempo. De 2000 a 2014 o Brasil cresceu, em média, aproximadamente 3% ao ano. Ao que parece, essa é a taxa de crescimento potencial do país sob as atuais políticas e estruturas econômicas. De qualquer forma, eu não vejo como o Brasil poderia ter um forte crescimento no ano que vem, dada a situação fiscal e a desaceleração da economia da China. É preciso entender que o Brasil é uma economia grande e de baixo crescimento, com baixíssimas taxas de poupança nacional e investimento doméstico. Essa situação é muito improvável de mudar logo, especialmente ciclicamente. Se isso o faz permanentemente o país do futuro, então ele continuará assim.

O boom de crescimento baseado em consumo foi uma ilusão?

De certa forma, sim. Houve um otimismo excessivo. A expectativas eram excessivas e as pessoas interpretaram um ciclo de bonança como uma tendência. Acho difícil que o Brasil volte a despertar esse tipo de euforia. Mas não se pode exagerar também. O Brasil é atraente para investidores estrangeiros por seu tamanho, dado o grande mercado consumidor e de fontes naturais. O que o Brasil precisa é de maiores investimentos e poupança. Esta é a necessidade há muito tempo. O melhor estímulo vem do maior investimento, não do consumo.

A solução do problema fiscal ainda em 2015 não é descartada pelo governo. O que o senhor acha disso?

Eu não sei se a presidente conseguirá fazer o que é preciso. Eu não posso dizer que eu acho que o Brasil vive um sério problema fiscal porque os níveis de dívida líquida pública são modestos em comparação ao Produto Interno Bruto e o déficit fiscal não aparenta ser tão grande também. Não obstante, um país com uma taxa de poupança privada tão baixa precisa de uma posição fiscal mais forte. O maior problema do setor fiscal, contudo, é que os gastos do governo tem uma participação muito alta no resultado do PIB para um país com esse nível de desenvolvimento.

Leia mais:

Economia brasileira escapa por pouco da retração ao subir 0,1% em 2014

‘Brasil tem lição a aprender com o Peru’

O governo brasileiro tem usado como desculpa a crise internacional para justificar a crise econômica brasileira. O senhor concorda com essa avaliação?

Acredito que a fonte das dificuldades que o Brasil enfrenta é predominantemente doméstica. O Brasil sentiu muito menos os efeitos da crise internacional por causa do boom das commodities. O problema é que os benefícios desse boom foram desperdiçados.

Continua após a publicidade

O México é comparado ao Brasil em muitos aspectos. Você acha que isto é porque os investidores confiam mais no governo mexicano ou nos números de sua economia?

O México é visto como um país que fez reformas estruturais importantes nos últimos anos, enquanto o Brasil, não. Contudo, os dois não são muito diferentes, apesar dos contrastes óbvios na estrutura e direção do seu comércio. Ambos precisam melhorar bastante a governança e aumentar a poupança e a taxa de investimentos. Mas o Brasil precisa de reformas estruturais em sua economia também – o que o México já tem tentado fazer recentemente.

Leia ainda:

Pibinho do Brasil não é culpa da crise externa, dizem analistas

Estagnação não tira do Brasil posto de 7ª economia

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.