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‘Segunda-feira Negra’: tombo de ações na China dá largada para impacto em emergentes

Mesmo diante de estímulos monetários, investidores não confiam na capacidade do governo chinês de restaurar o crescimento de outros tempos – e a desaceleração chinesa deve afetar sobretudo os países como o Brasil

Por Eduardo Gonçalves, Luís Lima e Teo Cury
24 ago 2015, 19h21

Um surto de pânico generalizado. Foi assim que analistas do mercado financeiro encararam a derrubada das bolsas pelo mundo, após o índice Xangai Composto, o principal da China, registrar perdas de 8,5% nesta que ficou conhecida como a Segunda-feira Negra dos mercados financeiros. Para especialistas ouvidos pelo site de VEJA, a queda abrupta não foi injustificável, uma vez que a China é um dos maiores importadores do mundo e a segunda maior economia do globo, diretamente ligada às economias emergentes. Mas também existe a percepção de que não era para tanto, pois o tombo das ações na China deve ter, a longo prazo, um efeito limitado sobre as economias americana e europeias.

De uma forma geral, o mercado já estava atento às movimentações do mercado acionário chinês, que de agosto de 2014 a junho deste ano teve uma valorização de mais de 150%. Para os operadores, essa alta não teve nenhum fundamento na realidade, uma vez que a economia do país está em evidente processo de desaceleração. O que detonou o movimento de vendas, no entanto, foi a divulgação de indicadores comprovando o que os analistas tanto temem – um derretimento do quadro chinês mais rápido do que o esperado.

Isso ficou expresso com a divulgação, sexta-feira passada, de dados da indústria e do consumo, que tiveram desempenho abaixo do esperado. Na indústria, por exemplo, a atividade se contraiu em agosto no ritmo mais intenso em seis anos e meio. A desvalorização do iuane, anunciada pelo Banco Central chinês há duas semanas, é outro fator que alimentou a ideia de que a economia do país está em pior estado do que se imaginava. O pessimismo cresceu no final de semana devido à ausência de novas iniciativas do governo chinês para estimular a segunda maior economia do mundo. Ao mesmo tempo, aumentaram as suspeitas de que uma bolha acionária esteja prestes a estourar na China.

“Os investidores estavam com o dedo no gatilho: bolsas americanas, alemãs, francesas e chinesas. E ao primeiro susto todo mundo sai correndo. E foi o que aconteceu. Há um estado de apreensão em relação à possibilidade de haver uma bolha. É um clima de largada, em que os investidores estão só esperando o tiro pra sair correndo”, afirmou Pedro Paulo Silveira, economista chefe da TOV Corretora.

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Após abrir com perdas de mais de 5%, a maioria dos mercados acionários mundiais recuperaram as baixas ao longo dos pregões, o que não foi suficiente para evitar a quebra de marcas históricas – as bolsas europeias tiveram o pior dia desde 2008, quando a economia estava no auge da crise global. “O pânico tomou conta do mercado. Foi um pouco exagerado. Mas com o decorrer da sessão, os investidores, com a cabeça mais fria, tendem a vender menos”, avalia o diretor de operações da FN Capital, Paulo Figueiredo. Não à toa, uma das dicas publicadas pelo Wall Street Journal para acalmar seus leitores foi: ‘Não leiam as notícias hoje’.

Emergentes – Enquanto as economias desenvolvidas se mostram mais fortalecidas para passar pelo solavanco de uma crise chinesa, para o Brasil, o impacto da queda pode ser avassalador. Um estudo recente da revista The Economist mostra que apenas cinco países devem ter recessão este ano. E nenhum deles está no grupo dos desenvolvidos. São Brasil, Argentina, Venezuela, Rússia e Ucrânia.

No caso do Brasil, o impacto é mais doloroso porque o país, majoritariamente exportador de commodities, comercializa um grande volume de matérias-primas para a China, como minério de ferro, petróleo e soja. Com a economia chinesa fraca, caem os preços das commodities e o volume de transações comerciais. As principais empresas brasileiras, por sua vez, já sentem na pele esse movimento: os papéis da Petrobras e da Vale recuavam 3% 6%, respectivamente, no fechamento do pregão. “Empresas que têm relação com commodities somam quase 40% no Ibovespa – se juntar Petrobras, esse número sobe pra 50%. Então, há sim um impacto da China e do mundo emergente como um todo”, disse Silveira.

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Os especialistas também destacam que o fator China pode afetar o país por meio do câmbio. Nesta segunda, o dólar foi a 3,58 reais antes de fechar a 3,55. Isso ocorre porque, diante do risco, os investidores tendem a aplicar o dinheiro em títulos seguros, como os treasuries, que são os títulos da dívida dos Estados Unidos. “É um processo bastante severo e deve machucar bastante os emergentes. No caso do Brasil, na politica monetária, o BC deve se preocupar mais com a desvalorização do real. Contudo, isso não significa que o dólar irá a 4 reais do dia para a noite”, afirma André Perfeito, analista da Gradual Investimentos.

Para o Brasil, que já enfrenta adversidades suficientes no cenário interno com a crise política e a recessão aguda, a Segunda-feira Negra não poderia vir em pior época, pontuam os analistas. “Vejo uma situação complicada para cá. Estamos num processo recessivo aqui e no ano que vem, uma recuperação lenta da indústria e crise de credibilidade. Um momento, de pânico, é um movimento preocupante. Tem muito ativo ainda inflado no exterior”, afirmou Celson Plácido, da XP Investimentos.

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