Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Secas no Sul podem levar a novos aumentos nos preços das carnes

A carne de frango e de porco vão ficar mais caras com o impacto da estiagem sobre os grãos, em especial, o milho, principal matéria-prima das rações

Por Luana Zanobia Atualizado em 18 jan 2022, 17h22 - Publicado em 18 jan 2022, 16h01

Uma forte onda de calor atinge o Sul do país. Os termômetros já chegam a atingir mais de 40 graus, um recorde para a região. As altas temperaturas são efeito do fenômeno La Niña, que vem causando chuvas intensas em algumas regiões e estiagens em outras. O Sul e o Centro-Oeste do país estão sofrendo com a seca causada pelo fenômeno. Mas os prejuízos e efeitos dessa seca não são apenas locais e devem refletir em maiores altas dos preços dos alimentos nos próximos meses.

Os alimentos acumulam alta de 7,94% em doze meses até dezembro, sendo considerado o grupo de maior impacto para o IPCA do mês. O índice já reflete as estiagens que avançaram no país nos últimos meses. A seca foi um evento inesperado e contrariou todas as expectativas dos produtores. Após um 2021 de inflação alta, o mercado esperava um ano de reajuste com um cenário mais estável, em especial pelas projeções positivas de grandes safras de grãos no mercado interno e também dos Estados Unidos neste ano, mas as expectativas foram frustradas.

Segundo a Emater/RS, a estiagem já atingiu os cultivos de cerca de 115 mil produtores de grãos – soja, milho e feijão – e aproximadamente 23,5 mil produtores de leite no estado. Segundo Frederico Kaefer, CEO da Garra International – empresa exportadora de proteínas com presença em 60 países –, o impacto da estiagem representa uma quebra de 30% da produção no Sul do país e uma média de 20% no Brasil, levando a um aumento do custo da proteína animal para as indústrias, especialmente frangos e suínos, em aproximadamente 20%. “Essas proteínas são as mais baratas, mas o preço vai subir porque inevitavelmente a indústria vai repassar os preços”, diz

O preço dessas carnes vai ficar mais caro devido aos prejuízos nas plantações de milho. O milho é a principal matéria-prima das rações para aves e suínos e representa 80% do custo do animal, e a seca chegou em momento de menor produção do grão. A primeira safra (verão) que se inicia em outubro até dezembro é responsável por apenas 30% da produção do milho. Os outros 70% são da segunda safra (safrinha), que ocorre durante a estação do outono até o inverno.

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea – Esalq/USP), os preços do milho atingiram patamares recordes no mercado brasileiro ao longo de 2021. “O impulso veio dos baixos estoques da safra 2019/20 e sobretudo de preocupações com os impactos do clima sobre a semeadura e o desenvolvimento da safra 2020/21”, relata a Análise Conjuntural de dezembro do Cepea. No balanço do segundo semestre de 2021, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu 0,87%, com média do período a 91,95 reais/saca de 60 kg, 40,7% superior à de julho a dezembro de 2020. Apesar de os preços terem recuado entre setembro e novembro, a baixa oferta e o clima seco voltaram a sustentar os preços elevados em dezembro.

Continua após a publicidade

Segundo o secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, Guilherme Bastos, os preços dos alimentos devem ficar mais difíceis de ceder, mas o aumento também vai depender do comportamento do câmbio. Se depender das expectativas do mercado, o câmbio não deve colaborar para a manutenção ou arrefecimento dos preços dos alimentos. A projeção para o dólar é de 5,60 reais, de acordo com o último Boletim Focus, e alguns bancos e casas de análise já falam em um câmbio a 6 reais no fim de 2022. “Embora boa parte do Centro-Oeste esteja com condições favoráveis pelas chuvas – apear de o excesso estar atrapalhando um pouco – as chuvas não vão atenuar ou compensar a quebra registrada na produção do Sul do país”, diz.

A seca no Sul é considerada a pior em 17 anos. O Emater/RS alerta que mais de oito mil localidades e mais de 207 mil propriedades foram atingidas pelos efeitos da estiagem, além de cerca de 10,5 mil famílias com dificuldades ao acesso à água. A estiagem na região já levou a perdas estimadas mais de 60% das lavouras e um prejuízo de 45 bilhões para os principais estados do Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul.

Na soja, os impactos da estiagem sobre a produção variam de 3% a 26,5% no Rio Grande do Sul. No feijão e no milho, as perdas são superiores a 60%, segundo relatório do Emater/RS. As secas também afetam as pastagens, reduzindo a disponibilidade de alimentação para os bovinos de corte e de leite, ovinos e equinos mantidos predominantemente sobre os campos nativos. “O reflexo mais duradouro da estiagem sobre a produção de leite, no entanto, ocorrerá pela menor quantidade de silagem de milho a ser estocada nas propriedades e pelo menor valor nutricional desse alimento, refletindo em maiores gastos para os produtores no decorrer de todo o ano”, avalia a Emater/RS. O impacto da estiagem na produção de leite acarretou na redução de 1,66 milhões de litros por dia e perdas de 58,5% na produção de pastagens cultivadas e de 52,8%e em pastagens nativas.

O café também deve continuar mais caro, ainda refletindo a estiagem nas principais regiões produtoras – Paraná, São Paulo e Minas Gerais, durante 2020 até meados do inverno de 2021. O café foi um dos itens com maior alta registrada no ano passado na cesta de alimento, encerrando o ano com alta acumulada de 50,24% no IPCA. Segundo o pesquisador de café do Cepea, Renato Garcia Ribeiro, a bienalidade negativa – temporada de baixa ou alta produtividade para recuperação da planta – somado às secas, impactaram a lavoura na safra 2021/22 e reduziram a produção. “Apesar de o clima ter melhorado nessas regiões e a temporada 2022/23 ser de bienalidade positiva, a planta não consegue recuperar a produção para a próxima safra”, diz. A queda na produção tem causado problemas de oferta que impulsionam o preço do grão no mercado e, por isso, o preço nas gôndolas dos supermercados de uma das bebidas mais consumidas ainda deve continuar persistente.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.