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Reserva no Maranhão reforça cenário promissor para o gás

Apesar de a expansão da produção ser complexa e custosa, aportes privados e demanda crescente devem garantir a viabilidade do investimento

Por Beatriz Ferrari
18 ago 2010, 18h55

Anúncio de Eike Batista soma-se a outras importantes descobertas dos últimos anos, entre as quais se destaca a da camada pré-sal

A OGX, do grupo de empresas comandado por Eike Batista, anunciou na semana passada ter encontrado grande quantidade de gás em um de seus poços no Maranhão. A descoberta pode representar, segundo o empresário, uma produção média diária de até 15 milhões de metros cúbicos, o equivalente à “metade do que os bolivianos entregam para o país pelo gasoduto Brasil-Bolívia”. Especialistas ouvidos por VEJA.com avaliaram que, apesar de o setor precisar de uma fase de maturação para se viabilizar economicamente, a descoberta reforça um quadro promissor.

Os desafios para elevar a participação do gás na matriz energética brasileira estão relacionados ao ciclo próprio do setor. Em primeiro lugar, é necessário construir toda a infraestrutura de produção e transporte do insumo. Para justificar esse pesado investimento, é preciso que o empresário sinta-se confiante de que haverá consumo para seu produto. A existência ou não desta demanda estimada está diretamente relacionada à capacidade e interesse de os consumidores se adaptarem ao seu uso – as indústrias precisam, por exemplo, realizar diversas modificações em suas plantas. Por fim, para que haja migração efetiva para o gás, a oferta tem de ser constante e consolidada, o que, voltamos ao ponto inicial, esbarra nos investimentos em infraestrutura.

“O gás não é uma matéria-prima tão bem vista hoje no setor industrial por conta dos problemas de oferta que tivemos recentemente”, afirma Auro Rozenbaum, da Bradesco Corretora, referindo-se à queda no fornecimento do insumo proveniente da Bolívia em 2007. O analista de energia afirma ainda que, para que a indústria se adapte ao uso do gás, é preciso haver algum tipo de estímulo. O mesmo ocorre com o uso em veículos e em termelétricas. “Se a indústria hoje for migrar de óleo ou carvão para o gás, ela precisa ter certeza que vai ter a infraestrutura necessária para poder suprir sua demanda”, explica.

Vantagens – Rozenbaum aposta, porém, que existirá sim demanda do parque industrial brasileiro pelo produto porque, em sua avaliação, haverá vários provedores e uma estrutura implantada no médio prazo. “O gás traz enormes vantagens. É menos poluente, mais barato e eficiente”. O governo, acredita o analista, fará um esforço adicional para estimular o uso do insumo. “O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico) pode oferecer condições melhores de financiamento para quem usar gás, a exemplo do que foi feito com o álcool”, afirma.

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Na visão do analista Vladimir Pinto, também da Bradesco Corretora, o atual quadro econômico permite ser otimista. “O país está crescendo. Há novos projetos estruturantes de siderurgia, refinaria e outros que reforçam a demanda”. Ele aponta, inclusive, que, se a economia crescer mais do que se está projetando, a necessidade de mais energia surgirá naturalmente.

Infraestrutura – Já está em desenvolvimento o Plano de Antecipação da Produção de Gás (Plangás), tocado pela Petrobras em parceria com o governo federal, com o objetivo de expandir a produção doméstica do hidrocarboneto. “As empresas que, eventualmente, descobrirem novas reservas construirão uma estrutura básica para conectar sua produção onde já existe gasoduto. Onde não existir, eventualmente se faz a liquefação ou se vende na forma de energia elétrica”, explica Rozenbaum.

Diante desse cenário, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que, nesta década, o petróleo e as hidrelétricas perderão participação enquanto fontes de energia em, respectivamente, 4 pontos porcentuais, para 31%, e 1,3 ponto porcentual, para 12,7%. Já o gás crescerá em 3,5 pontos porcentuais, para 12,2%.

Longo prazo – Na visão do analista da Tendências Consultoria, Walter DeVito, as reservas da OGX, caso se confirmem, reforçam o quadro bastante favorável para o segmento no longo prazo. É que a Petrobras já havia anunciado em 2007 ter identificado reservas de gás natural na camada pré-sal. As estimativas, ainda não totalmente confirmadas, são assombrosas: variam de 800 bilhões de metros cúbicos a 1,3 trilhão de metros cúbicos. Logo, o anúncio de Eike Batista só ratifica a expectativa de abundância do insumo no Brasil para as próximas décadas.

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O economista, inclusive, não descarta a possibilidade de o país passar a exportar o produto no futuro ou até mesmo atrair para o território nacional indústrias que usam o hidrocarboneto como energia ou matéria-prima. “Atualmente, não projetamos demanda capaz de consumir esse volume prontamente, mas, se isso se confirmar, abre uma nova possibilidade de atrair indústrias que normalmente não se instalariam no país”, afirma.

Bolívia – Os analistas acreditam, por fim, que novas reservas não implicarão uma interrupção da importação de gás da Bolívia. “Não acredito que vai se fechar um gasoduto que já existe”, diz Sylvie D’Apote, sócia-diretora da Consultoria Gás Energy. No momento da renegociação do contrato com o país vizinho, que deve ocorrer no fim desta década, o volume de recursos descobertos em território nacional vai certamente balizar o novo acordo. “Também pesará o fator custo para levar o produto até os centros de consumo, entre outras variávies”, acrescenta.

Diante desse cenário, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que, nesta década, o petróleo e as hidroelétricas perderão participação como fontes de energia em, respectivamente, 4 pontos porcentuais, para 31%, e 1,3 ponto porcentual, para 12,7%. Já o gás crescerá em 3,5 pontos porcentuais, para 12,2%.

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