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Rede social mudará mercado de ações, como fez com política, diz ex-BC

Frenesi com ações da GameStop cria nova lógica de investimentos, com efeitos imprevisíveis, defende economista Tony Volpon; politização do tema preocupa

Por Carlos Valim
Atualizado em 29 jan 2021, 20h00 - Publicado em 30 jan 2021, 09h00

Todas as quedas da bolsa de valores desta semana tiveram um único motivo principal. Chame ele de “short squeeze”, de efeito Reddit, de efeito Robinhood, de caso GameStop ou de revolta dos pequenos investidores. Mas a união de um exército de investidores que se organizaram por meio de um fórum do site Reddit para a compra em massa de ações da decadente loja de games GameStop muda todo o jogo, à medida que, não só causou perdas bilionárias para fundos que apostavam na queda desses papeis, como também afetou mercados pelo mundo inteiro. Movimentações com ações de outras empresas logo também começaram a acontecer, envolvendo as da Blackberry, Nokia e AMC. No Brasil, o movimento que mais chamou atenção foi com os papéis da resseguradora IRB, que disparou mais de 15% em um dia.

Os efeitos e as consequências do caso serão sentidos por muito tempo. A opinião é de Tony Volpon, ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central, que deixou, em novembro, o posto de economista-chefe do banco suíço UBS no Brasil. Ele assumiu a função de estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG), uma gestora de fortunas recém-criada por ex-executivos do Credit Suisse em parceria com a XP Investimentos. “Esse assunto é fascinante. Entrou um elefante no elevador e todo mundo precisará se mexer. Os órgãos reguladores e os agentes de mercado tradicionais estão perdidos”, afirma o economista a VEJA. “A brincadeira com a ação em particular da GameStop vai logo acabar, e pode acabar mal. Mas a lógica foi mudada.”

O fato de milhares de pequenos e jovens investidores estarem operando no mercado, de suas casas, com tempo quase que ilimitado, por meio de plataformas de uso simples como a Robinhood, ao mesmo tempo que conversam por meio de mídias sociais, e adotam uma lógica de video games para fazer negócios, promete mudar toda a cara do mercado. E isso não será necessariamente positivo em todos os seus aspectos. Há diversas implicações imprevisíveis, e que os investidores tradicionais terão de passar a levar em consideração quando forem fazer as suas transações. O melhor exemplo vem de outra seara, fortemente impactada e revolucionada nos últimos anos de maneira surpreendente pela internet. “Da mesma maneira que a mídia social tem mudado a natureza do processo politico, começou agora a mudar o mercado financeiro, de maneira inesperada e talvez até complicada”, diz. “Não é tudo bonitinho.”

Num primeiro momento, este fenômeno tem sido visto por meio de uma “dinâmica de moralidade”. A interpretação é a de que se trataria de uma luta dos pequenos investidores, que assumem uma postura até heróica, frente aos grandes fundos de hedge — alguns deles fundos abutre, que levam empresas decadentes à ruína –, numa narrativa de bem contra o mal. Mas as implicações podem ser muitas e ganham caráter ainda mais complexo à medida que essas narrativas emplacam. Para Volpon, o movimento deveria ser encarado de forma técnica. “O assunto está sendo politizado, saindo da orbita técnica e indo para a política”, diz, reiterando que acredita que tanto o órgão americano Securities and Exchange Comission quanto a brasileira Comissão de Valores Mobiliários precisarão intervir. “Quando se vê políticos de espectros opostos da direita e da esquerda americana concordando sobre o assunto é porque existe algo de estranho.”

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Ele se refere ao fato de que a congressista da ala mais à esquerda do Partido Democrata Alexandria Ocasio-Cortez zombou, em suas redes sociais, das reações de investidores de Wall Street que pediram proteção dos órgãos reguladores e criticou o Robinhood por “bloquear investidores de varejo comprarem ações em massa enquanto fundos são livres para negociar da forma que quiserem”. E surpreendentemente recebeu a resposta de “concordo integralmente” do senador republicano Ted Cruz, um dos mais renhidos defensores de Donald Trump em seus últimos e complicados dias na presidência. A troca de mensagens depois degringolou para acusações de que Cruz teria incentivado a tentativa de assassinato de congressistas na invasão do Capitólio, mas este é um outro capítulo da briga política americana. Por sua vez, a senadora Elizabeth Warren acusou no Twitter os fundos de hedge de terem usado o mercado como “seu cassino pessoal” por décadas, merecendo levar o troco agora.

Em meio a tamanho ruído ideológico, os órgão reguladores precisarão avaliar todo o aparato regulatório e tentar entender o que pode ser feito. A princípio, as mudanças estão voltadas a regras de operação dos fundos de hedge, diz Volpon. Afinal, num momento que um governo democrata assume a presidência com o discurso de melhorar a distribuição de renda do país, pegaria muito mal sair criando regras dificultando pequenos e jovens investidores a operarem. Mesmo que alguns deles tenham se tornado milionários da noite para o dia na última semana.

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