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Qualquer que seja a escolha, Grécia não escapa da penúria

Analistas dividem-se sobre as saídas para resolver os problemas gregos, mas são unânimes em apostar num cenário de crise econômica, política e social

Por Beatriz Ferrari
20 set 2011, 07h19

Faltando apenas um ano para se formar em marketing, o grego Giannis Christidis, de 23 anos, já não tem a mesma esperança de achar um emprego como quando entrou na faculdade. Seu drama é compartilhado com milhares de jovens graduandos ou recém-formados do país, que enfrentarão um mercado de trabalho retraído pela recessão que tem tudo para durar anos. Mas Christidis enxerga o atoleiro da Grécia como uma oportunidade. “Dizem que os gregos não são empreendedores e isso é verdade. Os jovens entram na faculdade com a expectativa de trabalhar no setor público, mas essa realidade já não existe. O que temos que fazer agora é dar espaço ao empreendedorismo e ao setor privado, algo que a Grécia deveria ter feito há 20 anos”, critica o estudante, integrante de uma organização estudantil mundial pró-liderança e empreendedorismo, chamada AIESEC. “Precisamos só de tempo”.

Os analistas ouvidos pelo site de VEJA concordam com Christidis. A Grécia, na avaliação deles, precisa mesmo de tempo para reorganizar suas finanças e injetar produtividade em sua economia. Só que esse intervalo não virá sem tensão social, política e financeira. Nesta segunda-feira, as bolsas registraram fortes quedas, influenciadas pela falta de progresso nas discussões que acontecem na Europa sobre o assunto. A declaração do governo grego neste domingo, de que anunciaria mais medidas de austeridade em 2012, não foi suficiente para acalmar o mercado, que teme um calote iminente. O vice-ministro de Finanças, Filippos Sachinidis, havia afirmado na semana passada que o país quebraria em outubro caso não recebesse mais uma parcela (8 bilhões de euros) do empréstimo oficial concedido pela chamada “troica” – Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Central Europeu (BCE) e União Europeia (UE). No fim da semana, autoridades declararam que a decisão sobre essa parcela só virá no mês que vem, acentuando os temores.

Na visão de Wolfgango Piccoli, diretor do Grupo Eurasia, a pressão governamental, somada às medidas de austeridade recentemente anunciadas, como a criação de um novo imposto imobiliário, deverão garantir a liberação dessa parcela de 8 bilhões de euros e jogar o risco do calote mais para frente. “O cenário mais provável no curto prazo é a continuação do que estamos vendo. A Grécia continuaria a receber dinheiro dos fundos e a promover reformas que afetam a economia”, afirma. Esse processo, entretanto, cria um círculo vicioso.

Atoleiro – As medidas de austeridade impostas como condição para os empréstimos têm sufocado o que resta da produtividade grega. O país é quase como uma China às avessas. Com base nos últimos dados do serviço de estatísticas do país, a economia encolheu 7,3% no segundo trimestre, após uma queda 8,1% nos primeiros três meses do ano. A expectativa é que o país registre uma recessão de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Com tantas dificuldades, o governo precisará pavimentar o caminho para receber outras parcelas dos empréstimos, o que implica aprovar novas leis controversas e por em prática medidas já aprovadas – uma mistura econômica e socialmente explosiva.

Ao cenário já sombrio, somam-se as pressões políticas, tanto dentro quanto fora da Grécia. “No curto prazo, os esforços recentes vão garantir que o governo do primeiro ministro George Papandreou não entre em colapso, mas o risco de um acidente, conforme se aproximam as eleições, não pode ser subestimado”, explica Piccoli. Segundo o analista, a proximidade do pleito aumentaria as incertezas e a inércia da classe política local, minando a vontade dos credores internacionais de continuar provendo liquidez à Atenas, o que poderia levar a um calote repentino e desordenado.

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Escolhas difíceis – Permanecer nessa situação é muito ruim. Os especialistas alertam que a Grécia pode passar anos no atoleiro, sem conseguir restaurar sua competitividade ou reduzir significativamente sua dívida pública. Por outro lado, sair da união monetária e dar o calote, mesmo que ordenado, pode ser traumático no curto prazo. “Se a Grécia sair, todo suporte financeiro da União Europeia e do BCE seria retirado; os gregos tirariam suas poupanças dos bancos, com medo do pior; a nova moeda teria uma desvalorização imensa e a dívida que o país já tem em euro ficaria muito maior. O sistema financeiro, por fim, implodiria”, prevê o analista John Bowler, da Economist Intelligence Unit (EIU).

A escolha por deixar a zona do euro e restaurar o dracma (a moeda grega) não virá sem custos, mas, na opinião de Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York, o trauma seria seguido por uma restauração da competitividade, do crescimento e da sustentabilidade da dívida. O economista, em artigo publicado no jornal britânico Financial Times nesta segunda-feira, citou as experiências da Argentina e da Islândia para fundamentar seus argumentos. “Como nesses casos, os efeitos colaterais de uma saída serão significativos para a Grécia, mas podem ser contidos. A saída ordenada do euro será difícil. Mas assistir à lenta e desordenada implosão da economia e sociedade gregas será pior”, defende.

Enquanto a Grécia não dá sinais de que apelará para essa saída traumática e polêmica, a tarefa mais urgente da Europa, segundo o economista Barry Eighgreen, professor da Universidade da Califórnia, é criar um espaço de respiro para o país, conforme escreveu em artigo publicado recentemente. “O governo continua a passar longe de seus alvos fiscais, muito mais em função da desaceleração global do que por seus próprios erros”, avalia. “Os credores poderiam concordar em relaxar os alvos fiscais da Grécia e aqueles que pedem um Plano Marshall para o país deveriam colocar seu dinheiro para trabalhar”, completa.

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