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Qual o problema da energia mais cara?, pergunta Guedes. Resposta: diversos

Declaração do chefe da Economia ignora uma das principais causas para a queda de popularidade do governo Bolsonaro, a inflação

Por Victor Irajá, Felipe Mendes Atualizado em 26 ago 2021, 18h34 - Publicado em 26 ago 2021, 15h05

Em meio à deterioração da situação dos reservatórios e ao agravamento da crise hídrica, chamou a atenção a mais recente escorregada retórica do ministro da Economia, Paulo Guedes. “Qual o problema agora que a energia vai ficar um pouco mais cara porque choveu menos?”, indagou durante lançamento da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, nesta quarta-feira 25. São alguns, ministro. Apesar de eloquente, Guedes demonstrou dificuldades em reconhecer o óbvio. A falta de chuvas é um problema sério, que vai além da questão ambiental, e a inflação sobre as contas de luz acaba sendo uma das mais sentidas pela população, direta ou indiretamente. Não só afeta no pagamento dos boletos de luz, mas impacta também nos custos de produção das empresas e isso estimula a inflação de produtos e serviços.

Em agosto, a tarifa de energia ficou 5% maior em relação ao mês anterior, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE. “Existem vários problemas nesta fala. É de uma insensibilidade política e social típica deste governo. Lógico que o preço da energia importa e tem pressionado a inflação, o que afeta a população de baixa renda, criando vários problemas de orçamento familiar”, afirma Elena Landau, ex-diretora da área de privatizações do BNDES. “Está mais do que prevista a crise hídrica. O governo deveria ter começado a atuar com políticas sobre demanda, que estimulassem a redução do consumo, há muito tempo. Eles estão, agora, fingindo que a culpa é de São Pedro.”

Para o defensor das ideias liberais e ex-candidato à Presidência, João Amoêdo, a economia, sob a condução de Guedes, passou a ser pautada pelo ‘negacionismo’. “É uma afirmação que não faz o menor sentido. Vimos um negacionismo pautar a saúde na pandemia e, agora, estamos vendo um negacionismo na economia por parte do ministro”, disse. “Guedes, em vez de cumprir a função dele, que seria a de preservar a economia e criar um ambiente propício para a geração de emprego, está embarcando no mesmo discurso negacionista do presidente. Aquela ideia de que nós teríamos alguém técnico no Ministério da Economia já deixou de existir há muito tempo. Com prioridades erradas e sem aceitar o problema, a gente fica muito longe das soluções, infelizmente”.

O fato é que o governo empurra o problema para debaixo do tapete deixando de lado a busca por soluções. O receio, claro, é chamar a crise de crise e assustar (ainda mais) a população brasileira. Para além do bolso da população, o governo, que se empenha para viabilizar a reeleição do presidente Jair Bolsonaro, deveria admitir o problema da inflação, para melhor enfrentá-la, já que ela também corrói popularidade.

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De forma oposta a isso, o governo tem se desvencilhado da necessidade iminente de se fazer uma campanha de conscientização e alertar para os riscos de um racionamento energético, algo que já é amplamente cogitado por economistas dos principais bancos do país. Para discutir o tema sem levantar grandes alaridos, o governo instituiu, por meio de medida provisória, a Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética, ou Creg. A ideia é definir as diretrizes para o enfrentamento do problema. Para isso, a Creg conta com representantes dos ministérios de Minas e Energia; Economia; Infraestrutura; Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional.

A explicação para o aumento de preços de energia é clara. “A natureza tem surpreendido as próprias previsões e temos incertezas com as previsões a partir de outubro. Pelo o que vem acontecendo, não dá para erar algo muito positivo. A gente não precificou de maneira correta a água e gastamos mais do que deveríamos em momentos de abundância”, diz o economista Alexandre Manoel, ex-secretário do Ministério da Economia. “A maneira mais fácil de solucionar os preços é via mercado e deve haver aumento de custos mesmo, como forma de desestimular o consumo excedente”. Em seu “deserto de ideias”, o presidente Jair Bolsonaro chegou a sugerir até reza para São Pedro, mas negar o problema não vai fazer ele desaparecer. A inflação vem sendo, junto à pandemia, claro, o calcanhar de Aquiles do governo e apertando as contas da população. Depois de atingir o pico de 8,99% em julho, o mercado financeiro projeta que o Índice Geral de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará o ano em 7,11%.

Enquanto o ministro falava dos preços da energia, o presidente preferiu tratar da inflação de alimentos. “Estamos vendo a inflação, sim, na casa dos 7%. Lógico que os alimentos estão muito acima disso, isso é preocupante. Se bem que a inflação no tocante aos alimentos veio para o mundo todo, o mundo todo está sofrendo”, afirmou Bolsonaro, que aproveitou mais uma vez para passar a responsabilidade. “Não consigo resolver sozinho, passa pelos governadores”. Não é bem assim. Como mostrou reportagem de VEJA, o controle inflacionário está muito mais nas mãos do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, do que no Ministério da Economia ou do que a outros entes da federação. Para segurar a inflação, o BC deve continuar subindo juros, às custas ao crescimento econômico. Existe um problema global, que é prejudicado por má gestão dos recursos naturais brasileiros, por instabilidades políticas que elevam a cotação do dólar e aumentam os custos de importação e produção. Ou seja, a responsabilidade também é governamental, e ela precisa ser admitida para ser tratada. 

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