Pragmático, mas que tenta agradar a todos: quem é Gabriel Galípolo
Indicado para presidência do Banco Central é "heterodoxo moderado" e reúne experiências muito diferentes entre si
Gabriel Galípolo, o indicado pelo governo Lula para ocupar a presidência do Banco Central no lugar de Roberto Campos Neto, é uma pessoa pragmática, de perfil “heterodoxo moderado” e que tenta cultivar o bom trânsito entre diferentes interlocutores, com diferentes pensamentos políticos. Quem conviveu com ele durante parte de sua vida reconhece o seu estilo estudioso e capaz de trabalhar bem sob pressão — uma característica essencial para o desafio de comandar um dos mais importantes órgãos do país.
“Ele é eclético e versátil, com habilidade de comunicação e trânsito muito impressionante. Não tem como colocar numa caixa”, afirma Igor Rocha, economista-chefe da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e amigo pessoal de Galípolo há quinze anos. Eles se conheceram na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), onde Galípolo estudou, fez mestrado e foi professor. “Ele é pragmático e tem enorme inteligência emocional. Nessa renovação que acontece de tempos em tempos no Banco Central, é importante que haja pessoas assim”, completa Rocha.
Para participantes do mercado financeiro que acompanham de perto a trajetória de Galípolo, porém, algumas coisas chamam atenção. Uma delas é a tentativa de agradar “a gregos e troianos”, o que leva o hoje diretor do BC a uma posição menos favorável quando o assunto é dar a palavra final na política monetária — papel que ele terá que desempenhar uma vez confirmada a sua indicação para o BC.
“Em um episódio recente, ele deu declarações públicas sendo mais hawkish (inclinado a alta de juros) do que a ata do Copom (Comitê de Política Monetária), do que o comunicado do Copom e até do que Campos Neto. Depois, ele voltou atrás. Será que veremos isso se repetir? Isso tem efeito para os mercados, que é levar investidores a exigir maior prêmio de risco”, afirma um gestor de um grande fundo multimercado que pede para não ser identificado.
A carreira da Galípolo passa por uma diversidade de experiências pouco correlacionadas. Foi chefe de assessoria econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos de SP em 2007, professor da Faculdade de Economia da PUC-SP de 2006 a 2012, diretor da Unidade de Estruturação de Projetos da Secretaria de Economia e Planejamento de SP em 2008 e presidente do banco Fator de 2017 a 2021. Em 2023, antes da indicação de Lula para que ocupasse a diretoria de política monetária do BC, era secretário-executivo do Ministério da Fazenda, momento a partir do qual começou a se aproximar do Partido dos Trabalhadores (PT).
Entre os amigos, é citado como profissional versátil, pela trajetória profissional, devido às experiências na iniciativa pública e no setor privado. Entre os críticos, há dúvidas sobre qual é de fato a sua carreira e capacidade técnica, dada a experiência breve em postos tão diferentes entre si.