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Por que o mundo teme a saída da Grécia do euro

Mais instabilidade nos mercados, prejuízos com títulos, dólar em alta e temor de contaminação generalizada estão nas previsões de economistas

Por Naiara Infante Bertão
23 Maio 2012, 17h18

A decisão que pode ser tomada até o fim de junho implicará não apenas o fim da ajuda financeira da União Europeia (UE), mas terá efeitos catastróficos sobre a zona do euro

Muita incerteza e tensão. Esse será o cenário que o mundo viverá se a Grécia deixar a zona do euro, alertam economistas ouvidos pelo site de VEJA. Nesta quarta-feira, agências de notícias internacionais apontaram que os líderes do Eurogrupo concordaram num pacto para que cada nação da união monetária prepare um plano de contingência ante a saída iminente dos gregos do bloco. A informação foi negada por Atenas, mas, de qualquer forma, dá o tom de nervosismo que toma conta das finanças internacionais.

A possível derrocada da Grécia seria reflexo, dizem os especialistas, de uma eventual falha em resolver no curto prazo o impasse político que se instalou em Atenas. O cenário não é nada improvável tendo em vista o crescimento nas pesquisas para o pleito de 17 de junho de líderes de esquerda, que são contrários ao rigor das medidas de austeridade fiscal impostas por outras economias da eurozona, sobretudo a Alemanha. A questão preocupante não é apenas se a Grécia terá condições de pagar ou não suas dívidas.

A decisão que pode ser tomada até o fim de junho – a depender do resultado das eleições – implicará não apenas o fim da ajuda financeira da União Europeia (UE), mas, sobretudo, terá efeitos catastróficos sobre a zona do euro (veja quadro). Terá o poder ainda de ditar o humor dos mercados internacionais e definir se o mundo caminha novamente para uma segunda grande recessão, após a crise que se sucedeu ao estouro da bolha imobiliária americana em 2008.

Desde 6 de maio, os partidos contrários ao expressivo corte de gastos públicos no país conquistaram mais lugares no Parlamento. As urnas escancararam o descontentamento da população grega – que sofre com anos seguidos de caos econômico – com a política vigente. Seis anos atrás, a Grécia já mostrava uma dívida acima do seu Produto Interno Bruto (PIB), da ordem de 106,1%.

Com o passar do tempo e as complicações políticas iniciadas com a crise de 2008, o déficit público piorou até atingir 165,3% no fim de 2011. A dívida pública grega ultrapassa hoje 350 bilhões de euros.

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Para socorrer o país problemático, o trio formado pelo Banco Central Europeu (BCE), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e a União Europeia (UE) – chamado de “troika” – costurou vários empréstimos. Em março, a UE aprovou a liberação da primeira parcela do segundo pacote de resgate da Grécia, de 130 bilhões de euros, para que Atenas reduza seu déficit para 117% até 2014.

Em troca, foram impostas condições, entre elas corte de gastos do governo e reformas estruturais. O rigor das medidas teve forte efeito deletério sobre uma economia já combalida. O resultado foi uma taxa de desemprego de 20,7% e uma queda de 6,2% do PIB no primeiro trimestre. Cabe lembrar que, no ano anterior, a “troika” já havia liberado 110 bilhões de euros.

Agravando ainda mais a já difícil situação, os partidos políticos gregos não chegaram a um acordo sobre planos para a economia e o mundo reage negativamente ao temor de calote. Dezessete de junho será o último capítulo da novela que revelará o destino da Grécia, da zona do euro e do mercado mundial.

Divisor de águas – Segundo o analista político da Tendências Consultoria, Rafael Cortez, as pesquisas gregas apontam que o partido de extrema esquerda Syriza é o favorito para ganhar as eleições, depois de ter ficado em segundo lugar no pleito passado. A vitória do Syriza, que é comandado pelo socialista Alexis Tsipras, implicaria o agravamento deste cenário.

A razão é simples: o partido é contra as medidas de austeridade fiscal. “Na Grécia, o partido que ganha mais cadeiras tenta formar um governo de maioria; se não conseguir, o segundo mais votado recebe a missão e assim por diante”, explica Cortez. Ele diz que o boicote da dívida não significa necessariamente o adeus da Grécia ao bloco, uma vez que a UE pode tentar comprar a dívida grega, assim como os Estados Unidos fez, em 2008, com seu próprio sistema financeiro.

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“Se a Grécia não acordar com as medidas europeias, o calote é o mais provável dos cenários”, diz o professor de economia internacional da Universidade de São Paulo (USP), Simão Davi Silber, que chama a Grécia atual de “mula sem cabeça” por suas dificuldades em ter uma liderança firme. Para ele, o calote poderia levar a Grécia a sair da zona do euro, uma vez que as próprias autoridades europeias alertam que ela precisará seguir conforme os planos iniciais para ficar no bloco.

A diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, reconheceu na semana passada que a saída da a Grécia da zona do euro é uma possibilidade arriscada. “Seria uma situação extremamente custosa e com grandes riscos, mas que somos obrigados a analisar de um ponto de vista técnico”.

Na última sexta-feira, o comissário europeu de Comércio, Karel De Gucht, em entrevista publicada no jornal belga De Standaard, disse que a própria Comissão Europeia e o BCE já simulam o que aconteceria se a Grécia deixasse o euro. Hoje, um grupo de trabalho do Eurogrupo sugeriu que cada país formatasse um plano de contingência para se precaver das conseqüências deste fato.

O que vai acontecer ninguém sabe, mas se a Grécia sair – ou “for saída” – da eurozona o cenário seguinte seria resumido por uma palavra: caos.

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