Por que Guido Mantega acha que faz sentido o BC não cortar juros agora
Para ex-ministro, Selic a 15% é "absurdo', mas nova taxação dos dividendos pode piorar remessas de dólares para o exterior no fim do ano
O ex-ministro da Fazenda de Lula e de Dilma Rousseff, Guido Mantega, não poupa críticas ao nível atual dos juros, a que chama de “absurdo”, além de avaliar que já haveria estofo para que eles pudessem estar caindo. Ainda assim, se junta à ampla maioria do mercado financeiro ao avaliar que o Banco Central não deve começar a cortar a taxa Selic antes de janeiro – sinalização dada pela própria diretoria do BC no comunicado conservador que divulgou na última quarta-feira, 5, logo após decidir manter mais uma vez a taxa de juros de referência nos atuais 15%.
Por conta disso, o economista ligado ao PT defende que, quando começar os cortes, em janeiro, o Comitê de Política Monetária do BC deveria faze-los de maneira mais rápida do que os analistas de mercado têm avaliado. “Para compensar esse atraso na redução dessa Selic absurda, o BC deveria começar a redução com 0,5% ao invés de 0,25%”, escreveu Mantega em um breve comentário sobre a decisão do colegiado da semana passada, em uma mensagem compartilhada com colegas economistas e a que VEJA teve acesso.
Taxação dos dividendos e fuga de dólares
A principal razão apontada por ele para justificar a resistência adicional do BC em cortar os juros mesmo quando vários indicadores, em sua visão, já trazem alívio, está ligada à recente aprovação da lei que isenta de imposto do renda as pessoas que ganham até 5.000 reais e aumenta a tributação dos mais ricos. Mantega pondera que as novas regras podem causar alguma fuga de dólar atípica neste fim de ano, já que, entre as mudanças promovidas, está a introdução de uma taxação de 10% sobre uma parte dos dividendos, hoje isentos, incluindo todos os dividendos distribuídos para estrangeiros. O novo imposto vai começar a ser cobrado de todos os dividendos que forem contabilizados a partir de 2026, embora aqueles que tenham sido apurados e aprovados ainda em 2025 tenham recebido uma anuência para ser pagos até 2028 sem a adição do novo imposto.
“Apesar da redução do juro do Fed e do fluxo de capitais altamente positivo até outubro, o BC esta preocupado com o forte aumento das remessas de lucros e dividendos que costuma ocorrer no final do ano (vide o que aconteceu no ano passado)”, escreveu Mantega. “Está preocupado, sobretudo, com o impacto da taxação em 10% sobre as remessas de lucros e dividendos dos não residentes, aprovada na desoneração do IR para a renda até R$ 5 mil. Com esse cenário acredito que o inicio da redução da Selic devera começar em janeiro.”
O Federal Reserve, ou Fed, é o banco central norte-americano, e, depois de quase um ano de adiamentos, ele voltou a cortar os juros do país em setembro. Isso dá um respiro para que outros países, que concorrem com os títulos norte-americanos pelo dinheiro global, também possam cortar as suas próprias taxas. Esta é, inclusive, um das razões que têm, de fato, colaborado para fluir investimentos para fora dos Estados Unidos e fazer com que o dólar caia no Brasil e também no resto do mundo – o que tira pressões da inflação e, por conseguinte, também dos juros.
Além da ajuda do câmbio, o ex-ministro também cita a desaceleração paulatina tanto da inflação quanto da economia. “De fato, o comunicado do BC fez uma pequena inflexão, reconhecendo o recuo da inflação e a desaceleração das atividades, mas não o suficiente para justificar o início do ciclo de redução da Selic em dezembro”, afirmou. O Comitê de Política Monetária do Banco Central é o corpo que reúne os oito diretores e o presidente da autarquia, chefiada hoje por Gabriel Galípolo, o escolhido de Lula para o cargo. Eles se reúnem a cada 45 dias para decidir os rumos da taxa Selic, cumprindo seu mandato de manter a inflação, hoje em 4,9%, na meta de 3%.
Aposentado da vida pública
Mantega trabalhou ao lado de Lula desde os primórdios do PT, tendo integrado sua equipe econômica em todas as tentativas à Presidência desde a primeira, em 1989. Em seus primeiros mandatos, foi ministro do Planejamento, presidente do BNDES e, por fim, ministro da Fazenda, cargo em que ficou por oito anos, de 2006, ainda com Lula, até o fim de 2014, já com Dilma. Já no retorno de Lula à Presidência em 2023, o petista chegou a tentar emplacar indicações de Mantega à presidência da Vale e também a uma cadeira no conselho da Eletrobras, duas manobras que, além de terem causado arrepios no mercado, acabaram não vingando.
Em entrevista às Páginas Amarelas de VEJA no início deste ano, Mantega, que hoje trabalha como consultor no setor privado, afirmou que não tem planos de voltar à administração pública. “Trabalhar no governo me trouxe muita dor de cabeça”, contou. Na conversa, o ex-ministro também defendeu a sua condução da economia durante o polêmico governo de Dilma Rousseff – “quando eu era ministro, a dívida pública caiu” -, destacou os esforços do atual governo Lula em controlar a situação fiscal e também criticou os juros altos, que, naquele momento, ainda estavam subindo. “É óbvio que há um excesso de juros no Brasil”, disse.
PF deu de cara com filho de Lula ao cumprir mandado contra ex-nora do presidente
PF mira corrupção em ministério do PT e esbarra em ex-sócio de Lulinha e ex-nora de Lula
Inmet emite alerta laranja para tempestades em SP e outros três estados nesta quinta, 13
Filha de Faustão, Lara Silva atualiza estado de saúde do pai
O que a nova decisão de Moraes sinaliza sobre possível prisão de Bolsonaro







