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Por que as bolsas caem quando Trump sobe nas pesquisas?

Se ações de empresas murcham quando Trump parece ganhar terreno, não é porque os investidores são eleitores democratas: é porque eles "abominam incertezas"

Por Patrick Cruz 1 nov 2016, 20h34

Desde a última sexta-feira, dois episódios deram novas cores à disputa pela Presidência dos Estados Unidos. O primeiro, na própria sexta, foi a reabertura da investigação sobre o uso de um servidor de e-mail privado pela candidata democrata Hillary Clinton enquanto ela era secretária de Estado, entre os anos de 2009 e 2013. O segundo, nesta terça, foi a notícia de que o candidato republicano Donald Trump superou Hillary em uma pesquisa eleitoral – em apenas um ponto porcentual, é verdade, mas isso não diminui o impacto do feito, que não ocorria desde maio. Ambas as notícias foram favoráveis a Trump. Nos dois casos, os mercados financeiros reagiram de maneira negativa, com quedas das bolsas e alta do dólar mundo afora.

Afinal, por que as bolsas caem quando Trump sobe? Nesta terça, a Bovespa fechou em forte baixa, de 2,46%, a 63.326 pontos, e o dólar subiu 1,60%, para 3,24 reais. Na Bolsa de Nova York, o índice Dow Jones fechou o dia em baixa de 0,58%. Não, não se trata de preferência partidária. Quem aplica nos mercados de câmbio, de ações e de commodities não é necessariamente eleitor democrata. Investidores professam a fé de um só partido, o do dinheiro, e submetê-lo a um cenário de pouca clareza do que está por vir é o que realmente os amedronta. Na eleição americana de 2016, Hillary personifica a estabilidade – para os investidores, ao menos -, e Trump, a incerteza. Goste-se ou não, eis o fato: sem paixões, mas com uma tremenda dose de subjetividade, os termos estabilidade e incerteza são os carimbos dados pelos agentes do mercado financeiro a cada um dos candidatos.

Não importa aos investidores que Trump tenha sido acusado repetidas vezes nos últimos meses de assédio sexual ou que ele tenha deixado de pagar Imposto de Renda por 18 anos. Essas são informações cruciais sobre o homem que pretende comandar a maior potência do planeta, mas fazem diferença apenas para o eleitor médio. Elas servem também para alimentar a guerra de palavras entre os comitês de campanha e para adicionar pimenta nos debates de TV. O que os homens e mulheres de Wall Street e de outros centros financeiros mundo afora querem é enxergar o futuro. Com Trump, isso eles ainda não conseguiram.

Uma evidência: em agosto, o candidato republicano decidiu, de última hora, viajar para o México. Uma viagem de tamanha importância feita ao sabor do voluntarismo de Trump não soou bem para quem aplica e administra fortunas na bolsa. “Trump já provou que tem uma sacola de surpresas, e, para nós, essa viagem ao México é mais um exemplo” disse na ocasião à Bloomberg TV Stephen Gallagher, chefe de pesquisas do banco francês Société Générale nas Américas. O fato de uma viagem como aquela ter dado calafrios em muitos investidores foi o “fator incerteza”, afirmou Gallagher. “Nós não conhecemos as políticas de Trump com algum nível de segurança – e os mercados abominam a incerteza.”

Já há até cálculos sobre o estrago que o “fator Trump” poderá causar. Em caso de eleição do republicano, as ações negociadas nas bolsas americanas tendem a perder de 10% a 12% de seu valor, segundo cálculo apresentado no fim de setembro em artigo publicado no jornal The New York Times e assinado pelo economista Justin Wolfers, professor da Universidade de Michigan. “Wall Street tem medo de uma presidência Trump”, escreveu Wolfers, sem rodeios.

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Não que uma eventual vitória do republicano venha a ser a única vilã para os mercados no próximo ano. O financista Yale Hirsch criou a chamada Teoria do Ciclo da Eleição Presidencial. Segundo essa tese, o primeiro ano de uma nova administração costuma ser mais negativo para os mercados que o anterior – seja qual for o vencedor, democrata ou republicano. O segundo ano, ainda de acordo com a teoria, já é melhor que o primeiro, e o terceiro, o melhor de todos. No quarto ano, quando ocorre uma nova eleição presidencial, o ciclo recomeça.

Se Trump vencer, e se a teoria se confirmar, ao menos ele tem esse salvo-conduto para redimi-lo.

 

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