
RIO DE JANEIRO/BRASÍLIA, 6 Mar (Reuters) – O baixo desempenho da economia brasileira em 2011, com crescimento de 2,7 por cento, acendeu a luz amarela dentro do governo -que já acena com mais medidas para estimular a atividade, sobretudo na indústria- e no próprio setor produtivo, que ainda teme a concorrência externa.
“O setor industrial ainda patina e isso decorre do aumento da importação. O PIB (Produto Interno Bruto) deve crescer em 3,5 por cento… mas o governo brasileiro tem que continuar a tomar medidas para incentivar a indústria nacional”, afirmou o diretor de economia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Antônio Corrêa de Lacerda, fazendo coro com outros representantes do setor produtivo.
“O desafio não é apenas crescer o consumo, mas crescer o investimento produtivo e a produção”, acrescentou.
O PIB brasileiro cresceu 0,3 por cento no quarto trimestre de 2011 em comparação com o terceiro, depois de encolher 0,1 por cento entre julho e setembro passado sobre o segundo trimestre, informou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, a expansão acumulada no ano ficou em 2,7 por cento, muito menor do que os 7,50 por cento vistos em 2010.
O desempenho indica que a atividade econômica começou a melhorar no fim do ano passado, apesar de o setor industrial continuar patinando bastante. No ano passado, essa atividade cresceu apenas 1,6 por cento, comparado com uma expansão de 2,7 por cento dos serviços e de 3,9 por cento da agropecuária.
MAIS ESTÍMULOS
Diante desse cenário, o governo já se armou para mostrar que não ficará parado e deixou claro que adotará mais medidas para estimular o crescimento, sobretudo a indústria. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que, entre elas, novas ações para a impedir a sobrevalorização do câmbio.
“O setor industrial precisa de alguns estímulos que serão dados”, afirmou Mantega. “As medidas não estão prontas, faremos ao longo do ano para estimular o investimento e o setor industrial”, afirmou o ministro ao comentar o resultado do PIB de 2011, acrescentando que a economia brasileira crescerá de forma gradativa, atingindo seu ápice no quarto trimestre, quando estará registrando crescimento anualizado de 5 por cento.
O ministro argumentou que o cenário externo foi o grande vilão da economia e, para este ano, continuará atento já que a atividade mundial continuará apresentando um desempenho tímido. Até mesmo a China já anunciou uma meta de crescimento menor.
Para Mantega, a desaceleração da economia chinesa pode resultar em desvalorização nos preços das commodities agrícolas e minerais. “Se se confirmar uma desaceleração mundial e da China poderemos ter deflação no preço das commodites”, afirmou.
Para 2012, a previsão oficial do governo é de um crescimento de 4,5 por cento, mas o BC é mais comedido e aponta apenas 3,5 por cento.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, também avalia que o a economia vai intensificar o seu ritmo de crescimento ao longo do ano, mas que será “compatível com o equilíbrio interno e externo e consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012.”
A meta oficial de inflação é de 4,5 por cento ao ano pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com tolerância de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
MENOS JUROS
Com o resultado, os agentes econômicos continuam esperando mais cortes na Selic -hoje em 10,50 por cento ao ano- daqui para frente, o primeiro deles na reunião desta quarta-feira, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne novamente.
A expectativa é de um corte de 0,50 ponto percentual, mas há algumas apostas em 0,75 ponto. Desde agosto passado, a autoridade monetária vem reduzindo a taxa básica de juros, movimento que já somou 2 pontos percentuais.
“O resultado ficou bem aquém no acumulado do ano do que esperava o governo (em torno de 3 por cento). Mas se o governo errou na previsão, fica claro que o Banco Central acertou o movimento de corte de juros”, afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito.
O recuo do crescimento em 2011 veio também pelo esforço do governo entre o final de 2010 até meados de 2011 para esfriar a economia, que estava aquecida e pressionava a inflação. Em dezembro de 2010, o governo anunciou medidas macroprudenciais que desestimularam o consumo e em janeiro do ano passado começou um processo de elevação da Selic que somou 1,75 ponto percentual e a levou a 12,50 por cento ao ano em julho.
Com a piora do cenário externo, o governo fez uma volta de 180 graus e passou a estimular a economia novamente voltando a reduzir o juro básico da economia, entre outras medidas.
Para políticos, a decisão de esfriar a economia no início de 2011 poderia ter sido menos forte.
“Houve um efeito psicológico negativo quando no início do ano (de 2011) o governo começou a fazer cortes e segurar investimentos. Foi uma jogada errada, que espalhou pelo país uma onda negativa, um efeito manada. Todo mundo começou a se retrair”, avaliou o presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO).
“Se este ano continuar no ritmo do ano passado, (o PIB) pode frustrar novamente. A partir de agora vamos ter que dar uma acelerada”, acrescentou ele.
(Reportagem adicional de Tiago Pariz e Ana Flor, em Brasília)