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Petrobras: Castello Branco diz que repasses continuam até sua saída

'Ninguém fica sentado em casa aumentando preço, é fruto de trabalho de equipe', disse em conferência a acionistas; gestão atual termina em 20 de março

Por Josette Goulart Atualizado em 26 fev 2021, 08h45 - Publicado em 25 fev 2021, 12h24

Roberto Castello Branco, 76 anos, foi demitido por Jair Bolsonaro do posto de presidente da Petrobras. Mas foi para sua última conferência de resultados com analistas como alguém que está em home office, usando uma camiseta onde se lia “Mind the gap”, cuidado com o vão, na tradução livre. O slogan — o mesmo utilizado no metrô de Londres para instruir as pessoas a tomarem cuidado entre o vão entre o trem e a plataforma — é o nome do plano estratégico da Petrobras, mas também foi uma clara provocação a Bolsonaro. O ainda presidente da estatal não mencionou o nome do presidente da República, mas nem precisou. A estatal vai distribuir 10 bilhões de reais em dividendos e ajudar o governo a fechar as contas.

Os analistas ajudaram com palavras super elogiosas ao trabalho feito por Castello Branco e sua diretoria. Do alto de seus cabelos bancos, o executivo deu também seus recados em palavras e o principal deles foi o de que vai continuar seguindo a política de paridade nos preços de importação do petróleo até o fim do seu mandato, no dia 20 de março. Ou seja, se o petróleo continuar subindo no mercado internacional, os preços dos combustíveis vão aumentar também aqui no Brasil. Até agora, neste ano, já subiram quase 30% em 4 diferentes reajustes na gasolina e três do etanol.

Bolsonaro, no processo de fritura de Castello Branco e de interferência na empresa, chegou a botar dúvidas sobre a integridade e a transparência da Petrobras na questão do repasse de preços dos combustíveis, depois do anúncio do último reajuste, de cerca de 15%, que fez subir a pressão dos caminheiros, uma das principais bases de Bolsonaro, para cima do governo. As falas do chefe de estado levaram o conselho de administração da Petrobras a decidir fazer um questionamento oficial ao presidente sobre o que exatamente ele quis dizer ao botar dúvidas sobre a transparência da política de preços da petroleira. Castello Branco disse hoje que a empresa foi acusada injustamente de falta de transparência por não revelar um item de sua política comercial. “Nenhuma empresa privada revela sua política comercial publicamente porque os principais interessados são os concorrentes”, disse ele. “Nenhuma empresa divulga fórmula de ajuste de preços.”

Mas a provocação ao presidente da República veio mesmo na sequência. “Ninguém fica sentado em casa aumentando preço. É fruto de trabalho de equipe”, numa clara referência às críticas de Bolsonaro, que chegou a questionar a atuação de Castello Branco devido ao home office que adotado, por ser do grupo de risco.

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Perguntado sobre como a empresa determina os preços, Castello Branco disse que uma grande equipe se reúne e analisa dados não só de cotações, mas da concorrência. A definição de preço é validada por dois diretores da empresa e, se há alguma divergência, o presidente da Petrobras em última instância determina o reajuste. Essa é uma grande preocupação do mercado em torno do nome indicado por Bolsonaro, o general Joaquim Silva e Luna, que hoje comanda Itaipu. Como os preços são definidos pela diretoria, há um temor que ele possa não seguir as regras de paridade.

Castello Branco garantiu que nem ele, nem ninguém da diretoria, vai deixar o cargo antes do fim do mandato e que vai fazer a transição da forma mais suave possível para o bem da empresa. A Petrobras deve marcar uma assembleia para a escolha de novos membros do conselho de administração, como pediu Bolsonaro, e só a partir daí poderá ser feita a aprovação do novo presidente. O indicado de Bolsonaro precisa ainda ser eleito membro do conselho por assembleia de acionistas e depois este órgão precisa aprovar seu nome como presidente-executivo da estatal. O conselho pode recusar uma indicação se entender, de acordo com a lei das estatais, que o indicado pelo governo não atende a algum dos pré-requisitos técnicos para o cargo.

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O embate de Bolsonaro com a Petrobras, e a forma como anunciou a saída de Castello Branco e a sua substituição por Luna, levou as ações da empresa a despencarem na segunda-feira mais de 21%. Apesar de ter subido nos dias seguintes, elas não recuperaram o valor anterior, com o temor dos investidores de como a nova administração deve tratar a questão da paridade dos preços.

A Petrobras informou que, no ano passado, essa mesma política de paridade com preços internacionais resultou numa queda durante o ano de 4% no preço da gasolina nas refinarias e de 13% do óleo diesel. Isso aconteceu porque a empresa segue as cotações internacionais para cima ou para baixo. Como o preço do petróleo despencou no primeiro semestre do ano passado, o reflexo foi uma queda também dos combustíveis. A petroleira terminou um ano com um lucro líquido de 7 bilhões de reais, uma queda de mais de 80% em relação ao ano anterior, em boa parte por conta justamente da queda dos preços do petróleo no mercado internacional. Desde o segundo semestre, os preços do petróleo vêm subindo e a trajetória continua agora em 2021. Mesmo com esse resultado, a empresa vai distribuir mais de 10 bilhões de reais em dividendos e boa parte vai para ao caixa do governo, que é o principal acionista da companhia. 

Em outra resposta indireta a críticas de Bolsonaro, o presidente demitido Castello Branco também fez questão de frisar que a Petrobras faz um amplo trabalho social com educação infantil preparando as crianças para o futuro digital e também com trabalhos no meio ambiente. “Não se atende aos melhores interesses da sociedade subsidiando preços de combustíveis. Optamos por investir em projetos que têm alta taxa de retorno social, seja na educação infantil, no meio ambiente, seja no combate à Covid.” Bolsonaro está preocupado com os caminhoneiros, que ameaçam greves em todo o país por conta dos preços dos combustíveis.

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O presidente da Petrobras também exaltou o ganho de produtividade com home office desde o início da pandemia.  Ontem, na posse de novos ministros, Bolsonaro disse que substitui Castello Branco porque ele já está velho. Castello Branco disse hoje que espera ainda viver o bastante para presenciar o dia em que o Brasil não acredite que relevante é discutir preço de combustíveis.

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