Paulo Skaf: ‘a política contaminou a economia brasileira’
Segundo o empresário e presidente da Fiesp, o governo erra ao justificar a deterioração fiscal com as desonerações à indústria
Virtual candidato ao governo do estado de São Paulo pelo PMDB (com 19% das intenções de voto, segundo o Datafolha), Paulo Skaf se prepara para vivenciar um ano atribulado. Um dos principais interlocutores do setor industrial, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) terá de abandonar as articulações em favor da indústria para se dedicar à corrida eleitoral que tem Geraldo Alckmin, do PSDB, como favorito, com 43% das intenções. Skaf estará em campanha num ano em que as previsões para a economia – e, consequentemente, para a indústria – não são as mais animadoras. A própria Fiesp prevê crescimento tímido para o Produto Interno Bruto (PIB), de 2,2%. Para a indústria de transformação, que exclui os segmentos de mineração e construção civil, as estimativas são da ordem de 2,3%. Em entrevista ao site de VEJA, Skaf afirmou que a situação econômica não é das mais animadoras – mas tampouco é desesperadora. O que o deixa relativamente à vontade para abandonar, por ora, os pleitos do setor para se dedicar à campanha. “Em 2013 houve uma contaminação da política na economia que criou uma impressão pior do que a realidade. Uma impressão de caos que não é tão ruim quanto parece, e nem tão boa quanto o governo prega que é”. Confira trechos da conversa.
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A economia brasileira passa por um período controverso. Apesar de os indicadores não mostrarem uma situação terrível, o sentimento do investidor é de pessimismo. Por que isso ocorre?
Em 2013 houve uma contaminação da política na economia que criou uma impressão pior do que a realidade. Uma impressão de caos que não é tão ruim quanto parece, e nem tão boa quanto o governo prega que é. Isso fez com que a confiança dos estrangeiros caísse. Então, apesar do desempenho econômico mediano, houve uma piora no sentimento.
Devido à questão fiscal?
A questão fiscal é uma questão de confiança. E quando há desconfiança, ela se espalha pelo lado fiscal, no combate à inflação, na insegurança jurídica.
Mas, no caso da questão fiscal, há um fato: as agências de classificação de risco ameaçaram rebaixar o Brasil.
O que influencia, neste caso, é o superávit. O país tem que aumentar o superávit. E, para isso, ou se aumenta os impostos ou corta-se os gastos. Não há espaço para subir impostos. A sociedade já está cansada de pagar. Ela quer ver aumento de eficiência do serviço público. Já o corte de gastos em ano eleitoral é difícil de acreditar. É ano de gastos, não economia. Por isso a desconfiança continua e leva a uma percepção ruim.
O governo percebeu que errou na questão fiscal?
O governo sabe tudo. Eles não foram pegos de surpresa. Não é que eles façam as coisas por desconhecimento. Eles fazem sabendo da realidade. O que ocorre agora é que eles estão justificando o problema fiscal com as desonerações que fizeram, e isso é injusto. Eles reduzem temporariamente um imposto que é alto demais (no caso do IPI), como se estivessem fazendo um favor. Ora, a carga tributária no Brasil é absurda! As reduções deveriam se eternizar. Mas não é assim. Sempre quando chega o final do ano, é a hora de renovar a redução da alíquota. E fica parecendo que o governo está fazendo alguma bondade, quando, na verdade, não deveria haver um imposto tão alto. Agora, com a situação fiscal da forma que está, eles sabem que não há espaço para subir imposto, nem disposição para cortar despesas. Aí vem aquela ameaça de que as reduções serão revertidas.
O governo culpa as desonerações em folha pela queda da arrecadação. E a indústria foi a maior beneficiada.
O crescimento da arrecadação sempre foi superior ao crescimento do PIB. O problema é que, se a arrecadação cresce, a despesa também cresce. Mas o governo vai falar que o problema é gastança dele? Não vai. As desonerações em folha geraram perda líquida de 15 bilhões de reais. O governo arrecada mais de 1 trilhão. Realmente são esses 15 bilhões que estouram as contas? Eu não acredito.
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O governo está mais aberto ao setor privado?
Eu, particularmente, não posso reclamar. Nunca tive dificuldade de contato com a presidente. Mas sinto que ela mudou, sim, em relação aos empresários e aos partidos. Hoje ela discute com lideranças de partidos. O problema é que isso ainda não se traduziu em recuperação da confiança do empresariado, sobretudo no exterior. A imagem do Brasil foi abalada e isso ainda não está resolvido. Internamente é mais fácil, pois o empresário está mais acostumado com as mudanças. Mas quem está distante leva mais tempo para perceber.
A indústria foi a maior beneficiada pelas medidas protecionistas dos últimos anos. Valeu a pena?
Na verdade, quando ouço falar que o Brasil é protecionista, dá para rir. Até pouco tempo, o Brasil tinha o dólar a 1,60 real e a indústria concorria com produtos de países que tinham moeda subvalorizada, como a China. Nossa moeda estava 30% sobrevalorizada e a deles, 30% subvalorizada. Além disso, nossas medidas de defesa comercial são lentíssimas. Um processo de antidumping demora dois anos para avançar. E muitas vezes uma decisão só é tomada depois que os estragos foram feitos. Protecionista é a Argentina. Ela cria barreiras para valer. Veja só o que faz com o Brasil, que é seu maior parceiro comercial.
O Brasil subiu em 30 pontos porcentuais o imposto de importação de veículos em 2011. Isso é protecionismo.
Eu entendo que essa foi uma medida passageira, temporária, até que se desenvolvesse um programa mais amplo. Não se pode dizer que foi uma boa decisão porque encareceu produtos que o Brasil nem mesmo oferecia. Mas foi por pouco tempo. Na realidade, precisamos encontrar no Brasil a competitividade, e não pensar que a salvação vai estar na proteção. Esse pode ser um caminho temporário, mas não é a solução.
A presidente Dilma fez algum comentário sobre a sua possível candidatura ao governo?
Não. Eu nunca conversei com ela sobre a minha pré-candidatura. Até porque, sinceramente, com muito respeito à presidente, eu sou do PMDB e ela do PT. Então minha pré-candidatura tem a ver apenas com o meu partido. O PMDB decidiu por unanimidade ter um candidato a governador. E, hoje, também é unânimeque o único nome para disputar é o meu.