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“Paulo Guedes não tem mais influência alguma”, diz Rodrigo Maia

Em entrevista a VEJA, o ex-presidente da Câmara critica a gestão do ministro da Economia e a recriação do Ministério do Trabalho

Por Victor Irajá Atualizado em 22 jul 2021, 15h07 - Publicado em 22 jul 2021, 14h20

Ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia flana com maior liberdade sobre os assuntos que lhe cabem. Quando atrelado à cadeira de mandatário e com o compromisso declarado de ajudar o governo em sua pauta econômica, cujo peso institucional não lhe permitia divagar com sinceridade sobre a gestão do presidente Jair Bolsonaro e de seu ministro da Economia, Paulo Guedes, o deputado segurava-se para não dizer o que, realmente, interpretava sobre a conjuntura política. Com maior liberdade, Maia deu entrevista a VEJA sobre a gestão do ministro da Economia e a recriação do Ministério do Trabalho. A relação entre o ministro e o ex-presidente da Câmara piorou ao longo do tempo. Guedes repete que Maia travava as discussões de seus projetos e que, agora, com Arthur Lira (PP-AL), sucessor de Maia na presidência da Casa, tem conseguido dar vazão à agenda. O deputado agora critica com firmeza: “A qualidade do debate acabou, ele resolveu abrir o cofre para a política”, afirma o deputado. “O Paulo Guedes não tem mais influência alguma.”

Como avalia a escolha de Onyx Lorenzoni para o cargo de ministro do Trabalho? Eu sempre tive uma relação boa com o Onyx. Sempre foi alguém um pouco confuso, mas um homem leal e sério. Está provada a lealdade, o que não necessariamente tem a ver com competência. Ele teve duas grandes oportunidades de fazer alguma coisa, no Ministério da Cidadania e na Casa Civil, e não realizou nada. Vai assumir o Trabalho em um momento em que o desemprego está crescendo, que a economia melhora apenas para o lucro real das empresas que estão no mercado de capitais e no agronegócio. O resto da economia vai muito mal, o desemprego cresce e precisávamos de alguém que, de fato, tivesse competência para tocar um ministério que tratasse desse tema. O Onyx não foi bem nos outros ministérios. Não sei de nada relevante que tenha acontecido nas gestões dele, tanto que foi demitido. Só não sai do governo porque é leal, e por essa lealdade ele pega uma pasta da importância dela. A única coisa boa é que ele leva junto o Bruno Bianco (secretário especial da Previdência e Trabalho), que é alguém que entende do tema.

A recriação da pasta é algo importante do ponto de vista econômico?  Não sei se, atualmente, um Ministério do Emprego é importante, e não a integração de outros ministérios, tratando sobre políticas sociais e produtividade. Outros temas agregariam muito mais do que este simbolismo.

A recriação da pasta representa uma perda de influência para o ministro Guedes? O Paulo Guedes não tem mais influência alguma. Para passar a privatização da Eletrobras, deixou aprovar 80 bilhões de reais em termoelétricas com dinheiro público, na conta do consumidor, o que ele era contra. Ele liberou a emenda de relator de 16 bilhões de reais. O Paulo Guedes não é mais influente. Se existe alguma preocupação com o desemprego, causado pela pandemia, o governo teria que ter quadros competentes, deveriam ter cuidado disso dentro do Ministério da Economia. Eu não acho que o Onyx vá organizar essa política.

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Como assim? A produtividade do trabalho e a formação dos jovens, por exemplo, são temas de extrema importância. Não sei, porém, se deveria estar com o Paulo Guedes. Ele ficou com um ministério no qual ele não deve ter conseguido nem conversar com todos os secretários, dado o tamanho da pasta. Mas, com essa pasta na mão do Onyx, não acho que vá produzir nada relevante, nem uma boa notícia para comemorarmos num pós-pandemia, quando colheremos o aumento da informalidade, da desigualdade e do desemprego.

Sobre a reforma tributária, como avalia o projeto de reforma do Imposto de Renda? O Paulo já perdeu a influência no governo, isso só se consolida com mais nitidez. O Bolsonaro já apresentava resistência a alguns temas propostos pelo ministro. Essa lambança na reforma do Imposto de Renda veio por meio de pressão que o Bolsonaro fez em relação à tabela, e virou essa confusão no debate. Guedes já está correndo atrás do próprio rabo, fazendo o que o Bolsonaro quer para não perder o emprego. Essa é a verdade.

O ministro defende que, sob a gestão de Arthur Lira, tem conseguido aprovar projetos que não conseguia aprovar sob a presidência do senhor. Guedes não tem aprovado nada e fala sobre projetos aprovados na minha gestão. Ele fala sobre o Marco do Saneamento, foi aprovado na minha gestão, o Arthur Lira só votou os vetos. A Lei do Gás também foi aprovada sob minha presidência. Sobre o que foi aprovado na gestão do Arthur Lira, a medida provisória do setor elétrico é um desastre, a PEC Emergencial com o acordo do Orçamento é um desastre e esse projeto do Imposto de Renda, se passar, é outro desastre. A autonomia do Banco Central foi a única peça aprovada com um texto razoável. Todos os outros textos foram destruídos. Guedes tem que entender que não é a quantidade de projetos o que importa, mas a qualidade do debate. A qualidade do debate acabou, ele resolveu abrir o cofre para a política. Um ministro da Economia que aceita que 53% dos recursos para investimentos em 2021 estejam em emendas parlamentares, e não disponível para políticas públicas do governo federal, é um ministro que abriu mão da pasta dele.

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O que embasa essa análise? Quando ele abre mão dos recursos para investimentos, que já são poucos, e entrega para a política paroquial, ele mostra a incompetência e fraqueza dele. Guedes trocou isso por uma PEC Emergencial que não gerou nenhum impacto no curto prazo em cortes de despesas; pelo contrário, gerou mais despesas fora do teto e aumentou o déficit público. Se ele acha isso positivo, é um direito dele, mas a história vai dizer o que está correto. Se ele acha positivo transferir a conta de 84 bilhões de reais da privatização da Eletrobras para o consumidor, para que os empresários tenham garantia de investimento público, com dinheiro nosso, e os empresários do setor fiquem mais milionários… Todos os temas sobre os quais ele cede mostram o quanto o trabalho que o ministro faz é imoral. Ele cede para coisas erradas, que não beneficiam o cidadão. O abono salarial foi atrasado para que os deputados tivessem um valor maior em emenda de relator, adiou o Censo, cujos dados são fundamentais para qualquer política pública. Isso está correto?

Guedes afirma que o senhor travava a pauta econômica. Como responde a essa crítica? A maioria dos bons projetos foi colocada por mim. Guedes quer mostrar que tinha razão, que é melhor um Parlamento que não discute ou melhora os textos que passam. Ele não vai admitir nunca. Que projeto eu travei? Só a CPMF dele, os maus projetos do Bolsonaro. Dele, eu só travei a CPMF. O problema é que ele entrou em uma disputa comigo por causa da reforma da Previdência.

Por quê? Quando eu comandei a votação da reforma, Guedes ficou louco por não ter sido a grande estrela, graças à vaidade dele. É um erro. Na nossa gestão, construímos bons projetos, discutidos com a sociedade e com especialistas. Fizemos uma gestão moderna. Ele faz isso por inveja. Foi o ministro que interditou a PEC 45, a reforma tributária, e faz essa lambança com o Imposto de Renda, o que não consegue consertar. Fala em recorde de arrecadação para manter, mas não tem certeza do que será no ano que vem. É uma irresponsabilidade para mostrar que está aprovando alguma coisa. A partir de 2023, não sob uma gestão do Bolsonaro, o próximo presidente terá uma herança maldita em matérias aprovadas sob essa gestão.

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