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Paulo Guedes aponta ‘mentira’ no número de brasileiros com fome

Ministro questiona dado de que 33 milhões vivem em situação de fome no país; índice de miséria tem sido um dos principais revezes de Bolsonaro na campanha

Por Larissa Quintino, Luisa Purchio Atualizado em 21 set 2022, 16h37 - Publicado em 21 set 2022, 16h03

O ministro da Economia, Paulo Guedes, está de cabeça na campanha de reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Se neste ano não atua mais como grande fiador do capitão, como em 2018, Guedes carrega a missão de falar com grupos empresariais e associações, que em grande parte ainda reúnem grande apoio ao presidente. Nesta quarta-feira, 21, em uma desses compromissos, Guedes emulou uma retórica recente de Bolsonaro, que é o questionamento sobre o tamanho da insegurança alimentar dos brasileiros. “33 milhões de pessoas passando fome é mentira”, afirmou durante evento da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores, a Fenabrave.

Guedes questiona o dado do inquérito sobre segurança alimentar realizado pela Rede Brasileira de Pesquisas em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), divulgados em junho. O estudo aponta que 33,1 milhões de brasileiros estão em situação de fome, num aumento de 14 milhões de pessoas em relação a 2020. Os números que mostram a insegurança alimentar tem sido amplamente utilizados pela campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e segundo pesquisas eleitorais, são uma das preocupações mais relevantes dos eleitores. Ele disse: “33 milhões de pessoas passando fome é mentira. Nós estamos transferindo para os mais pobres, com o Auxílio Brasil, 1.5% d0 PIB, três vezes mais que recebiam antes”, disse o ministro, comparando o valor do benefício atual — turbinado pela PEC das Bondades — com o Bolsa Família. Guedes argumenta que, por conta da transferência de renda, o poder de compra das famílias em situação vulnerável foi preservado, apesar da inflação, e que por isso a estimativa de um sexto dos brasileiros em situação de fome não é real.

Em agosto, durante entrevista na Jovem Pan, o presidente Jair Bolsonaro também questionou os números do inquérito de segurança alimentar. “Extrema pobreza é quem ganha até 1,9 dólar por dia, são 10 reais. O Auxílio Brasil hoje paga 20 reais por dia, então esses 30 milhões podem buscar o Auxílio Brasil”, disse ao ser questionado sobre os dados de fome. Em seguida, ele colocou a situação de vulnerabilidade em dúvida, mas se corrigiu em seguida. “Alguém vê alguém pedindo pão no caixa da padaria? Você não vê, pô. Até no interior… Tem gente que passa mal sim, quem porventura está na linha da pobreza, passando fome, que sim, deve ter gente que passa fome”, disse.

Índice da miséria

Apesar da melhora dos dados macroeconômicos, que o presidente e sua campanha tentam divulgar há menos de duas semanas da eleição, a percepção da população sobre a economia tem sido um dos grandes entraves do governo. O índice de miséria,  criado pelos economistas João Saboia, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e por João Hallak Neto, do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ), foi inspirado no índice de mesmo nome elaborado pelo economista americano Arthur Okun (1928-1980) na década de 1960 para calcular o impacto da economia na sensação de bem-estar das pessoas. Com uma média dessas quatro variáveis, foi possível concluir que a sensação de mal-estar do brasileiro chegou a 80,9 no último trimestre de 2021, o pior nível desde 2012. Na época, o índice foi influenciado principalmente pela renda média mais baixa do período, quando benefícios dados pelo governo como o auxílio emergencial já haviam se esgotado e o Auxílio Brasil ainda não havia se iniciado.

Nos meses que se seguiram, o índice de miséria começou a cair e atingiu 75,9 no segundo trimestre de 2022, mas se mantém em níveis historicamente altos. A variável que mais cresceu no período foi o índice de inadimplência, que de acordo com os últimos dados divulgados pela CNC atingiu em julho 63 milhões de pessoas, o maior em oito anos. No índice de miséria, no entanto, este crescimento foi em parte neutralizado pela queda da inflação, consequência das medidas feitas pelo governo Bolsonaro às véspera das eleições, como a desoneração de impostos sobre combustíveis, energia elétrica, comunicações e transporte coletivo.

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