Assunção, 16 fev (EFE).- O governo do Paraguai criticou duramente nesta quinta-feira o maior produtor de soja do país, o brasileiro Tranquilo Favero, chamando-o de ‘sem-vergonha’ por elogiar o ex-ditador Alfredo Stroessner e falar mal sobre
‘Penso que, para qualquer cidadão paraguaio, as expressões de Favero são extremamente insultantes e desqualificadoras. Felizmente sabemos que não representam o modo de pensar do povo brasileiro e muito menos do governo brasileiro’, afirmou o chefe de Gabinete da Presidência do Paraguai, Miguel López Perito, em entrevista coletiva.
Em declarações publicadas pela página oficial da Presidência, López Perito também disse que o empresário brasileiro revela, de alguma forma alguma, os vínculos que existiam entre a ditadura de Alfredo Stroessner (que ficou no poder entre 1954 e 1989) e a chamada máfia das terras local.
‘Lamento realmente que uma pessoa que lucrou tanto no Paraguai de uma maneira absolutamente reprovável, eu diria, tenha a ‘cara de pau’ de se vangloriar deste tipo de coisa e de se referir de maneira maliciosa e desqualificadora a nosso país, a nosso governo e aos nossos cidadãos’, declarou.
O conflito com Favero expõe, segundo o chefe do Gabinete presidencial, o que ‘a ditadura fazia’ e como as terras do país ‘foram sendo alienadas, vendidas por centavos a pessoas que hoje têm um poder extraordinário (…) e que atentam seriamente contra a soberania’ paraguaia.
López Perito alegou ainda que a posição do atual governo ‘é muito diferente do que alguns pensam’, por ‘solicitar o apoio do Brasil e de outros países da comunidade internacional para investigar e regularizar os registros’ das terras do país.
Além das críticas feitas hoje pelo governo, na quarta-feira a Junta da Prefeitura da capital Assunção aprovou uma resolução para declarar Favero ‘persona non grata’. A Junta também solicitou a retirada da cidadania paraguaia que o empresário brasileiro possui.
Já o assessor jurídico da Presidência, Emilio Camacho, que chamou Favero de ‘capanga’ segundo entrevista publicada nesta quinta pelo jornal ‘Última Hora’, disse que o país não vai renunciar a 180 mil hectares de terras estatais que segundo ele foram ‘ocupadas’ pelo brasileiro.
Favero, que diz viver no Paraguai há 42 anos e que obteve sua cidadania há 25, declarou recentemente que os sem-terra paraguaios devem ser tratados ‘como mulher de malandro, que só obedece a pauladas’.
O produtor rural disputa há vários anos com agricultores denominados ‘carperos’ parte de suas terras em Ñacunday, na província de Alto Paraná, a 400 quilômetros a leste de Assunção.
A situação nessa região de fronteira com o Brasil pelo estado do Paraná se agravou em meados de janeiro devido aos rumores de invasões de fazendas por parte dos ‘carperos’, que reivindicam terras públicas supostamente ocupadas de forma irregular por Favero.
Os sem-terra continuam acampados na zona de conflito, à espera de uma resposta a suas reivindicações. Por sua vez, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, declarou que as forças de segurança utilizarão ‘todos os meios disponíveis’ para evitar confrontos na região. EFE