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Pão deve encarecer até 20% com dólar caro; veja o que mais deve subir

Brasil importa boa parte dos insumos para fabricação de massas, produtos de beleza, higiene pessoal e até remédio

Por Gilmara Santos
Atualizado em 21 Maio 2018, 14h39 - Publicado em 21 Maio 2018, 14h34

Mesmo que você não tenha viagem internacional marcada nem tenha a intenção de comprar produtos importados, a alta do dólar também vai atingir o seu bolso. Isso ocorre porque boa parte dos produtos que os brasileiros consomem utilizam itens importados. Com a escalada da moeda americana, o repasse nos preços fica inevitável.

No ano, o dólar apresentava valorização perto de 12,8%, com a cotação batendo 3,78 reais. Com a intervenção mais forte do Banco Central (BC) nesta segunda-feira, a moeda abriu o pregão em queda, mesmo assim cotada a 3,70 reais.

De acordo com a professora de economia da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Rio, Michelle Nunes, o sobe e desce do mercado de câmbio afeta diretamente a economia no país e, consequentemente, a vida dos brasileiros. “Os produtos importados ficam mais caros quando o dólar sobe e, mesmo que ele seja fabricado aqui, pode ter matéria-prima ou peças importadas”, explica.

Pães e massas

Alimentos à base de trigo, como pão e massas, são alguns dos que sofrem o impacto direto da alta da moeda porque o país depende de importados para garantir o consumo interno. De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Biscoitos, Massas Alimentícias e Pães e Bolos Industrializados (Abimapi), o Brasil consome cerca de 10 milhões de toneladas de trigo por ano, mas produz apenas metade disso. O restante é importado, especialmente da Argentina. Porém, neste ano houve quebra da safra do país vizinho e o produto está sendo comprado nos Estados Unidos e América do Norte, o que eleva ainda mais o custo, já que importações dentro do Mercosul têm isenção tributária.

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“Não bastasse essa situação que já é complicada para o preço, agora temos o agravante da alta do dólar”, afirma o presidente-executivo da Abimapi, Cláudio Zanão.

A estimativa, segundo ele, é que o pão e o macarrão fiquem cerca de 20% mais caro, enquanto que os biscoitos devem ter alta de 12% até o fim de junho. “Nos últimos 3 meses o trigo subiu quase 50%. Agora com o dólar valorizado o produto vai ficar ainda mais caro e a tendência é que o repasse para o consumidor, que já começou a ocorrer, se intensifique”, avalia Zanão.

Para o economista da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Thiago Berka, a alta do dólar tem impacto direto no setor. “Produtos de limpeza e higiene pessoal, que dependem de artigos químicos importados em sua composição, podem ter reflexo”, diz.

No entanto, explica ele, a área de beleza e higiene pessoal, por exemplo, apresentaram deflação no último mês e, por isso, o efeito não deve ser tão grande para o consumidor. “Deve ter impacto, mas como há uma margem, deve ser menor”, considera. “Mas no setor de alimentos a influência é maior, principalmente para pães e massas, porque nossa produção de trigo é baixa”, complementa o economista.

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Remédios

Altamiro Carvalho, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), lembra que o setor farmacêutico também deve ser afetado pela valorização da moeda. “Há uma grande importação de princípios ativos para a fabricação de medicamentos, isso sem falar que a indústria tem que pagar royalties para suas matrizes. Este setor tem duplo impacto cambial”, comenta.

O representante do comércio destaca também que o valor do combustível também deve sofrer influência dos aumentos do dólar. “Neste caso, o impacto é no frete e, consequentemente, em todos os produtos que consumimos”, avalia Carvalho.

Nesta segunda-feira, caminhoneiros autônomos paralisaram as atividades em todo o país em protesto contra o aumento do diesel. Nos últimos 12 meses, o diesel subiu 15,9% nos postos. O aumento é resultado da nova política de preços da Petrobras, que repassa para os combustíveis a variação da cotação do petróleo no mercado internacional.

Viagens

Diante do cenário de alta da moeda, muitos brasileiros estão refazendo as contas para reduzir os gastos com as viagens internacionais. De acordo com Gervásio Tanabe, diretor-executivo da Associação Brasileira de Agências de Viagens (ABAV Nacional), reduzir o número de dias, pegar um hotel mais simples e diminuir o consumo têm sido a estratégia usada para quem vai manter o passeio.

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“Há também aqueles que preferem mudar o destino e, neste sentido, o mercado brasileiro começa a ficar mais atrativo”, comenta.

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