Pacote de Haddad causa efeito contrário e dólar vai para R$ 5,99
Câmbio atingiu maior valor desde o início da circulação do real, em 1994. Na semana, o dólar acumula valorização de 3,36%
O dólar à vista ultrapassou a marca histórica de 6 reais nesta quinta-feira, 28, encerrando o dia cotado a 5,99 reais, o maior patamar desde o início de sua circulação, em 1994. O mercado reagiu negativamente ao tão esperado pacote de contenção de gastos anunciado pelo governo, que trouxe medidas fiscais consideradas insuficientes e uma inesperada reforma do Imposto de Renda. Na semana, a moeda acumula valorização de 3,36%, refletindo a volatilidade e a crescente incerteza econômica.
A trajetória de alta do dólar já vinha sendo impulsionada pela expectativa em torno do pacote fiscal, cujo anúncio foi adiado por cerca de um mês, gerando instabilidade nos mercados financeiros. A demora em apresentar o plano trouxe volatilidade à moeda, que já chegou a ser vendida a 5,86 reais — ate então esse era o maior valor. No cenário internacional, fatores como a política protecionista de Donald Trump e as tensões geopolíticas, incluindo conflitos no Oriente Médio, adicionaram pressão adicional ao câmbio.
Esperava-se que o pacote de ajuste fiscal fosse um antídoto contra a alta do dólar e a crescente desconfiança dos investidores. No entanto, o plano frustrou expectativas ao apresentar medidas vistas como “paliativas e insuficientes” para conter o desequilíbrio fiscal do país. Economistas apontam que as iniciativas, apesar de ambiciosas, não possuem o fôlego necessário para resolver os problemas estruturais das contas públicas.
Para o mercado, a sensação predominante é de incerteza. Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, destaca que as medidas podem ter um viés eleitoral, já que a isenção de IR só entra em vigor em 2026, ano de eleição. “Isso pode indicar um pacote com foco em popularidade, não em eficiência fiscal. O dólar segue em alta, a curva de juros continua subindo, e a bolsa permanece pressionada, com exceção das empresas exportadoras e expostas ao dólar.”
A resposta dos investidores foi rápida: além da disparada do dólar, a curva de juros futuros também subiu, precificando a possibilidade de elevações mais agressivas na Selic. A expectativa é de que os juros possam atingir 14,25% nos próximos meses, uma medida vista como necessária para conter a inflação, que pode ser impulsionada pela alta do dólar.
A reação negativa também reflete a crescente percepção de que o governo enfrenta desafios consideráveis para manter o equilíbrio fiscal em um cenário de juros elevados e contenção de gastos. Para Beto Saadia, economista da Nomos, o pacote não ataca o problema de maneira estrutural. “Nossa previsão é de que 2025 seja marcado por ruído político e pouca clareza sobre os rumos da política fiscal do Brasil.”
Com um pacote aquém das expectativas, o governo parece ter postergado a solução para os desequilíbrios fiscais. Sem um ajuste mais firme, o país pode enfrentar uma tempestade de incerteza nos próximos anos, e o câmbio continuará a ser um termômetro da confiança dos investidores.