Pacote de corte de gastos ainda está sendo digerido pelo mercado, diz Galípolo
Sobre a escalada do dólar, Gabriel Galípolo disse que o Banco Central só intervém no mercado de câmbio quando identifica "disfuncionalidades"
O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta sexta-feira, 29, que entende que o pacote de corte de gastos está sendo digerido pelo mercado e que as coisas ainda estão acontecendo. Mas, segundo a interpretação do futuro presidente do Banco Central, as mensagens dadas pelo Congresso Nacional, no sentido de um esforço para a aprovação das medidas de ajuste em 2024, e a reforma da renda, que é um tema que será amplamente debatido em 2025, além da fala do ministro sobre o ajuste proposto não ser um “gran finale” foram bem recebidas pelo mercado nesta sexta-feira, 29.
“De imediato, o que aconteceu do momento que eu vim para cá até agora, eu senti que foi bem recebida pelo mercado essa interpretação, esse esclarecimento, de que um programa de corte de gastos que é um programa que tem uma urgência, uma urgência rápida, e um grande debate do grau de consenso e de sensibilização por parte do Congresso Nacional de que ele precisa avançar rápido”, disse Galípolo.
Nesta sexta-feira, tanto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, quanto o presidente da Câmara, Arthur Lira, declararam publicamente que farão esforços para votar as medidas antes do recesso parlamentar e reforçaram que a reforma da renda, com a proposta de isenção de imposto de renda para quem ganha até 5.000 reais não serão pautadas neste ano.
“Existe uma grande disposição, um grande consenso, disposição, como eu disse, para aprovar rapidamente um pacote de contenção dos gastos públicos. Isso deve ser feito com a devida urgência, mas, como bem disse o ministro, não é um ponto final de chegada, e sim é mais um passo numa direção correta. Então, está se fazendo esse processo de seguir corrigindo as situações, evoluindo a direção da estabilidade fiscal”, disse Galípolo.
“Inflação e desancoragem de expectativas são fonte de bastante incômodo para o BC”
Galípolo disse que a inflação corrente acima da meta e a inflação acumulada de 12 meses que estourou o teto da meta, além da desancoragem das expectativas, são fonte de bastante incômodo e insatisfação para toda a diretoria do Banco Central e o Comitê de Política Monetária (Copom). “Por isso, inclusive, que a gente começou o ciclo de alta de juros”, disse.
O diretor do BC explicou que o aquecimento da economia brasileira em níveis mais fortes do que se imaginava e a questão do dólar, que se valorizou ainda mais com a eleição de Donald Trump — que tem uma visão protecionista e mais inflacionária — são fatores relevantes no processo de alta dos juros no Brasil.
“Se você tem uma moeda mais desvalorizada, inclusive pela apreciação do dólar diante das demais moedas, se você tem uma economia que está com o mercado de trabalho mais apertado e crescendo mais do que você imaginava, não parece lógico imaginar que a partir disso você vai ter uma taxa de juros mais compressionista por mais tempo”, disse Galípolo.
Sobre uma possível intervenção do BC para segurar a alta do dólar, Galípolo disse que a instituição só intervém no mercado de câmbio quando identifica problemas graves, como distorções ou movimentos desordenados que possam prejudicar o funcionamento normal do mercado — o que ele chamou de “disfuncionalidades”. Essas intervenções não são feitas para controlar o preço do dólar ou definir um valor específico da moeda, mas sim para garantir que o mercado cambial funcione de forma adequada.
“O Banco Central está sempre acompanhando para entender se existe algum tipo de disfuncionalidade. Mas, como eu disse, o BC não mira qualquer tipo de nível de câmbio, não precisa defender qualquer tipo de nível de câmbio. Ele atua quando percebe que existe algum tipo de disfuncionalidade”, disse Galípolo.