O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, segue na missão de mostrar que, se há uma briga entre governo e BC, o governo está brigando sozinho. Nesta terça-feira, 14, o comandante da autarquia defendeu a política de metas, posta em xeque pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas defendeu que o mercado financeiro tenha “boa vontade” com o presidente.
“O investidor geralmente é muito afoito, mas o governo ainda tem só 45 dias. A gente vê que o ministro Haddad já anunciou algumas ações, está trabalhando em novo arcabouço fiscal, é preciso ter um pouco de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Acho que tem tido uma boa vontade enorme do ministro Haddad, de falar: olha, temos aqui um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina, tem um arcabouço que está sendo trabalhado. Já foram elaborados alguns objetivos. A gente precisa ter uma pouco de boa vontade”, afirmou em evento do BTG Pactual.
Campos Neto afirmou que o ruído sobre as taxas de juros vindos do executivo não deve ser algo para briga, já que faz parte do jogo político. “É normal ter gente do governo reclamando, isso faz parte do equilíbrio, do jogo político. É inclusive trabalho do Banco Central melhorar a comunicação para explicar de forma mais clara por que o juro real está alto”, afirmou Campos Neto. “O BC quer trabalhar junto, quer ser colaborativo e explicar o que é feito e quais são as ações técnicas tomadas.” Segundo o presidente do BC, entretanto, isso não significa que a pressão faça com que haja pressa na mudança do rumo da política monetária. “O trabalho de controle da inflação não se dá no curto prazo. E não há nada que impeça realizar políticas sociais com responsabilidade fiscal, não são coisas excludentes.”
Campos Neto se reúne nesta quinta-feira com o Conselho Monetário Nacional, que tem os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento) como participantes. Em pauta, um possível relaxamento da meta de inflação para o Brasil em 2023, hoje traçada em 3,25%, com tolerância até 4,75%. As falas foram similares às declarações dadas na segunda-feira no programa Roda Viva, da TV Cultura. Segundo ele, eventuais ajustes da meta da inflação não significam que o sistema será abandonado. “Divergências são normais, mas não adianta aumentar a meta só porque a meta não foi atingida. Vamos conversar e chegar a uma conclusão. O Banco Central propõe, mas quem decide é o governo.”