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Os primeiros resultados (e o potencial) do 5G no Brasil, dois anos depois

A telefonia móvel de 5ª geração mostra que pode acelerar a economia — se as leis deixarem

Por Camila Barros Atualizado em 26 jul 2024, 13h04 - Publicado em 26 jul 2024, 06h00

Em julho de 2022, o Brasil deu um passo significativo rumo à modernização de sua infraestrutura de telecomunicações, com a ativação da primeira antena comercial de internet móvel projetada para operar aqui com a tecnologia 5G. Brasília, a capital do país, foi escolhida para estrear a novidade. O episódio marcou o início da implantação da 5ª geração de redes móveis no país. A tecnologia oferece velocidades de internet mais altas e menor tempo de resposta entre dispositivos, além de permitir que mais aparelhos se conectem à rede simultaneamente. Se, para os usuários comuns, isso melhora experiências como assistir a vídeos ou participar de jogos on-line, para as empresas a 5G estimula a integração de máquinas na linha de produção, gerando ganhos de eficiência. Dois anos depois, o Brasil já colhe bons resultados com o avanço da nova tecnologia de comunicação, mas ainda resta um longo caminho até que possa se beneficiar de todo o seu potencial transformador.

A rede 5G foi ativada em todas as capitais brasileiras ainda em 2022. Agora, conforme o cronograma da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), as operadoras têm até julho de 2025 para cobrir as 51 cidades com mais de 500 000 habitantes. Um ano depois, a cobertura deverá alcançar os 152 municípios com população superior a 200 000. Segundo a Conexis, o sindicato das empresas de telecomunicações, cerca de 70% da meta para 2025 já foi cumprida.

AUTOMAÇÃO - Linha de produção com robôs: mais integração de equipamentos
AUTOMAÇÃO - Linha de produção com robôs: mais integração de equipamentos (Zhu Haipeng/VCG/Getty Images)

“O Brasil se destacou na adoção da nova tecnologia nesses dois anos, em especial pela implementação da 5G pura, que oferece uma qualidade de rede muito melhor”, diz Juarez Quadros, ex-ministro de Comunicações e ex-presidente da Anatel. “5G pura” é o nome popular dado à rede construída apenas com a tecnologia de 5ª geração, sem depender de estruturas remanescentes da 4G, que tendem a tornar a conexão mais lenta. O país se tornou o primeiro da América Latina a implantar o serviço. E conta hoje com uma das conexões 5G mais velozes do mundo. Segundo uma pesquisa da Ookla, empresa americana de conectividade, a 5G do Brasil foi a quinta mais rápida em 2023, atrás das de Emirados Árabes Unidos, Coreia do Sul, Malásia e Catar.

Há problemas, no entanto. As principais operadoras de telefonia do país (TIM, Vivo, Claro e Oi) foram multadas há pouco num total de 5,6 milhões de reais pela Secretaria Nacional do Consumidor por supostas propagandas enganosas quando a 5G “pura” ainda não era oferecida no país, antes de 2022. A avaliação do órgão é que as empresas não informaram devidamente os consumidores sobre limitações de desempenho. As empresas podem recorrer.

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selo 5G

 

Em termos de cobertura do serviço, o Brasil ainda está longe de figurar entre os líderes mundiais, como Estados Unidos, Coreia do Sul, Índia e países europeus, onde alcança a maior parte do território. Atualmente, a 5G chega a 589 cidades brasileiras — cerca de 11% do total. Pelos planos da Anatel, apenas em 2029 a tecnologia estará disponível em todo o país. A TIM lidera o processo de implantação, segundo um levantamento da consultoria Teleco, oferecendo a 5G para 321 cidades. Em seguida, vêm a Claro, com 254 cidades, e a Vivo, com 229. Segundo as operadoras, um dos maiores obstáculos para a expansão do serviço é a defasagem das leis municipais. Muitas cidades, por exemplo, exigem licenciamento ambiental para instalar as antenas. As empresas argumentam que a legislação foi criada para lidar com tecnologias anteriores, que demandavam equipamentos maiores. Como as antenas 5G são mais compactas, não prejudicam tanto o meio ambiente e, por isso, deveriam ser dispensadas da exigência. “A infraestrutura de comunicação muitas vezes esbarra na própria lei do município”, diz Marcos Ferrari, presidente da Conexis.

A Anatel aposta ainda em redes privadas de 5G, criadas por empresas de vários ramos em parceria com operadoras, e já licenciou 66 delas desde 2022. Na fábrica da Huawei em Sorocaba (SP), por exemplo, a rede liga empilhadeiras autônomas a câmeras com inteligência artificial. A empresa diz que a integração oferecida pela 5G privada elevou em 25% a eficiência da operação e reduziu o ciclo de produção de dezessete para sete horas. Não à toa, um estudo de 2021, feito pela consultoria Delloite para o então Ministério da Economia, indicou que a 5G poderia gerar ganhos anuais de 590 bilhões de reais ao país até 2031, decorrentes do aumento de produtividade. A indústria de transformação é a que mais lucraria, capturando 233 bilhões de reais. Isso, claro, se novas leis municipais permitirem.

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

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