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Os figurões da COP30: quem puxa as cordas nas negociações mais duras do planeta

Eles não aparecem nos palcos principais, mas são quem decide o que avança, o que trava e o que cai da mesa na COP30

Por Ernesto Neves, de Belém
Atualizado em 11 nov 2025, 12h44 - Publicado em 11 nov 2025, 10h43

Em Belém, no coração da Amazônia brasileira, representantes de quase 200 nações já se acomodam para a COP30, a conferência do clima das Nações Unidas que se estende até 21 de novembro.

Apesar do processo do clima da ONU assegurar a todos, das menores nações insulares às grandes potências, o mesmo peso formal nas decisões, a dinâmica real é menos equilibrada.

Diplomatas experientes, sobretudo aqueles vinculados a países estratégicos ou blocos organizados, costumam ditar o ritmo das negociações, articulando alianças e tentando orientar o resultado final.

As discussões seguem um roteiro conhecido. A primeira semana é dominada por negociadores especializados, que mergulham nos detalhes técnicos e tentam pavimentar acordos preliminares.

Só depois, na segunda fase, quando o tom político se impõe, ministros e autoridades de alto escalão entram em cena para selar, ou travar, os entendimentos construídos nos bastidores.

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Entre os protagonistas que devem ocupar o centro das atenções, alguns nomes já despontam. A ausência mais ruidosa, porém, é a dos Estados Unidos: o governo Trump optou por não enviar representantes de alto escalão à conferência no Brasil.

A decisão deixa um espaço sensível na mesa de negociações. Sem a presença da maior economia do planeta e segundo maior emissor de gases de efeito estufa, o tabuleiro diplomático tende a se reorganizar, e o impacto desse vazio pode alterar as correlações de força de maneiras difíceis de prever.

+ A revolta das cidades na COP30: a pressão por dinheiro, poder e voz nas negociações

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Mauricio Carvalho Lyrio, secretário para clima, energia e meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores, durante uma coletiva de imprensa pré-COP30 no Instituto Rio Branco, em Brasília, Brasil, na sexta-feira, 10 de outubro de 2025
Mauricio Carvalho Lyrio, secretário para clima, energia e meio ambiente do Ministério das Relações Exteriores, durante uma coletiva de imprensa pré-COP30 no Instituto Rio Branco, em Brasília, Brasil, na sexta-feira, 10 de outubro de 2025 (Getty/Getty Images)

Confira abaixo quem são as figuras centrais nas negociações

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Brasil: André Corrêa do Lago, Mauricio Lyrio e Liliam Chagas

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Figura histórica da diplomacia climática brasileira, André Corrêa do Lago volta a ter papel de relevo nos bastidores da COP30. Autor de referência sobre negociações ambientais e negociador-chefe do Brasil em edições anteriores da conferência, ele mantém interlocução direta com chancelerias estrangeiras e funciona como uma espécie de guardião da coerência da política climática brasileira no longo prazo.

Mauricio Lyrio, atual secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Itamaraty, assume a liderança formal da delegação enviada a Belém. Com passagens pelas embaixadas do Brasil na Austrália e no México, Lyrio acumula rodagem em comércio internacional, finanças globais e diplomacia multilateral. Como sherpa brasileiro em fóruns como o G20 e o Brics, consolidou a capacidade de costurar acordos complexos em arenas de alto nível.

A engrenagem técnica das negociações, por sua vez, é comandada por Liliam Chagas, diretora do Departamento de Clima do Ministério das Relações Exteriores. Chefe negociadora do país desde a COP28, em Dubai, ela tem coordenado as posições brasileiras em temas centrais — mitigação, adaptação, financiamento, florestas, equidade e gênero. Chagas repete que a conferência de Belém deve servir como ponto de virada e plataforma para a próxima década de ação climática.

China: Li Gao

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Em 2025, Pequim abriu espaço para uma nova liderança: Li Gao, nome que há anos sustentava a espinha dorsal técnica do país nas negociações, mas que só agora assume o protagonismo público.

Formado pela Universidade Tsinghua e com passagem por Yale, fluente em inglês e reconhecido pela habilidade em navegar debates complexos, Li foi alçado neste ano ao posto de vice-ministro do Ministério de Ecologia e Meio Ambiente.

A promoção coroou duas décadas dedicadas às negociações internacionais sobre clima e reforçou sua posição de arquiteto do programa de créditos de carbono da China.

Sua primeira grande prova veio no encontro pré-COP realizado em Brasília, onde liderou a delegação chinesa.

Ali, o país, que ocupa simultaneamente o papel de maior emissor do planeta e maior fabricante de tecnologias e equipamentos da transição verde, defendeu que a comunidade internacional resista ao avanço do unilateralismo e do protecionismo, fenômenos que, segundo Li, encarecem e atrasam a descarbonização global.

A COP30, portanto, marca a estreia de Li como rosto principal da atuação chinesa no palco climático, uma ascensão que simboliza tanto a renovação interna quanto a aposta de Pequim em consolidar uma liderança mais técnica e estratégica nas negociações.

Wopke Hoekstra: Conselho de Meio Ambiente da União Europeia encerrou sua reunião de 4 de novembro de 2025 comprometendo-se com uma meta obrigatória de redução de 90% das emissões de gases de efeito estufa até 2040
Wopke Hoekstra: Conselho de Meio Ambiente da União Europeia encerrou sua reunião de 4 de novembro de 2025 comprometendo-se com uma meta obrigatória de redução de 90% das emissões de gases de efeito estufa até 2040 (Getty/Getty Images)

União Europeia: Wopke Hoekstra

Arábia Saudita: Mohammad Ayoub

A Arábia Saudita segue sendo um dos atores mais duros nas negociações climáticas — e, neste ano, tende a chegar ainda mais confiante, especialmente após o enfraquecimento global das políticas verdes em meio aos ataques de Donald Trump à agenda climática.

Quem deve personificar essa postura em Belém é Mohammad Ayoub, o delegado que, já na noite de domingo, se levantou contra a simples inclusão de um item de pauta sobre como lidar com o provável estouro do limite de 1,5°C.

Riad tem um histórico consistente: rejeita qualquer acordo que mire setores específicos, sobretudo combustíveis fósseis. Isso não é surpresa, o país é o maior exportador de petróleo do mundo e depende da renda do crude para financiar desde o orçamento doméstico até os megaprojetos de modernização do príncipe Mohammed bin Salman.

A estratégia saudita costuma ser dupla: bloquear menções explícitas ao fim do petróleo e, ao mesmo tempo, promover soluções tecnológicas como captura e armazenamento de carbono, apresentando-as como caminho “mais realista” para a transição energética.

Na prática, Arábia Saudita e Índia já formaram uma espécie de eixo informal em Cops anteriores, barrando pressões para cortes mais rápidos de emissões.

Agora, com o cenário geopolítico mais fragmentado e grandes emissores questionando metas, a expectativa é de que Riad atue novamente para diluir qualquer linguagem que ameace diretamente os fósseis, mantendo o jogo em câmera lenta, exatamente onde ela gosta.

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