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Os desafios da conectividade global

Investimento em infraestrutura não é suficiente para que todos tenham acesso à internet; é preciso estratégia e políticas integradas com a educação

Por James Manyika and Helen Margetts
19 fev 2015, 22h05

Na última década, o número de novos usuários da rede de internet triplicou. Apesar disso, e ainda que uma grande maioria da população mundial continue sem ter acesso à internet, nos últimos anos, o ritmo de expansão abrandou consideravelmente. A revolução da internet estará perdendo o dinamismo?

Entre 2005 e 2008, o número de internautas cresceu a uma taxa anual de 15,1%, o que aumentou o número de pessoas conectadas para 2,7 bilhões. No entanto, de acordo com o último relatório do McKinsey Global Institute, no período entre 2010 e 2013 a taxa de crescimento desacelerou para 10,4%. Tendo em conta os enormes benefícios econômicos da conectividade, a procura de meios que permitam o acesso à internet aos quatro bilhões de cidadãos do mundo que restam deveria ser uma prioridade.

Evidentemente que não é tão simples quanto parece. Cerca de três quartos das pessoas sem acesso à internet (3,4 bilhões de pessoas) vivem em apenas 20 países. Em 2012, 64%, aproximadamente, viviam em zonas rurais, frente a apenas 24% dos usuários da internet, enquanto que cerca da metade vive abaixo da linha de pobreza e abaixo da renda média de seu país. Perto de 18% têm mais de 54 anos, frente aos cerca de 7% da população com acesso à internet, em torno de 28% são analfabetas, enquanto a taxa de alfabetização entre os usuários de internet está próxima dos 100%. Por fim, as mulheres representam 52% da população sem acesso à internet.

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Esses grupos enfrentam obstáculos consideráveis para assegurar a conectividade à internet, começando por uma infraestrutura insuficiente, incluindo uma deficiente cobertura de fornecimento de eletricidade e escassa cobertura de conexão a internet para telefones portáteis ou de acesso à rede.

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Outra barreira é a acessibilidade financeira: O acesso à internet é demasiado dispendioso para a maioria das pessoas com baixos rendimentos. Além da necessidade de dar resposta a uma concorrência insuficiente, regulamentação inadequada e impostos elevados aplicados a dispositivos que permitem a conexão à internet e aos serviços oferecidos, existe a dificuldade fundamental de brindar um acesso acessível às regiões mais remotas. Em dez países, principalmente na África e na região da Ásia-Pacífico, os preços fixados para a banda larga excedem o PIB per capita.

O terceiro grande obstáculo para a adoção da internet é a capacidade dos usuários. O elevado nível de analfabetismo entre as pessoas que não têm acesso à internet pressupõe muitas vezes não só a incapacidade de ler e escrever, como também a de utilizar tecnologias digitais. Estima-se que cerca de 43% dos cidadãos da Índia sem acesso à internet são analfabetos.

Sem soluções tecnológicas, como, por exemplo, interfaces para os usuários com funções que permitam converter texto em voz e o reconhecimento de voz, as pessoas que carecem de competência linguística básica terão dificuldades para aproveitar os conteúdos da internet. A falta de conteúdos relevantes em línguas locais também pode limitar a utilização.

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Para tornar a situação pior, as ideias erradas sobre a internet (por exemplo, a de que se trata de um risco para a segurança ou de que é apenas para os ricos) farão com que muitas pessoas continuem reticentes quanto à sua utilização, mesmo que o acesso venha a ser disponibilizado a preços mais acessíveis. Em muitas economias emergentes, a falta de confiança no sistema tem contribuído com a resistência ao comércio eletrônico.

O obstáculo final para a adoção da internet é a falta de incentivos. De acordo com os resultados de um estudo efetuado pelo Oxford internet Institute sobre a banda larga na África Oriental, pode ser que grande parte das pessoas pobres das zonas rurais saibam pouco ou nada sobre a internet, ou nunca tenham recebido uma oferta desse serviço. Tendo em conta os elevados custos que envolveria a adaptação dos conteúdos a esses usuários, é pouco provável que os prestadores de serviços de internet o venham a fazer, se não contam com incentivos claros, como o apoio governamental ou elevadas margens de lucro. Os anunciantes não estão interessados em chegar até esses mercados.

A McKinsey desenvolveu um novo Indicador de Obstáculos à internet (internet Barriers Index) que classifica 25 países desenvolvidos e em desenvolvimento segundo os resultados obtidos ao abordar aquelas dificuldades. Os cinco países que ocupam os primeiros postos são os EUA, a Alemanha, a Coreia do Sul, o Japão e Espanha. Os cinco países que ocupam os últimos postos são a Nigéria, o Paquistão, o Bangladesh, a Tanzânia e a Etiópia.

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Quase metade da população conectada do mundo vive em dez países que envidam esforços para superar os quatro obstáculos mencionados. Nos cinco países que ocupam a posição inferior no índice McKinsey, a taxa de penetração média da internet chegou a apenas 15% em 2013. A população sem acesso à internet consiste principalmente de jovens e habitantes das zonas rurais com baixos níveis de alfabetização.

Outros cinco países (o Egito, a Índia, a Indonésia, as Filipinas e a Tailândia) enfrentam obstáculos de dimensão média a elevada em todos os setores, especialmente em termos de infraestrutura e incentivos. Em 2013, esses países com população formada por mais de 1,4 bilhões de pessoas sem acesso à internet tinham uma taxa de penetração de 19%. (Outros 1,1 bilhão de pessoas residem em países onde apenas um obstáculo é dominante, em particular, a falta de conhecimento sobre a internet, o baixo poder de compra ou baixos níveis de alfabetização digital).

A determinação dos obstáculos específicos que afetam um país ou uma região permite a criação de soluções eficazes, entre outras coisas porque fica muito menos oneroso abordar alguns obstáculos, como por exemplo, o desconhecimento, ou outros como é o caso das infraestruturas. É esta a finalidade do Índice de Obstáculos à internet. Ao levantar os principais obstáculos sociais, políticos e econômicos à adoção da Internet, o índice pode contribuir para que as medidas adotadas pelos governos e fornecedores de serviços e de redes sejam mais específicas e eficientes possíveis.

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É claramente indispensável dar resposta aos enormes desafios que se colocam a uma maior expansão da utilização da internet. O resultado seria a possibilidade considerável de crescimento econômico. Muitos governos já reconheceram até certo ponto, definindo objetivos ambiciosos em matéria de cobertura de internet móvel, infraestrutura de banda larga e acesso público a Wi-Fi. No entanto, não basta investir em infraestruturas. Apenas por meio de estratégias abrangentes, específicas, adaptadas ao contexto nacional e apoiadas por um forte compromisso por parte das autoridades permitiria o acesso à internet a outros bilhões de pessoas.

James Manyika é diretor da McKinsey e do Instituto Global McKinsey. Helen Margetts é diretora do Oxford Internet Institute

Tradução: Roseli Honório

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© Project Syndicate 2015

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