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Origem da crise: como o RS chegou ao fim do poço

Como um Estado tradicionalmente empreendedor e organizado conseguiu se endividar a ponto de paralisar

Por Da redação
Atualizado em 22 nov 2016, 12h50 - Publicado em 22 nov 2016, 12h38

A atual crise do Rio Grande do Sul não cria espanto apenas aos gaúchos, mas a todos os brasileiros. Os números são assustadores: no ano passado, o déficit previdenciário foi de 8,5 bi de reais. Nos últimos sete anos, o rombo do sistema aumentou 187%. Até 2018, o valor aumentará para 8,8 bilhões de reais – se as medidas propostas não forem adotadas. Mas o caminho tortuoso das contas públicas não é recente.

Reportagem de VEJA , de Augusto Nunes e publicada em setembro, mostra que na segunda metade do século XIX, a terceira região mais rica do Brasil deslumbrou o restante do país com um cortejo de monumentos à modernidade. Nasceram em Porto Alegre o pioneiro Banco da Província, o imponente Theatro São Pedro, a Livraria do Globo e muitos outros requintes cosmopolitas. A linha férrea entre a capital e São Leopoldo, inaugurada em 1874, foi a gênese da malha viária que, em 1939, ligava por trilhos todo o território estadual, cujas dimensões equivalem às da Bélgica e superam São Paulo.

No século XX, o espírito empreendedor do gaúcho materializou-se na criação da Varig, na musculatura do agronegócio, na industrialização em larga escala e na crescente influência sobre a política nacional. Esse Rio Grande tem poucas semelhanças com o que, nesta década, perdeu para o Paraná o quarto lugar no ranking das economias estaduais e cedeu o título de Celeiro do Brasil ao Centro-Oeste, responsável por 40% da produção de grãos. “Isso se deve aos gaúchos que desembarcaram por lá há trinta anos”, afirma Luiz Carlos Bohn, presidente da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do estado (Fecomércio-RS). “Todos levaram na bagagem o capital financeiro, o capital intelectual e a capacidade empreendedora.”

Em dezembro de 2015, porém, a dívida com a União já alcançava 51,6 bilhões de reais. “Peguei o Rio Grande em situação de penúria”,  repetiu Sartori a frase que, desde 1982, quando se ressuscitou a eleição pelo voto direto, foi recitada por todos os governadores. Desde 1998, nenhum deles conseguiu um segundo mandato. Essa rotatividade obriga o ocupante do cargo a resolver em quatro anos complicações agravadas nos quatro anos anteriores.

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Tarso Genro acrescentou à herança invariavelmente intragável aumentos salariais, aprovados pela Assembleia Legislativa, que Sartori terá de pagar a milhares de funcionários públicos em 2016, 2017 e 2018. Em dois anos de inquilinato no Palácio Piratini, o sucessor de Tarso procurou reduzir a gastança com cortes no orçamento, a suspensão por seis meses de nomeações e concursos públicos, a interrupção do pagamento da dívida contraída com a União, a aprovação de uma Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual e o parcelamento dos salários dos servidores pagos com atraso. A usina de greves administrada pelo professorado, uma poderosa força sindical, revidou com sucessivas paralisações. Só em 2016 os dias parados já estão perto de 100. A constante interrupção das aulas ajuda a explicar por que um sistema educacional que foi até recentemente o melhor do país agora amarga um medíocre sexto lugar na avaliação do ensino fundamental.

“O Estado ficou parecido com a Grécia”, comparou Sartori. “Uma Grécia sem os países ricos do euro para ajudar”, emendou Aod Cunha, secretário da Fazenda de Yeda Crusius, o único a livrar o governo do vermelho nos últimos vinte anos. Num artigo publicado no jornal Zero Hora poucos meses depois de assumir o cargo, o secretário defendeu o que batizou de “desargentinização do Rio Grande do Sul”. Como fez a Argentina depois da ascensão de Juan Perón ao poder, o Rio Grande do Sul foi longe demais na política estatizante, na ampliação do funcionalismo e na instituição de privilégios que eternizaram o rombo nas contas públicas. Era (e é) hora de percorrer o caminho oposto.

Aod adverte, contudo, que a proeza ocorrida em 2007 e em 2008 não será reprisada tão cedo. “Essa coisa do gaúcho do acirramento da briga política, do tudo ou nada, precisa mudar. Sem o apoio da sociedade, não há solução”, resume. “Chegamos ao fundo do poço por causa da ausência de grandes líderes”, acredita Simone Leite, presidente da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul). “Precisamos de alguém capaz de unir os gaúchos.”

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