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O yuan vai afundar?

Barry Eichengreen afirma que as políticas do Federal Reserve não impactaram apenas os emergentes "vulneráveis"; o yuan também pode recuar

Por Barry Eichengreen
28 mar 2014, 07h36

Desde dezembro, quando o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) deu início ao tapering, jargão econômico para explicar a redução gradual no programa de estímulos monetários de suas compras mensais de ativos em longo prazo, moedas de mercados emergentes caíram a todos os níveis. A exceção principal, até recentemente, era o indomável yuan da China, também chamado de renminbi. Mas, agora, a moeda chinesa também vem caindo frente ao dólar. Será essa mais uma evidência do impacto negativo da política do Fed?

O declínio do renminbi não é grande – e não é certo que continue. Mas o movimento é notável pelos padrões daquela que ainda é uma moeda fortemente controlada pelo estado, e está indo em sentido contrário do que todos esperavam.

Certamente, a redução gradual da política de estímulos do Fed surtiu algum efeito. Uma estratégia padrão de se fazer dinheiro para os investidores com acesso aos mercados financeiros chineses tem sido a de emprestar dólares a juro baixos e comprar ativos de alto rendimento da China. Mas a redução gradual, que pode pressionar maiores taxas de juros nos Estados Unidos, torna mais caro emprestar dólares e investir em ativos chineses. À medida que investidores tomam empréstimos a juros reduzidos no curto prazo, a procura pelo renminbi diminui e a sua taxa de câmbio se desvaloriza.

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Mas, embora o Fed esteja aplicando a redução gradual desde dezembro, a fragilidade do renmimbi apenas materializou-se em fevereiro. Evidentemente, há algo mais acontecendo. A realidade é que a moeda da China, rigidamente controlada, cai somente quando o banco central chinês (People’s Bank of China, ou PBOC) determina. O PBOC, não o Fed, escolhe a melodia de acordo com a qual o renminbi deve dançar. Então, porque ele tem cantando a canção da depreciação?

Uma possibilidade é que ter um renminbi mais fraco, paradoxalmente, seja parte da estratégia do governo chinês para incentivar a sua utilização internacional de forma mais ampla. A China está empenhada em ampliar o papel do renminbi para fins relacionados a investimentos e comércio exterior. No fim das contas, o governo chinês gostaria de ver o renminbi alcançar um status internacional comparável ao do dólar.

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Para isso, a China terá de ampliar seu mercado financeiro e abri-lo aos investidores estrangeiros. Mas a abertura só é viável se as autoridades eliminarem a percepção de que as flutuações cambiais são uma proposta de sentido único. Enquanto os investidores apostam na valorização do renminbi, a abertura de mercados do país fará com que seu sistema financeiro fique inundado de dinheiro estrangeiro, com consequências financeiras desagradáveis, não menos das que tem a inflação.

Os investidores estrangeiros, portanto, precisam ser advertidos de que o renminbi tanto pode cair, como subir. Alguns observadores consideram a recente queda do renminbi como uma tentativa de pressionar os especuladores e sinalizar o advento de uma taxa de câmbio mais flexível. Eles acreditam que o PBOC está prestes a ampliar a banda de negociação de moeda.

Em caso afirmativo, os recentes movimentos do mercado do PBOC têm aspecto positivo. Se há uma lição que a história mostra claramente é que a combinação de mercados financeiros abertos e uma taxa de câmbio rígida é desastre anunciado. China já começou a abrir os seus mercados financeiros. Assim, uma maior flexibilidade da taxa de câmbio já devia ter ocorrido.

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Uma segunda interpretação menos positiva é que o PBOC está enfraquecendo o renminbi a fim de impulsionar as exportações chinesas. Reagindo contra os excessos no mercado imobiliário do país e o sistema bancário paralelo (shadow banking system), o PBOC mudou, não exageradamente, para limitar a disponibilidade de crédito barato. Mas isso pode ter feito com que o crescimento da procura interna diminuísse mais rapidamente do que o esperado. E, impulsionar as exportações, é claro, é a habitual resposta da China ao enfraquecimento da procura interna.

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Esta interpretação menos encorajadora do enfraquecimento recente do renminbi sugere que os esforços oficiais para reprimir o sistema bancário paralelo não estão indo bem, e que o esforço para projetar uma aterragem econômica suave não está em curso. Se esta perspectiva estiver correta, os esforços para reequilibrar a economia chinesa poderiam agora ser protelados, o que não seria nada bom para o futuro da estabilidade econômica e financeira.

Além disso, se a China está empurrando o renminbi para baixo com o intuito de estimular as suas exportações, a sua política não ficará bem com seus concorrentes estrangeiros, sejam eles os Estados Unidos ou o Japão. Reclamações sobre a manipulação da moeda e as tensões diplomáticas associadas retornarão rapidamente.

A China não é transparente o suficiente para que, de fora, se possa saber qual a interpretação está correta. Os futuros movimentos da moeda renminbi contarão a história. As flutuações para cima e para baixo seriam sobretudo um sinal de que o objetivo das autoridades políticas é eliminar as apostas unidirecionais e avançar a causa da internacionalização do renminbi. Um declínio secular, por outro lado, indicaria que a demanda na China está enfraquecendo e o reequilíbrio foi suspenso.

Por enquanto, a única coisa que os observadores podem fazer é ver de perto e esperar o melhor. E é o PBOC que eles devem observar, e não o Fed.

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Barry Eichengreen é professor de Economia e Ciência Política na Universidade da Califórnia, em Berkeley

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate, 2014

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