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O rápido crescimento econômico dos Estados Unidos

Professor de economia da Universidade Harvard mostra quais são as forças capazes de empurrar o PIB americano para uma expansão saudável neste e nos próximos anos

Por Martin Feldstein*
1 jun 2014, 15h53

Em dezembro passado, especulei que em 2014 o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos Estados Unidos aumentaria da deficiente taxa média anual de 2% nos últimos quatro anos para cerca de 3%, aproximadamente, com o que duplicaria, na realidade, a taxa de crescimento per capita. Agora que a economia dos EUA superou o impacto de momentos terríveis durante os primeiros meses do ano, parece que a produção está a caminho de crescer em um ritmo saudável.

A principal força motriz por trás do crescimento do PIB ao longo deste ano é o aumento de 10 trilhões de dólares da riqueza das famílias, ocorrido em 2013. De acordo com o Fed (Federal Reserve, o banco central americano), tal crescimento refletiu em um aumento de 2 trilhões de dólares no valor dos imóveis e de 8 trilhões de dólares no valor das ações, das empresas e de outros ativos financeiros líquidos. Como explicou o ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, quando lançou as compras de ativos no programa de flexibilização quantitativa, esse aumento da riqueza – e o consequente aumento no consumo – era o resultado que se esperava.

Experiências anteriores sugerem que a cada aumento de 100 dólares na riqueza familiar propicia um crescimento gradual do consumo até um nível de cerca de 4 dólares. Isso significa que os 10 trilhões de dólares de aumento da riqueza incrementarão o nível anual de consumo em cerca de 400 bilhões de dólares, ou seja, 2,5% do PIB, aproximadamente. Mesmo que menos de metade do aumento anunciado aconteça em 2014, será o suficiente para elevar a taxa total de crescimento do PIB em um ponto porcentual.

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Os dados mostram que um aumento significativo do consumo já está ocorrendo. Os gastos reais de consumo pessoal registraram taxas de crescimento de 3% entre o quarto trimestre de 2013 e o primeiro trimestre deste ano.

Dentro do primeiro trimestre, o aumento mensal do gasto real de consumo acelerou de apenas 0,1% em janeiro para 0,4% em fevereiro e 0,7% em março. Foi mais rápido que o crescimento mensal de 0,3% na receita pessoal disponível durante esse período, destacando a importância da riqueza como um motor de gastos.

Outra indicação do papel da riqueza no impulso do consumo é a redução da taxa de poupança doméstica. A poupança doméstica total como porcentual do rendimento disponível caiu dos 6%, aproximadamente, em 2011 e 2012 para apenas 3,8% no trimestre mais recente.

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A construção habitacional também está respondendo ao aumento da riqueza. O número de novas casas em construção e o custo do imóvel residencial caiu depois que o Fed anunciou que graças à retirada da flexibilização quantitativa, houve um aumento nas taxas de juros sobre empréstimos hipotecários. Mas essa ocorrência mudou completamente, pois entre o mês de abril do ano passado e este ano a construção de novas moradias aumentou 26%, e as vendas de casas novas e usadas disponíveis estão subindo rapidamente.

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Com maiores gastos de consumo e aumento nos investimentos em moradias, a demanda de mão de obra foi impulsionada, com um aumento em número de empregos de 288.000 em abril, superior à média mensal de 200.000 nos meses anteriores deste ano. Se continuar assim, propiciará uma taxa mais rápida de aumento do rendimento familiar e consumo.

O efeito favorável do aumento da riqueza das famílias está sendo reforçado este ano com a melhora da situação fiscal. Em 2013, o crescimento da economia ficou travado devido aos aumentos de impostos, cortes nos gastos governamentais devido ao processo de embargo, “suspensão” temporal do governo, bem como a possibilidade de que o limite máximo da dívida exigisse uma redução nos gastos do governo. Quanto à perspectiva de déficit de crescimento e restos de dívida pública em longo prazo, o acordo de orçamento bienal adotado pelo Congresso dos Estados Unidos indica que a economia não estará sujeita a tais choques fiscais negativos em 2014 ou 2015.

O principal desafio que confrontará a economia nos próximos dois anos recairá sobre o Fed, que por sua vez deve controlar as pressões inflacionárias que possam surgir como reação dos bancos comerciais diante de uma economia mais sólida, ao aumentar a concessão de empréstimos a empresas e famílias. Os bancos comerciais têm uma alta liquidez, sob a forma de excesso de reservas no Fed, o que poderia fazer que a inflação representasse um risco significativo.

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Atualmente, os bancos são rentáveis o suficiente para deixar esses fundos no Fed, onde ganham apenas 0,25% porque são livres de risco, gozam de total liquidez e estão livres de requisitos de capital mínimo. A alternativa é emprestar comercialmente a taxas de juros relativamente baixas, com menor liquidez, maior risco e sem exigências de provisão de capital.

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Mas chegará um momento em que os bancos vão querer utilizar seu excesso de reservas para apoiar empréstimos mais rentáveis. Então, o Federal Reserve terá de aumentar as taxas de juros pagas sobre o excesso de reservas para limitar a extensão com que os bancos comerciais possam utiliza-las para criar empréstimos e depósitos adicionais.

Esse equilíbrio será difícil. Se a taxa de juros subir muito pouco, os bancos usarão mais reservas para apoiar empréstimos, levando a uma inflação mais alta. Se a taxa de juros subir muito, a atividade econômica será limitada e o crescimento poderá ficar deflacionado.

A situação atual diverge do cenário tradicional, em que o Fed controlava a quantidade de reservas utilizadas por parte dos bancos, ajustando a taxa dos fundos federais (a taxa com a qual os bancos emprestam suas reservas mutuamente). A principal diferença é que agora o Fed terá de pagar juros sobre quase 2,5 trilhões de dólares de excesso de reservas que acumulou.

A economia dos Estados Unidos está atualmente em uma via favorável de expansão, mas manter-se nela será um desafio importante para o Federal Reserve durante o restante do ano.

*Martin Feldstein é professor de economia na Universidade Harvard e presidente emérito do National Bureau of Economic Research, presidiu o Conselho de Assessores Econômicos do presidente Ronald Reagan de 1982 a 1984.

(Tradução: Roseli Honório)

© Project Syndicate, 2014

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