O que pensa o mercado sobre Fernando Haddad?
O ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo vai comandar o Ministério da Fazenda no governo Lula
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) indicou Fernando Haddad, ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, para comandar o Ministério da Fazenda, confirmando o que já vinha sendo aventado pelo mercado. A pasta é considerada uma das mais importantes e por isso havia uma grande expectativa em torno do nome. Essa é a primeira nomeação de Lula para a composição dos ministérios e acontece 39 dias após a sua vitória nas urnas e há menos de um mês para a posse presidencial.
A escolha não agrada ao mercado, que esperava por um nome mais técnico e de renome na política econômica ortodoxa. O Ibovespa encerrou o dia em queda ontem de quase 2%, após a notícia que o governo anunciaria o ministro da Fazenda nesta sexta-feira, 9, e os rumores darem como certo a escolha de Haddad. O político não tem largo histórico e currículo na área e suas declarações recentes também deixaram o mercado em polvorosa. No dia 25 de novembro, durante uma palestra na Febraban, Haddad questionou a instrumentalidade do teto de gastos, afirmando que o teto não foi capaz de frear a piora nas despesas públicas, e falou da necessidade de priorizar a reforma tributária. Naquele dia, a bolsa afundou 2,55%, aos 108.976 pontos. O dólar fechou em alta de 1,86%, cotado a 5,41 reais, e a curva de juros de subiu de 14,31% para 14,44% nos contratos DI para 2024. Desde o dia 7 de novembro, quando o nome de Haddad começou a circular como um dos nomes prováveis para o cargo, a bolsa acumula queda de 9%. O Ibovespa opera em alta no dia de hoje, mas segundo especialistas o evento está descolado da confirmação de Haddad. O movimento ao desempenho das ações ligadas às commodities e aos dados de inflação nos EUA e do IPCA no Brasil, que vieram melhores.
A indicação de Haddad também traz alguns questionamentos ao mercado sobre a autonomia do ministro frente a Lula, se ele terá as rédeas de suas funções e força para conter os ímpetos mais gastadores do presidente. Agora, a escolha da equipe econômica será fundamental para entender a direção econômica do governo Lula e do papel que Haddad cumprirá no cargo. Confira a reação do mercado e o que pensam sobre Fernando Haddad na Fazenda.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos
“O nome de Haddad para Fazenda traz alguns questionamentos sobre a ‘autonomia’ que o mesmo teria frente ao Lula. Evidentemente que não há como um Ministro da Fazenda fazer algo que o presidente da República não queira, pelo menos, não por muito tempo. Contudo, questiona-se se Haddad seria capaz de encampar um embate contra Lula caso seja aconselhado (tecnicamente) a tentar conter alguns ímpetos do presidente.”
Renato Breia, sócio-fundador da Nord Research
“Quando surgiram os rumores dessa indicação pela primeira vez, o mercado reagiu muito mal. De de lá pra cá, o governo passou sinais tão ruins com a PEC da Transição e centenas de nomes e pessoas pouco qualificadas que remetem a governos anteriores do PT, que parece que ele está mais no caminho do Dilma e Lula 2 do que o Lula 1, que todo mundo do mercado sonhava – pelo menos, parte do mercado financeiro acreditava que isso fosse possível, eu nunca acreditei. A bolsa já caiu mais de 8% desde esses rumores, os juros explodiram, a curva inclinou e o mercado já não considera mais corte de Selic no próximo ano, então a sinalização é muito ruim. Haddad não é um nome técnico, o que resta saber agora para o mercado é como vai se comportar o Congresso. Se o Congresso for duro e responsável, podemos voltar a ter alguma esperança, mas se o Congresso for frágil e fraco, então, podemos ter realmente um caos.”
Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil
“Haddad não é um nome que inspira muita confiança no mercado, por além de não ser um nome técnico e de renome no meio econômico, é fruto da política do PT, e do fisiologismo político tradicional, que para muitos liga o sinal de alerta. A grande ‘pulga atrás da orelha’ que o mercado poderia dormir sem é saber qual força irá conduzir a Fazenda, o lado técnico do Pérsio Arida e equipe, focado em boas políticas públicas direcionadas para a geração de emprego, renda, e crescimento do Brasil, ou se o viés mais político capitaneado por Haddad, com mais estado na Economia, aumentando a máquina e os gastos do país. Fica essa dúvida, que adiciona incerteza, insegurança, e falta de previsibilidade, tudo o que o mercado financeiro não gosta.”
Rodrigo Marcatti economista e CEO da Veedha Investimentos
“O mercado é mais pragmático e o Haddad não tem carreira no mercado financeiro, ele não é economista. Isso acaba deixando o mercado financeiro mais apreensivo de como será sua condução como ministro da Fazenda. Muito mais do que a figura do Haddad, o importante é a equipe técnica, que pode estar mais alinhada ou menos alinhada com o mercado. A desconfiança é porque a escolha do Haddad aproxima o governo de uma gestão mais parecida com governo Dilma – mais ‘gastão’ e menos preocupado com dívida pública – e a gente já conhece um pouco essa história.”
Ricardo Jorge, especialista em investimentos e sócio da QUANTZED
“O mercado não gosta do nome e, por esse motivo, os ativos de risco têm sofrido nesses últimos dias. O Haddad não é um técnico da área de economia e acho que essa nomeação tem um viés muito mais político do que técnico porque, se o Lula colocasse um outro nome que não tivesse tanto comprometimento e fidelidade, um nome de confiança, provavelmente não conseguiria dar os ‘pitacos’ dele na economia. O mercado já vinha precificando essa possibilidade há muito tempo.”