O plano de socorro não planejado de Bolsonaro ao varejo
A aprovação da PEC das Bondades, que vai injetar bilhões na economia com ampliação de benefícios, tem potencial de impulsionar o setor
A aprovação da PEC das Bondades que vai injetar 41,25 bilhões de reais na economia com a ampliação dos benefícios sociais parece estar encaminhando as ações das varejistas para um patamar de alta. Nesta semana, em meio ao avanço da proposta no Congresso, o setor foi destaque entre as empresas que lideraram a alta do Ibovespa. A medida populista e de caráter eleitoreiro de Bolsonaro pode acabar servindo como um plano de socorro ao setor, bastante penalizado com a inflação e a alta de juros.
Na terça-feira, as ações da Magazine Luiza encerram o dia com alta de 11,41%, dando fortes sinais de recuperação para os papéis da varejista, que acumula perdas de 56% no ano. As da Via Varejo também avançaram 9,44% e da Americanas subiram 8,26%. “Qualquer correção ou repique nesse setor do varejo acaba sendo bem relevante devido à grande queda que os ativos sofreram nos últimos meses”, comenta Vitorio Galindo, chefe de análise fundamentalista da Quantzed. Embora todas estejam com perdas no acumulado do ano, o mês de julho tem registrado alívio. No mês, Via Varejo registra ganhos de 34%, Magazine Luiza de 26%, e Americanas de 25%.
A melhora está relacionada com a desvalorização das commodities, que acaba refletindo na perspectiva de redução inflacionária. A queda do petróleo tem gerado para o mercado uma visão de que a inflação pode estar diminuindo ou pelo menos estabilizando. “Vemos, com isso, uma queda na curva de juros. E os principais setores beneficiados com queda nos juros são os de comércio, varejo e construção civil”, diz Galindo.
Os efeitos da injeção de capital da PEC, que beneficia classes estratégicas também tem potencial de impulsionar esse papéis, pois estimula o consumo. O pacote de bondades amplia para 600 reais o Auxílio Brasil, eleva o valor do vale-gás e cria um auxílio de 1 mil reais para caminhoneiros e outro para taxistas, ainda sem valor definido. A população de baixa renda tem propensão marginal de consumo mais alta, à medida que acessa mais recursos (de forma a pagar dívidas contraídas e se alimentar melhor). “A cada real adicional na renda da população mais pobre, 100% desse aumento retorna para a economia via gastos”, diz Daniel Miraglia, economista-chefe da Integral Group. Na avaliação de Rodrigo Marcatti economista e CEO da Veedha Investimentos, a redução no preço dos combustíveis com a medida do ICMS e a queda do preço da energia vão aliviar a renda das famílias, garantindo uma sobra, que deve ser direcionada para o consumo no varejo.
A perspectiva de redução da inflação no levantamento do Boletim Focus, saindo da mediana de 8,89% para 7,96% ao final do ano, também melhoraram as expectativas do mercado com o setor. Apesar das projeções mais baixas, a inflação medida pelo IPCA continua subindo. Nos últimos 12 meses, a inflação do país acumula alta de 11,89%.