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O limite para encolher o tamanho dos apartamentos: 10m²

Imóveis com metragem reduzida buscam comprador que quer morar perto do trabalho sem gastar tanto - mas a vida nesse espaço exige adaptações

Por Éder Fantoni
Atualizado em 11 set 2017, 16h47 - Publicado em 8 set 2017, 07h02

Quantos metros quadrados são necessários para uma pessoa viver com um mínimo de conforto? A construtora Vitacon se propôs a responder à pergunta: ela inaugura em 2019 um empreendimento com apartamentos de 10m².

A Vitacon vem testando a possibilidade de reduzir apartamentos já faz um tempo. Começou com unidades de 43m², depois reduziu para 30m², passou para 20m² e, então, 18m². Até que no ano passado anunciou o lançamento de um empreendimento com apartamentos de 14m², o que já havia causado espanto no mercado.

Agora, a empresa anuncia a construção do menor apartamento da América do Sul. Alexandre Frankel, CEO da Vitacon, diz que esse tamanho tem explicação. “É importante dizer que 10m² não existem por fetiche. É o menor que dá para fazer agora.”

Para conhecer de perto a experiência, Frankel passou uma semana no Japão, onde dormiu em ‘dormitórios-cápsula’ – espaços com cerca de um metro de altura por um metro de largura. Ele diz que compactar espaços é uma nova filosofia de moradia.

“A ideia é deixar tudo mais acessível e democrático. As pessoas com menos dinheiro têm duas alternativas: comprar o que cabe no bolso e morar longe do trabalho ou compactar. Quem escolhe esse modelo vai a pé para o trabalho, escola, academia, fica perto de tudo o que gosta. Isso vale mais que um apartamento grande”, defende ele.

Mas será que há demanda para os microapartamentos? Dados do Secovi-SP (Sindicato da Habitação de São Paulo) mostram que eles ainda são minoria, indicando que o consumidor prefere unidades maiores. Dos 19.359 imóveis lançados na cidade de São Paulo em 2016, apenas 461 (2,4%) tinham até 30 m² – tamanho para ser considerado um apartamento compacto. A maioria era de unidades entre 45m² e 65 m² – 42% do total.

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Para Ana Castelo, coordenadora de estudos de construção civil da FGV (Fundação Getúlio Vargas), os microapartamentos atendem jovens e solteiros, mas não têm o tamanho desejado por quem está disposto a comprar um imóvel. “Não acho que imóveis com esse tamanho [da Vitacon] serão o padrão dos próximos anos. São para pessoas que ficam pouco tempo em casa, vão só para dormir. Atende um nicho bem específico”, diz Ana.

Segundo Mauro Peixoto de Oliveira, consultor-adjunto da Embraesp (Empresa Brasileira de Estudos de Patrimônio), esse tipo de imóvel pode atrair pessoas que trabalham em uma cidade e moram em outra. “As estradas estão engarrafadas, então é possível que essas unidades se mostrem interessantes para esse público ou empresas. Mesmo assim, não acho que seja uma tendência.”

(Heitor Feitosa/VEJA.com)

Adaptações

Reinaldo Fincatti, diretor da Embraesp, alerta para as dificuldades de adaptação dos móveis utilizados nos microapartamentos. “Como o morador vai se sentir? Vai ter o confronto psicológico para viver em um ambiente tão restrito? É menor do que um quarto. É um conceito novo para uma nova concepção de vida”, afirma Fincatti.

O apartamento decorado de 10m² ainda não está pronto. Por enquanto, a construtora fez um vídeo simulando como seria a vida dentro desse espaço. O vídeo mostra que tudo precisa ser adaptado, os móveis necessitam ser milimetricamente planejados para otimizar o espaço diminuto.

A planta do apartamento de 10m² prevê espaço para banheiro, uma sala-quarto e uma bancada com pia e cooktop. Não cabe uma geladeira comum, apenas frigobar. A mesa precisa ser dobrável e serve tanto para fazer refeições como trabalhar. O painel da TV deve se mover para poder abrir o guarda-roupa minúsculo. Não dá para ter sofá e cama, apenas um ou outro ou sofá-cama. Para compensar, haverá espaços compartilhados, como lavanderia, academia, cozinha e sala para receber amigos.

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A Vitacon vai vender os seus apartamentos de 10m² por cerca de 100 mil reais, o equivalente a 10 mil reais por m². O condomínio custará entre 300 e 400 reais mensais.

“Esse tipo de empreendimento possui preços maiores pela sua estrutura e localização. O custo para produzir um imóvel menor de pé alto acaba saindo mais caro do que um imóvel maior. O valor final é mais baixo, embora custe mais por metro quadrado”, diz Flavio Amary, presidente do Secovi-SP.

Gilberto Belleza, presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo, questiona a relação entre preço final e m². “Pode até parecer barato, mas, no fim das contas, não é. Para quem pensa em comprar um apartamento desse é preciso fazer uma série de análises. Muitas pessoas não conseguem visualizar como é morar em um espaço tão pequeno”, diz.

Os apartamentos compactos são erguidos, geralmente, em regiões de fácil acesso e concentradoras de empregos. O da Vitacon, por exemplo, fica próximo às estações Santa Cecília e Marechal Deodoro do metrô. Em outubro deste ano, a Setin Incorporadora vai entregar apartamentos de 18m² a 20 m² na esquina da rua da Consolação com a avenida São Luís, também no centro, perto das estações República e Anhangabaú do metrô.

Um apartamento de 18 m² quadrados neste empreendimento, o Downtown São Luís, custa a partir de 269 mil reais, dependendo do andar. A garagem é vendida separadamente, por cerca de 80 mil reais.

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O empreendimento fica no bairro da Consolação, onde o preço médio do metro quadrado é de 10.331 reais, segundo o site Agente Imóvel. Por outro lado, o preço do metro quadrado do apartamento localizado no terceiro andar do novo empreendimento da Setin é de 16.210 reais.

Antonio Setin, presidente da Setin Incorporadora, diz que, além do preço por metro quadrado ser maior nesse tipo de empreendimento, há outros fatores que devem ser levados em consideração.

“Temos que entender que não são somente aqueles metros quadrados da porta para dentro. Tem que ver o que tem do lado de fora. Perto do prédio tem padaria, biblioteca, boates, barzinhos, restaurantes, metrô, o Terraço Itália”, disse Setin, que lembrou ainda que um apartamento desse tamanho “não faria sentido” em longe do centro.

(Heitor Feitosa/VEJA.com)

“É como viver num hotel”

A executiva de finanças Gabriela Thomé, de 28 anos, morava com os pais nos Jardins, bairro nobre de São Paulo. Em abril deste ano, se mudou para um apartamento de 28 m² na Vila Olímpia. Segundo ela, o tamanho é seis vezes menor do que a casa de seus pais.

Gabriela adquiriu o apartamento para investimento. Pensava em alugá-lo. Mas gostou do local e do empreendimento e decidiu se mudar para lá. Ela contratou um arquiteto focado em apartamentos compactos, “pois é desafiador fazer caber tudo”.

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O apartamento é como um loft. Possui um banheiro pequeno e uma cozinha americana. A executiva conta que tem um sofá-cama e os móveis são embutidos. Os eletrodomésticos são estrangeiros. Segundo ela, foram comprados de uma marca que desenvolve produtos justamente para pessoas que moram em ambientes pequenos.

“Eu me sinto como em um hotel”, diz ela, que gosta desse tipo de moradia. “A minha adaptação foi fácil. Aqui eu posso utilizar o que o prédio me proporciona, como sauna, piscina, e há um espaço gourmet onde posso receber meus amigos”, afirma Gabriela. Ela diz ainda que o ambiente não fica com cheiro de comida e não utiliza a lavanderia compartilhada para lavar as suas roupas – ela paga pelo serviço por fora.

A maior dificuldade de morar num espaço tão reduzido como este, segundo ela, é a adaptação. “Tem que ser uma pessoa organizada. Não dá para ter o espaço da bagunça”, diz ela. Uma pessoa que costuma ficar muito em casa pode não se adaptar bem.

“Esse tipo de empreendimento é só para dormir. Eu, por exemplo, estou sempre estudando, fazendo curso, trabalhando, viajando, faço academia. Eu recomendo esses apartamentos compactos para quem tem esse estilo de vida no momento”, afirma.

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