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O guia para um mercado em evolução nos investimentos

Com crescente oferta de novos produtos e mudanças regulatórias, o mercado brasileiro de fundos exige cada vez mais atenção de quem investe

Por Juliana Machado 29 nov 2024, 06h00
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  • A indústria brasileira de fundos de investimento nunca esteve tão viva. Entre tormentas e bonanças, a verdade é que houve, nos últimos anos, um crescimento de todas as classes de produtos, dos mais conservadores aos arrojados — e com a criação de alternativas cada vez mais sofisticadas para os investidores. Só nos últimos dez anos, o patrimônio líquido dos fundos cresceu 247%, evoluindo de 2,7 trilhões de reais em 2014 para 9,3 trilhões em 2024, conforme dados da Anbima, entidade reguladora da indústria. “O mercado conseguiu oferecer diversas soluções em diferentes ciclos da economia na última década”, diz Pedro Rudge, diretor da Anbima. “A tendência é de continuarmos a ver essa diversificação, com uma indústria que está ficando madura de todos os lados, dos investidores aos administradores, dos gestores aos distribuidores.”

    No país do rentismo, onde a taxa básica de juros insiste em permanecer em níveis mais elevados, os produtos ligados à Selic e a outros indexadores de renda fixa continuam crescendo. Em dez anos, todo o setor — fundos de ações, multimercado, passivos e estruturados — registrou um crescimento de patrimônio líquido, mas foram os produtos de renda fixa os que mais consolidaram recursos: o avanço no período foi de 200%, somando 3,7 trilhões de reais, o maior montante entre todas as classes de fundos.

    O Guia de Fundos VEJA Negócios é uma iniciativa em parceria com a consultoria Elos Ayta e se dedicou a avaliar os fundos de investimento com maior consistência de retornos no longo prazo. Para isso, a indústria de fundos brasileira foi dividida em dez categorias: ações, multimercado sem crédito privado, multimercado com crédito privado, renda fixa com crédito privado e renda fixa sem crédito privado. Tais separações também foram aplicadas aos produtos de previdência, gerando mais cinco categorias nesse segmento.

    – A metodologia usada por VEJA Negócios para definir os vencedores
    Categoria Fundos de Ações: Absolute Pace FIA, da Absolute Investimentos
    – Categoria Fundos Multimercados sem Crédito Privado: JGP Max FIM, da JGP Gestão de Recursos
    – Categoria Fundos Multimercados com Crédito Privado: JGP Corporate Plus FIM CP, JGP Gestão de Crédito
    – Categoria Fundos RF sem Crédito Privado: BRAM FIRF Target, do Bradesco
    Categoria Fundos RF com Crédito Privado: BRAM FIRF CP, do Bradesco
    – Categoria Fundos de Ações Previdência: Icatu Seguros FIA Prev, da Icatu Vanguarda
    – Categoria Fundos Multimercados sem Crédito Privado – Previdência: Absolute Prev FIM, da Absolute Investimentos
    – Categoria Fundos Multimercados com Crédito Privado – Previdência: BTG Pactual Cred Corp Prev FIM CP, do BTG Pactual Asset Management
    Categoria Fundos RF sem Crédito Privado – Previdência: Santander Prev Equilínio FIRF, do Santander Brasil Gestão de Recursos
    – Categoria Fundos RF com Crédito Privado – Previdência: Itaú Flexprev Active Fix FIRF CP, do Itaú Unibanco Asset Management

     

    Pedro Rudge, diretor da Anbima: a indústria de fundos está cada vez mais madura no Brasil
    Pedro Rudge, diretor da Anbima: a indústria de fundos está cada vez mais madura no Brasil (Alessandro Couto/.)
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    A perspectiva de que a taxa de juros seguirá em alta no país vem concentrando o fluxo mais recente em produtos de renda fixa — como já se viu no passado. Só no acumulado de 2024 até outubro, a entrada de recursos já supera 312 bilhões de reais, a maior captação da série iniciada em 2006. “A tendência é de que, ao menos até o primeiro semestre do ano que vem, esse ritmo continue”, afirma Rudge. “Existem produtos dentro do segmento que têm sido demandados, como as debêntures incentivadas, que trazem isenção fiscal para o investidor.”

    Enquanto os fundos de renda fixa vêm drenando os recursos dos investidores, os mais diversificados lutam pela sobrevivência. A mortalidade dos produtos multimercado salta aos olhos: 14,4% dos fundos desse tipo disponíveis no mercado em 2024 foram encerrados, a maior proporção em dez anos, segundo estudo da consultoria Elos Ayta. E mais: embora o patrimônio desses fundos tenha crescido junto com a média do setor na última década, dados mais recentes mostram que o cenário tem sido inóspito. Neste ano, até outubro, a sangria de recursos de multimercado já atingiu 235,6 bilhões de reais — também é o maior montante para o período da série histórica com início em 2006. “Nos últimos anos, os gestores acertaram menos e não conseguiram capturar as tendências e transformá-las em performance”, diz Rudge.

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    A sofisticação da indústria permitiu um impressionante crescimento para os exchange-traded funds (ETFs, na sigla em inglês), fundos negociados em bolsa e que replicam o desempenho de um índice de mercado. O patrimônio líquido da classe registrou uma expansão de 1 243% em uma década, chegando a 44,3 bilhões de reais. Além disso, o avanço da indústria de fundos também estimulou o progresso da área de previdência. O que antes era um campo fértil para a oferta de produtos com taxas altas e pouca gestão ativa, hoje oferece alternativas mais complexas e interessantes ao investidor. Nessa classe, o crescimento do patrimônio líquido em uma década foi de 275%, saindo de 400 bilhões de reais em 2014 para 1,5 trilhão de reais atualmente.

    Rudge lembra que a Susep, autarquia que fiscaliza o mercado de previdência complementar, trouxe avanços para o segmento ao permitir que fundos com esse propósito investissem no exterior e concentrassem até 70% do patrimônio em ações, quando destinados a investidores em geral. Junto com o crescimento das plataformas de distribuição, esse é um mercado que ganhou protagonismo nos últimos anos. “Cada vez mais o investidor vai entender que previdência é parte dos investimentos”, diz.

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    Entre altos e baixos, a indústria de fundos continua se modernizando. Em dezembro de 2022, após um esforço de unir contribuições das próprias gestoras e outras entidades, como a Anbima e a B3, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou a Resolução 175, que promoveu mudanças nas regras para os fundos de investimento no Brasil. Entre os avanços da nova regulação está a liberação, para o varejo, de produtos antes restritos a investidores qualificados, ou seja, que têm mais de 1 milhão de reais em investimentos. É o caso do investimento em fundos com 100% do patrimônio alocado em ativos no exterior, bem como da aplicação em fundos de investimento em direitos creditórios, os FIDCs.

    Até outubro de 2024, a Anbima mapeou 4 793 fundos que haviam se adaptado à nova regulação, enquanto 3 713 produtos nasceram já seguindo as novas regras. Esse grupo soma um patrimônio líquido de 2 trilhões de reais e equivale a 27% de toda a indústria. “A regra gerou maior segurança para o patrimônio dos investidores e ofereceu mais direitos, poderes e prerrogativas ao público investidor”, afirma João Pedro Nascimento, presidente da CVM. “As alterações trazidas pela resolução são amplas e profundas.” É fato que a indústria de fundos de investimento se multiplicou. Quantidade e tamanho, porém, não são sinônimos de qualidade. Mais do que nunca, com uma gama tão grande de produtos, separar o joio do trigo se tornou uma função essencial — um dever de casa quase obrigatório para quem deseja investir bem.

    Publicado em VEJA, novembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 8

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