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O futuro da China está no interior

Interior chinês, antes predominantemente rural, torna-se a nova fronteira do agressivo desenvolvimento econômico do país

Por Beatriz Ferrari
23 mar 2011, 18h30

As megalópoles Pequim, Xangai e Cantão transformaram-se em símbolos da prosperidade experimentada pela China desde que algumas regiões da costa leste abriram-se à economia internacional na década de 70, com a criação das chamadas Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), voltadas à exportação. Diante da opção do governo local de incorporar lenta e seletivamente elementos do capitalismo, formou-se, ao longo dos anos, um fosso social e de desenvolvimento. De um lado, o litoral e regiões próximas eram caracterizados por cidades dinâmicas, com melhor qualidade de vida e salários que chegavam a ser até 70% maiores que a média nacional. De outro lado, vastas regiões no interior destacavam-se pela pobreza e pela falta de oportunidades. Mas isso tem mudado rapidamente. O Partido Comunista – que há mais de 60 anos manda e desmanda na China, reprimindo violentamente as aspirações de sua população por representatividade e liberdade – escolheu o interior como a nova fronteira do desenvolvimento, o que tem ajudado a diminuir as desigualdades. A opção marca uma inflexão da economia chinesa, que não reserva mais ao mercado interno um papel secundário. Tal fenômeno deve, por fim, ajudar o país a pavimentar seu caminho rumo à condição de potência mundial.

Conheça as cinco cidades que mais crescem no interior da China

interior da China
interior da China (VEJA)

Há cinco anos, o governo chinês assumiu como política prioritária, em seu plano quinquenal, a redução das diferenças entre o interior e o litoral. Desde então, vem investindo pesadamente na construção de infraestrutura nas províncias centrais. “Estimular as empresas a irem para o interior é uma política clara do governo. Eles querem reduzir desigualdades e a pressão migratória para os grandes centros”, explica James Wright, coordenador do MBA Executivo Internacional da Fundação Instituto de Administração (FIA).

Além dos incentivos do governo central, a “interiorização” do desenvolvimento (veja infográfico) foi impulsionada nos últimos três anos por fatores inerentes ao próprio mercado. Antes concentradas nas regiões costeiras, muitas empresas têm optado por abrir unidades fabris em cidades como Heifei e Baotou em busca de mão de obra um pouco mais barata, benefícios fiscais das províncias e novos mercados consumidores. “Além de se mudarem para onde a força de trabalho está, muitas fábricas direcionam-se ao interior porque veem essas áreas como novos mercados. As vendas domésticas na China são hoje tão importantes quanto as exportações”, ressalta o economista Duncan Innes-Ker, da Economist Intelligence Unit (EIU). A fabricante americana de computadores Dell é um exemplo. Em setembro do ano passado, a empresa anunciou que abriria sua segunda fábrica chinesa em Chengdu, na província de Sichuan, com o objetivo a suprir a demanda do interior do país. A cidade também será o destino de grandes investimentos da fabricante de eletrônicos chinesa Hon Hai, do grupo Foxconn.

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Distribuição da riqueza – Como resultado de toda essa movimentação, a expansão econômica das regiões costeiras está desacelerando e o país agora “cresce para dentro”. As desigualdades, conseqüentemente, diminuem a olhos vistos. A inversão pode ser medida pelo fluxo migratório. Apenas quatro milhões de trabalhadores voltaram à província litorânea de Guangdong neste ano após o ano novo chinês, ante 10 milhões anteriormente. O dado reflete a maior oferta de empregos no interior e salários melhores.

Hoje, a folha de pagamento das cidades interioranas de maior porte, como Chengdu, já equivale a 62% da folha das metrópoles litorâneas. Anos atrás, a mudança de uma empresa para uma cidade do interior representava uma economia bem maior, já que os salários eram mais baixos. As vantagens ainda existem e são significativas, mas têm diminuído consistentemente. “As margens de custo-benefício estão se acabando”, avalia a China Briefing, em um de seus relatórios. A consultoria afirma que há casos de cidades de terceiro escalão – que pertencem a uma terceira onda de desenvolvimento, após as litorâneas e as primeiras capitais do interior a serem escolhidas para ‘crescer’ pelo planejamento estatal – em que as barganhas com mão de obra não justificam mais o deslocamento de uma empresa. “Os custos com força de trabalho nem sempre são tão baratos no interior como as pessoas pensam”, afirma Innes-Ker.

“O motor real do crescimento é a China rural”, diz a China Briefing em estudo que elencou as cinco cidades que mais crescem no país (veja infográfico) em PIB per capita e renda disponível – todas antes denominadas “áreas rurais”. Nessas regiões emergentes, os produtos mais vendidos são celulares, computadores pessoais, televisões e câmeras digitais, nesta ordem. “Esses mercados são a China da China”, conclui Kevin Tang, diretor da Câmara de Comércio Brasil-China. “O país ainda não cresceu em metade de seu potencial”, avalia.

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