O depoimento de Dilma Rousseff para biografia de Luiza Trajano
Em depoimento sobre empresária, Dilma Rousseff diz que Luiza Trajano seria uma "excelente ministra" e rasga elogios: "inteligente, perspicaz e sagaz"
A empresária Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, é discreta ao comentar sua relação com a ex-presidente da República, Dilma Rousseff. Mas, em sua biografia recém-lançada Luiza Helena: A Mulher do Brasil, Dilma recebe atenção singular no texto elaborado pelo escritor Pedro Bial, que dedica um capítulo inteiro para contar o périplo de Luiza nos bastidores dos governos petistas — sobretudo durante o segundo mandato do ex-presidente Lula, quando integrou o chamado “Conselhão”, e no primeiro mandato de Dilma, quando chegou a receber um convite para ser ministra.
Em depoimento ao livro, Dilma rasga elogios à empresária: “Luiza, desde cedo, impressiona por duas coisas: pela simplicidade e porque é extremamente inteligente, muito perspicaz, muito sagaz.” A ex-presidente da República prossegue afirmando que a empresária seria uma “excelente ministra”. O convite para assumir a Secretaria da Micro e Pequena Empresa (que ganharia status de ministério) veio em 2011, por parte da própria Dilma. Analisando em retrospecto, ela ressalta a capacidade de negociar da empresária e diz que Luiza é diferente de outras lideranças empresariais. “Luiza seria uma excelente ministra. Por quê? Justamente pelos compromissos que ela tem com o país e que permitem que eu diga uma coisa: ao contrário de muitos países do mundo, a elite empresarial do Brasil olha muito pouco para o povo”, defende.
O livro detalha como veio o convite. Dilma estava em uma reunião do Conselhão, grupo de empresários criado por Lula, quando fora chamada pelo então ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, para falar com Dilma. Ao anunciar o convite para Luiza, Palocci interveio, dizendo que Dilma teria que “negociar isso com os partidos”. A então presidente, no entanto, bateu o pé. “A Luiza faz muitos anos que mexe com pequenas empresas. Por que o partido vai me dizer se devo colocar ela ou não?” Pronto. Entrevero formado. Luiza ficou mexida com a proposta, mas a antipatia de Palocci acabou tirando força da possibilidade. “O Palocci não queria que eu fosse [ministra] de jeito nenhum. […] Eu acho até que ele arrumou um jeito de falar para ela que eu não queria”, conta Luiza, no livro.
Curioso é que a relação de amizade entre Dilma e Luiza não começou da forma mais simpática possível. Da primeira vez que se falaram, Dilma, ainda como ministra-chefe da Casa Civil do governo Lula, teve de ouvir conselhos de Luiza. “Eu era do Conselho do Lula e um dia em Brasília a vi fazendo um discurso horrível, que me deixou muito assustada. Quase um ano depois, fui dar uma palestra e chegou uma comitiva com Lula, Mantega, Dilma… O Lula deu um show de comunicação e a Dilma, mais uma vez, foi péssima. Quando ela desceu do palco, eu a chamei num canto e a critiquei, dizendo que tudo que ela falava era muito masculino”, revela Luiza. “Na hora, pensei que ela fosse ficar indiferente. Para minha surpresa, ela confessou que o discurso não era para ela, e sim para o Lula, que pegou o discurso dela. […] Depois disso, nas vezes em que nos encontrávamos, ela sempre me perguntava se estava melhorando.”