O alerta vindo da indústria para a retomada da economia
Produção industrial recuou 1,3% em abril, segundo o IBGE, mas cresce 1,1% no acumulado de 12 meses; dólar alto e falta de insumos são desafios
Um dia após os resultados do PIB do primeiro trimestre indicarem uma recuperação de 1,2% no início do ano, dados da atividade a partir daí mostram que a recuperação da economia tem um caminho desafiador. Segundo divulgou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quarta-feira, 2, a produção industrial recuou 1,3% em abril na comparação com o mês anterior.
Esse é o terceiro resultado negativo consecutivo detectado pela Pesquisa Mensal da Indústria, que acumula perda de 4,4% no período. Com isso, a produção industrial fica 1% abaixo do patamar pré-pandemia. No ano, o setor industrial acumula ganho de 10,5% e, nos últimos 12 meses, de 1,1%. Com o resultado de abril, a produção industrial está 17,6% abaixo do nível recorde, registrado em maio de 2011.
“O crescimento da produção industrial já vinha mostrando um arrefecimento desde a segunda metade do ano passado. Com a entrada de 2021, o recrudescimento da pandemia e todos os efeitos que isso traz, o setor industrial mostrou uma diminuição muito evidente de seu ritmo de produção. Isso fica claro não só pelos resultados negativos, mas também pelo maior espalhamento desse ritmo de queda”, explica André Macedo, gerente da pesquisa. O câmbio alto, assim como a escassez de componentes a nível mundial desafiam a produção e são um ponto de atenção para a retomada econômica.
Quando comparada a abril do ano passado, a produção industrial cresceu 34,7%, a taxa mais elevada desde o início da série histórica da pesquisa, em janeiro de 2002. O recorde do indicador é explicado pela baixa base de comparação, uma vez que, em abril de 2020, o setor havia recuado 27,7%, a maior queda já registrada na série.
A atividade coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, a que mais impactou o índice geral, também teve resultados negativos espalhados por seus produtos. “Essa atividade mostra um comportamento que é predominantemente negativo, ou seja, tem um movimento de queda bastante espalhado que vai desde os derivados do petróleo até os biocombustíveis, como o álcool ou o biodiesel”, destaca o pesquisador. Essa atividade havia tido uma expansão de 1,9% em março, quando interrompeu cinco meses de resultados negativos consecutivos.
A segunda atividade com maior impacto no índice foi produtos alimentícios, que registrou queda de 3,4% na comparação com março. “O comportamento negativo elimina o saldo positivo de 3,3% observado nos três primeiros meses do ano. Também se percebem influências negativas importantes dos principais produtos investigados dentro dessa atividade, desde os ligados aos bens intermediários, como o açúcar e os derivados de soja, até os que estão dentro do semi e não duráveis, que são mais associados com a nossa alimentação no dia a dia”, diz o pesquisador.
Um exemplo desses alimentos são as carnes, que tiveram redução em abril. “Nesse caso, há uma relação com o aumento de custos de produção. Se isso acontece, há um impacto em todo o processo produtivo, tanto em relação à carne de bovinos quanto de aves. Então tem os custos mais altos da ração, do milho, entre outros fatores. Isso encarece a produção e de fato há diminuição do processo produtivo”, explica.
Outros impactos negativos entre as atividades vieram de impressão e reprodução de gravações (-34,8%), de produtos de metal (-4,0%), de couro, artigos para viagem e calçados (-8,9%), de celulose, papel e produtos de papel (-2,6%), de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-5,2%), de produtos têxteis (-5,4%) e de móveis (-6,5%).
O campo negativo alcançou duas das quatro grandes categorias econômicas: bens de consumo semi e não duráveis (-0,9%) e bens intermediários (-0,8%). Já os setores produtores de bens de capital (2,9%) e de bens de consumo duráveis (1,6%) tiveram resultados positivos. Entre as oito atividades que também tiveram alta, estão as indústrias extrativas (1,6%), máquinas e equipamentos (2,6%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (1,4%).