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No embalo do gigante: como o avanço econômico dos EUA beneficia o Brasil

Com a Bidenomics, o país vai liderar a recuperação da economia mundial, o que pode ser positivo — e muito — para os brasileiros

Por Luisa Purchio e Rafael Bolsoni
Atualizado em 16 abr 2021, 10h45 - Publicado em 16 abr 2021, 06h00

No horóscopo chinês, 2020 foi o ano do rato de metal. Acredita-se que as pessoas nascidas sob esse signo costumam ter a capacidade de transformar a má sorte em fortuna. A crença se refletiu na situação da China, a única grande economia mundial a ter expansão do PIB durante o primeiro ano da pandemia surgida em Wuhan. Para o Brasil, a rápida recuperação chinesa ajudou o agronegócio e evitou uma queda maior do PIB do que era previsto — as exportações recordes de produtos como a soja garantiram o resultado. Já este ano parece que será regido por um outro animal. Não seria exagero chamar 2021 de o ano da águia. O símbolo do poderio americano, com seus altos voos, consiste na melhor representação de como os Estados Unidos, sob a liderança do novo presidente, Joe Biden, devem puxar o crescimento global.

Enquanto o Brasil se colocava em fevereiro e março como a única grande economia do mundo em desaceleração, segundo relatório divulgado na terça-feira 13 pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os Estados Unidos veem as suas perspectivas em alta. Com vacinas — e 23% da população já imunizada — e fortes incentivos fiscais e monetários, o país ostenta projeções cada vez mais otimistas, entre elas crescimento de 6,5% no ano. Seria a maior expansão desde 1984. Naquela época, a economia local era regida pela chamada Reaganomics, a política econômica do ex-pre­sidente republicano Ronald Reagan, baseada em austeridade fiscal e cortes de impostos e de regulações. Agora, é o tempo da Bidenomics, instituída pelo democrata para combater os efeitos da pandemia, com 4 trilhões de dólares injetados em incentivos para a economia e a proposta de um pacote de 2,2 trilhões de dólares voltado, em especial, para a infraestrutura.

A acelerada retomada americana pode nos ajudar de diversas formas. Apesar de a China ser hoje o maior parceiro comercial, os Estados Unidos são o principal importador de produtos manufaturados, que têm maior valor agregado e geram mais empregos. “Enquanto as exportações do Brasil para a China estão concentradas em commodities, incluindo soja, petróleo e ferro, as para os EUA tendem a ser industriais, como peças de motor, componentes de aeronaves e aço”, diz Peter C. Earle, economista do Instituto Americano para Pesquisa Econômica.

EXPECTATIVA - Siderurgia na Califórnia: brasileiros vislumbram fim de cotas -
EXPECTATIVA - Siderurgia na Califórnia: brasileiros vislumbram fim de cotas – (Bob Riha Jr/Getty Images)

Para a siderurgia brasileira, o futuro se desenha especialmente promissor. Os Estados Unidos são destino de 55% das exportações do segmento, que chegam a 2,6 bilhões de dólares ao ano. As fábricas nacionais operam com apenas 66,4% da capacidade instalada e há a expectativa de flexibilização das cotas de importação estabelecidas pelo governo de Donald Trump. Se o programa de infraestrutura de Biden for aprovado pelo Congresso, a demanda americana por aço vai, inevitavelmente, aumentar, beneficiando empresas como Gerdau, CSN, Usiminas e a mineradora Vale. “Esperamos reuniões mais pragmáticas e discussões mais racionais com o governo Biden”, diz Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil.

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Mesmo no setor em que os dois países competem pelo domínio global — o agronegócio — as perspectivas são interessantes. Embora os Estados Unidos sejam concorrentes do Brasil no fornecimento de grãos e carnes para a China, a retomada americana promete frutos para alguns nichos da agropecuária. A volta do movimento nas lojas da rede Starbucks acena com uma boa melhora nas vendas do café verde brasileiro, principal produto agrícola exportado para os Estados Unidos. Apenas no primeiro trimestre de 2021 elas cresceram 26,9% em relação a 2020.

Esses bons prognósticos, no entanto, estão condicionados a um ponto: o comportamento do governo na área ambiental. “A expansão comercial está vinculada aos avanços do Brasil na política para o ambiente”, diz Rubens Barbosa, ex-embaixador em Washington. O novo chanceler brasileiro, Carlos França, pode facilitar acertos bilaterais com o governo Biden. “Estamos vivendo numa outra atmosfera, bem mais favorável”, avalia o ex-cônsul-geral nos Estados Unidos José Alfredo Graça Lima, vice-presidente do conselho curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). O discurso do presidente Jair Bolsonaro na cúpula sobre o clima, convocada por Biden e que começa no dia 22 de abril, será decisivo. Se acertar o tom, pode dar um empurrão decisivo ao comércio exterior do país.

Publicado em VEJA de 21 de abril de 2021, edição nº 2734

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