Negócio da China
Com investimento do gigante chinês de tecnologia Tencent, o banco digital brasileiro Nubank torna-se a maior fintech da América Latina,
Ao atingir a meta de 5 milhões de clientes de cartão de crédito (sem anuidade) e 2,5 milhões de correntistas (exclusivamente digitais), o banco on-line Nubank já podia considerar que teve um 2018 de sucesso. Mas, graças a um investimento de 90 milhões de dólares feito pelo gigante chinês Tencent, oficializado na terça-feira 9, a empresa está agora avaliada em 4 bilhões de dólares, atingindo o topo da lista das maiores fintechs da América Latina. A Tencent aplicou outros 90 milhões no mercado secundário, ou seja, comprou papéis das mãos de acionistas que apostaram nos estágios preliminares da startup. No total, o banco digital já captou mais de 420 milhões de dólares em sete rodadas de investimento a partir de sua fundação, em 2013. “O Nubank já gera caixa operacional desde o ano passado, não precisávamos de capital agora, mas não poderíamos deixar passar a oportunidade de ter a Tencent conosco”, diz David Vélez, fundador da empresa.
O primeiro investimento da Tencent no Brasil é um sinal claro de que os gigantes de tecnologia estão em busca de oportunidades nos mercados emergentes, disputando espaço com os americanos — o próprio Nubank tem entre seus investidores iniciais a Sequoia Capital, a maior investidora de capital de risco do Vale do Silício, que controla 1,4 trilhão de dólares. É uma nova porta que se abre para as startups nacionais, que ganham acesso a muito mais do que dinheiro.
A Tencent, que começou como o maior portal de serviços de internet da China, mas hoje controla centenas de subsidiárias nas áreas de jogos on-line, música, pagamento digital, rede social, armazenamento na nuvem, e muito mais, é dona de patentes importantes. Seu principal produto, o WeChat, conhecido como “o WhatsApp chinês”, tem mais de 1 bilhão de clientes que o usam para se comunicar, mas também para realizar transferências bancárias, pagamento de contas e doações.
“A Tencent vem nos ajudar em algumas áreas de desenvolvimento de produtos, de tecnologia, de machine learning, de inteligência artificial, para melhorar essas tecnologias”, diz Vélez. Como acontece em toda boa parceria, porém, as duas partes têm a ganhar. Num mercado em que os bancos tradicionais cobram os juros mais altos do mundo, há um potencial de crescimento gigantesco.
Publicado em VEJA de 17 de outubro de 2018, edição nº 2604