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“Não vai faltar dinheiro para a saúde”, diz Paulo Guedes

Em transmissão ao vivo, o ministro criticou o pacote de auxílio a estados e municípios aprovado pela Câmara

Por Victor Irajá 20 abr 2020, 19h11

“Preservando vidas, protegendo as empresas e os empregos”. Esse virou o mote do ministro da Economia, Paulo Guedes, repetido a fio na transmissão da conversa ao vivo com o ex-ministro da Fazenda Eduardo Guardia, promovido pelo banco BTG, na tarde desta segunda-feira, 20. O ministro admitiu que a crise causada pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19) ganhou contornos muito maiores do que o esperado meses atrás pela equipe econômica, mas ressaltou que o Ministério da Economia reagiu rapidamente quando a dimensão da chegada da doença ao Brasil foi percebida. “Nós estávamos começando quando veio o coronavírus. Quando começou a crise na China, nós acompanhamos”, começou ele. “Se a China desacelerar, qual vai ser o impacto sobre o Brasil?”, completou a comentar as percepções da equipe econômica em janeiro, quando as notícias vindas da Ásia começaram a chegar. Ele afirma, porém, que não previu os impactos da doença no país. “Como no Brasil temos zika, dengue, eles têm lá a gripe suína, a gripe aviária e teria sido a Covid-19 um problema de saúde na China”, afirmou. Quando caiu a ficha que era uma pandemia, no dia seguinte que tomamos conhecimento dessa dimensão trágica, montamos o grupo e começamos a disparar as medidas”, explicou. “Não vai faltar dinheiro para a saúde”, cravou.

Para Guedes, a saída da crise será mais rápida com um ambiente favorável para investimento, como um caminho paralelo às políticas emergenciais de fomento ao consumo. “Nunca trabalhamos tanto. Vamos dar uma sinalização para o mundo”, defendeu. “Eu tenho uma enorme confiança na capacidade de processamento da economia brasileira”, afirmou. E apelou ao Congresso pela aprovação de reformas logo após controlada a pandemia. Ele defendeu, a partir do segundo semestre, a aprovação de mecanismos para equilibrar as despesas e privatizações para compensar gastos extraordinários, como os em combate e de mitigação aos efeitos econômicos da doença. “A velocidade de escape desse buraco negro vai depender do prosseguimento das reformas”, disse. “Se não acelerar com as reformas estruturantes, não será apenas um ano de pesadelo”.

O ministro falou por mais de uma hora e meia sem ser interrompido pelo antecessor. Ele traçou um panorama sobre as expectativas quanto aos avanços econômicos do país com a aceleração da aprovação das reformas e disse que as medidas poderiam, inclusive, dar fôlego fiscal e condições melhores para o combate ao coronavírus. Ele lamentou, por exemplo, os entraves envolvendo o andamento do Marco Legal do Saneamento, que permitiria a privatização de serviços de água e esgoto de forma mais rápida. “Milhões de brasileiros podiam estar lavando as mãos”, lamentou. “Ao contrário do ano passado, quando houve muita luta e escaramuça no começo. A Câmara já tinha acertado a reforma administrativa, entraríamos na comissão mista com a tributária”, disse Guedes. Ele também exortou a preocupação com as atribuições limitadas do Banco Central (BC) e voltou a pedir pela aprovação do projeto que concede independência à instituição. Guedes disse que o ministro da Saúde, Nelson Teich, se comprometeu a trabalhar junto com o Ministério da Economia sobre propostas para reabrir gradualmente a economia e disse não saber quanto tempo a atividade econômica se sustenta sem um colapso mais profundo. “Não sentimos ainda que desestabilizou a economia, ainda não é nada que impeça a recuperação rápida”, disse.

Apesar da cantilena do presidente Jair Bolsonaro de que é necessário reabrir o comércio e reavivar a economia, o chefe, veja só, da Economia do país defendeu as políticas de isolamento. “Salvar vidas é a prioridade. Isolamento social: perfeito, total apoio nosso”, afirmou, para ponderar as preocupações do presidente Bolsonaro em seguida. “Também numa democracia é muito válido falar a verdade. Logo a frente vem outra onda. Podemos aprofundar ou não a segunda onda. Podemos estar isolados socialmente, porém o teletrabalho não pode parar”, defendeu.

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Ele, porém, comentou sobre os atritos com governadores e prefeitos sobre o pacote de auxílio de recursos da União para os entes federativos. O governo defende a transferência direta de 40 bilhões de reais contra um pacote de 86,9 bilhões de reais aprovado pela Câmara e disse que o Governo Federal não pode condicionar os repasses à perda de receitas dos estados. “Como nós podemos garantir receitas? Você não pode depositar 80 bilhões e dar garantias irrestritas. E se o governador decidir que o isolamento é de dois anos? Como nós vamos garantir isso?”, indagou, mas ponderou, depois, que congressistas e governadores podem ter visões diferentes, mas querem, assim como o governo, o bem do Brasil. O ministro afirmou ainda que o presidente “não pode ver uma manifestação com a bandeira do Brasil” que entra no meio e que Bolsonaro é um “democrata”. Ele disse que o presidente pode cometer erros, mas vê um excesso no tom das críticas ao mandatário e disse que é justo que ele termine o mandato.

O ministro ainda ressaltou a necessidade de setores da economia funcionarem durante a pandemia, como os voltados a alimentos e, claro, da saúde. “Precisamos de comida nas cidades, até para podermos persistir no isolamento”, defendeu. “A mesma coisa com a supersafra da ministra Tereza Cristina [da Agricultura], precisa chegar aos mercados, e o desimpedimento das estradas com o ministro Tarcísio [Gomes de Freitas, da Infraestrutura], comida tem que chegar nas cidades. Podemos reduzir as linhas da atividade, mas não descontinuar a vida. Temos que ter a capacidade de reagir ali na frente”, disse ele. Frasista, ele comparou a situação da economia brasileira com a da hibernação. “É como um urso hibernando. Quando ele sai da caverna, sai para caçar”, ratificou, para defender a manutenção dos pagamentos de serviços tidos como essenciais pelo ministro. “Vamos seguir pagando conta de luz, senão temos apagão. Vamos seguir pagando os serviços de telecomunicações, senão não tem teletrabalho”, disse.

Guedes, ainda, evitou fazer previsões quanto a queda do Produto Interno Bruto, o PIB, por conta do desconhecimento envolvendo a doença. O ministro fez, porém, um apelo para que os funcionários públicos arcassem com os sacrifícios vividos pelos demais trabalhadores, com a prerrogativa de redução de jornadas e salários (possibilidade rechaçada por Bolsonaro). “Será que o funcionalismo não poderia contribuir com o Brasil? O funcionário está em casa hoje em isolamento, não pode reduzir 30% o pagamento e a jornada? Mas não é o que pedimos”, disse ele, para dissertar sobre a possibilidade de congelar reajuste do funcionalismo para este e o próximo ano. “Está na hora de dar uma contribuição”, pediu. Ele ainda elogiou a decisão do Supremo Tribunal Federal, que determinou que os sindicatos não precisam ratificar as reduções de jornada com consequente redução de salários, e disse que o governo conseguiu operacionalizar rapidamente os pagamentos aos mais vulneráveis. “Saímos das reformas estruturais e entramos na modalidade medidas emergenciais”, afirmou. “Fomos golpeados por algo que não tem nada a ver conosco. Vamos lamentar? Não. Vamos enfrentar”.

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