Não existe sistema elétrico 100% confiável
Para os especialistas, problemas no fornecimento são inevitáveis; mais recursos para a Aneel e maior transparência são recomendáveis
O Brasil nunca ficará 100% livre de episódios de corte de energia. Apagões como o que afetou o Nordeste nesta madrugada são ocasionais e estão relacionados a fatores imponderáveis, como quedas de raios e falhas humanas. De acordo com especialistas ouvidos pelo site de VEJA, o país é reconhecido no mundo pela qualidade deste serviço. O governo, contudo, peca na forma como trata o assunto. A falta de transparência quando ocorre este tipo de problema é a principal crítica de quem cuida do setor.
O diretor-geral da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes, destaca que até hoje não houve uma explicação satisfatória para o ‘apagão’ de 2009, que afetou quase todo o país. “A Aneel chegou a aplicar uma multa milionária à Furnas, mas, no relatório final, o comitê de monitoramente do setor elétrico atribuiu a causa a fatores climáticos. E ficou por isso mesmo”, critica. Na avaliação do especialista, em vez de respostas evasivas e inconclusivas, o governo poderia ser transparente e deixar claro à população que problemas ocasionais ocorrem, mas que isso não põe em xeque a credibilidade do sistema.
O presidente da Associação Nacional de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Nelson Leite, ressalta que o sistema interligado brasileiro é um dos maiores do mundo. “Se pegarmos um mapa de sua rede e o projetarmos sobre o da Europa, nosso sistema iria de Lisboa a Moscou. Ainda assim, é bastante confiável”, afirmou.
Os especialistas afirmam que, do ponto de vista do planejamento de longo prazo, o país vive uma situação confortável. “Investimentos maciços estão sendo tocados por empresas públicas e privadas”, acrescentou Leite. “É preciso deixar claro que o episódio ocorrido no Nordeste nada tem a haver com uma eventual indisponibilidade de energia. Em outras palavras, há abundância do recurso e não existe perspectiva de falta no longo prazo”, ponderou pesquisador do Grupo de Estudo do Setor de Energia Elétrica (Gesel) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Guilherme Dantas. Neste sentido, ele acrescenta que problemas de escassez de oferta, como os verificados em 2001, não estão no horizonte.
O episódio desta madrugada está ligado, segundo Dantas, a questões absolutamente operacionais. Sob este ponto de vista, afirma o pesquisador, “nenhum sistema elétrico no mundo é 100% confiável”. Ainda assim, é possível chegar próximo disso, desde que investimentos em manutenção e fiscalização sejam realizados. “A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) possui um corpo técnico de qualidade. Contudo, chega a ser covardia uma comparação do número de funcionários da agência com seus pares internacionais. É muito pouca gente para fiscalizar um sistema elétrico colossal como o nosso”, ponderou.