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Não aposte em um dólar mais forte

Segundo o economista Barry Eichengreen, há diversos fatores que podem fazer com que o Fed não suba os juros tão cedo; e isso pode ser ruim para quem aposta na valorização da moeda

Por Barry Eichengreen
21 jan 2015, 12h17

Os especialistas econômicos, quase sem exceção, estão prevendo um dólar mais forte em 2015 – uma expectativa que está levando os investidores a fazer apostas muito altas. Mas essa estratégia de mercado pode vir a ser um erro muito grande.

O consenso reflete o fato de que os Estados Unidos são atualmente a única grande economia onde as perspectivas de crescimento estão melhorando. Mais recentemente, o Departamento de Comércio dos EUA revisou para cima sua estimativa de crescimento do PIB para o terceiro trimestre do ano passado, para 5% – a maior taxa em 11 anos.

Além disso, a revisão foi baseada principalmente no consumo das famílias e investimentos em negócios – os componentes do PIB mais estáveis e persistentes. O sentimento do consumidor está em seu nível mais alto desde 2007. Os baixos preços do petróleo, que reduzem o custo da gasolina na bomba, fornecem um impulso adicional deixando mais dinheiro às famílias americanas para gastar no shopping. A taxa de desemprego é de 5,6% e segue caindo.

Tudo isto não só aumenta a confiança que o forte crescimento dos EUA vai continuar, como também reforça a crença de que o banco central americano, o Federal Reserve (Fed), começará a elevar as taxas de juros em abril. Para os investidores, isso torna ainda mais atraente a compra de dólares.

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As outras grandes economias, por outro lado, estão estagnadas, reduzindo a velocidade, ou ambos. A economia da Europa está morta e o temido fantasma da deflação está se aproximando cada vez mais. Uma vez que os políticos estão sem opções, ainda existem algumas dúvidas de que o Banco Central Europeu prosseguirá com a seu programa de estímulos monetários, goste a Alemanha ou não. Gestores europeus dão as boas vindas a um euro mais fraco, o que deve melhorar a competitividade, pelo menos, de maneira modesta.

Enquanto isso, na Ásia, indicadores precipitados e confusos da economia japonesa têm estimulado o Banco do Japão a aumentar suas compras de títulos, que, da mesma forma, apontam para a perspectiva de um iene mais fraco. E sinais inconfundíveis de desaceleração do crescimento na China estão levando os investidores a se perguntar, pela primeira vez em anos se o governo da China vai maquinar um enfraquecimento da taxa de câmbio entre o dólar e o yuan chinês.

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As perspectivas de crescimento dos outros mercados emergentes estão ainda piores, devido igualmente aos preços baixos das commodities. Como resultado, estes países podem esperar aportes mais baixos de capital, tornando novamente fracas as moedas locais.

Essa pode ser supostamente uma desculpa irrefutável para um dólar mais forte. Como isso pode começar a ir por água abaixo? Uma primeira razão para duvidar de projeções de um dólar mais forte é que nenhuma das notícias em que estão baseadas a alta são realmente notícias. A expectativa de crescimento relativamente forte dos Estados Unidos já está sendo refletida nos mercados, com o dólar acima 9% em termos ponderados desde meados de 2014.

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Sendo assim, apenas uma mudança nos fundamentos – a economia dos EUA superar a previsão de crescimento e o Fed iniciar um aperto monetário mais cedo do que o previsto, ou o desempenho de outras economias ser ainda pior do que o esperado – poderia levar o dólar a se fortalecer ainda mais. Em suma, com o palpite do mercado já incorporado à taxa de câmbio, o dólar tanto pode cair como subir.

O segundo risco é que, mesmo com base nas expectativas de crescimento atual, os investidores podem ter saído à frente se antecipando ao aperto da política monetária. As taxas de juros do Fed vão disparar quando for detectado que a economia está beirando a plena capacidade e que a inflação – a inflação nos salários, em particular – está se acelerando.

A participação da força de trabalho será a chave para dar forma a este ambiente. Assim, a baixa taxa de desemprego oficial pode ser explicada em parte pelo declínio das taxas de participação, especialmente entre os trabalhadores com idades entre 25 e 54 anos.

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Mas agora há sinais de que a taxa de participação desses trabalhadores está se estabilizando e pode até subir. Se isso acontecer, a taxa de desemprego pode parar de cair, e uma pressão ascendente sobre os salários seria limitada. O Fed retardaria então o aperto por mais tempo do que o previsto.

E, por último, mas não menos importante, problemas financeiros inesperados – que os baixos preços do petróleo poderiam catalisar – iriam interromper o crescimento dos EUA e desencorajar o Fed a realizar o aperto. Depois da China e do Japão, países exportadores de petróleo, incluindo a Rússia, são os maiores detentores de títulos do tesouro dos EUA. Se as receitas de petróleo caírem mais, eles podem ser forçados a vender essas participações, usando os dólares para intervir no mercado de câmbio e apoiar suas moedas ou para socorrer bancos com problemas, como o Russia´s Trust Bank, a instituição de médio porte que o governo resgatou em dezembro.

Tais desdobramentos ocasionariam o bloqueio dos rendimentos da dívida dos EUA, interrompendo o crescimento. O dólar se tornaria mais fraco, deixando os investidores desprevenidos. As desarticulações podem ser graves.

Previsão de moeda corrente é uma atividade decepcionante. Os movimentos cambiais em um horizonte superior a um ano não funcionam de acordo com modelos teóricos. O comportamento dos mercados de divisas tem repetidamente se frustrado e até levado à falência investidores sofisticados. Com tantas apostas atualmente no mercado se movendo em uma direção, vale contemplar as consequências se isso acontecer de novo em 2015.

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Barry Eichengreen é professor na Universidade da California, Berkeley, e na Universidade de Cambridge. Seu livro mais recente, “Hall of Mirrors: The Great Depression, the Great Recession, and the Uses – and Misuses – of History”, acabou de ser publicado pela Oxford University Press.

© Project Syndicate, 2015

(Tradução: Roseli Honório)

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