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Na Ford, estímulos do governo criaram mais desafios

Imprevisibilidade e desonerações dificultam projeções de montadoras

Por Ligia Tuon
26 mar 2013, 07h33

O setor automotivo – um dos grandes beneficiados pelos pacotes do governo no último ano – não tem achado muita graça em ser o centro das atenções. Apesar de ter apresentado crescimento de 5,6% no primeiro bimestre de 2013, o fantasma da imprevisibilidade econômica continua assombrando os planos das empresas. Durante o lançamento da planta do New Fiesta Hatch, em São Bernardo do Campo, o vice-presidente da Ford para a América do Sul, Rogélio Golfarb, não se mostrou tão animado em relação aos estímulos ao setor. “O crescimento tem vindo com uma dose de estímulo muito grande e isso é um desafio”, afirmou Golfarb, ao comentar as dificuldades em traçar projeções.

O ano de 2012 foi marcado por várias tentativas do governo de estimular a indústria – principalmente a automobilística – com medidas como a isenção do IPI, que foi reduzido aos poucos ao longo do período, e, ainda, o Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), que foi lançado no final do ano para beneficiar empresas que produzem localmente. Tais mudanças criaram um clima de imprevisibilidade no setor, que passou todo o ano de 2012 aguardando pacotes prometidos pelo governo para, então, buscar readequação. Ainda nos primeiros meses de 2013, o cenário está longe de ser estável – mesmo com a alta nas vendas. “O resultado dos dois primeiros meses do ano precisa ser colocado em atenção, já que é derivado do estoque de carros com isenção total de IPI”, aletra o executivo.

O executivo explica que, após uma fase longa com o IPI reduzido, é normal que haja uma antecipação das compras. Desta forma, “querendo ou não, em algum momento, temos uma desaceleração da taxa de crescimento na economia”, diz. O resultado decrescente já foi notado em fevereiro, quando houve queda de 5,8% das vendas em relação a 2012, segundo dados da Anfavea. O bimestre só teve bom desempenho devido ao número recorde de janeiro, quando foram vendidos 311,5 mil veículos. “Os números de março também estão aquém”, completa Golfarb, sem divulgar os dados.

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Do México para o ABC – Contudo, tal cenário de atenção não foi alarmante o suficiente para fazer com que a Ford desistisse de lançar a planta de fabricação do New Fiesta no Brasil – o quarto maior mercado automotivo do mundo. O veículo – o segundo produto global da Ford fabricado no Brasil – entra para captar uma parcela do mercado de compactos e aquecer as atividades na unidade de São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista, como principal automóvel da fábrica local. A empresa investiu 800 millhões de reais no projeto ao longo dos últimos dois anos para transferir sua produção do México para o Brasil. Do país, a montadora só continuará importando o Ford Fusion. “Com o New Fiesta, temos ambição de crescer de duas a três vezes no segmento de compacto premium em relação ao ano passado”, projeta Golfarb. Em 2012, a Ford importou 31,5 mil unidades do México. O modelo também será exportado para países da América Latina, principalmente os do Mercosul.

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A unidade de São Bernardo do Campo, onde o único automóvel fabricado até então era o Ford Ka, dispõe agora da tecnologia usada na produção de carros da Ford em Camaçari, na Bahia, onde o novo EcoSport começou a ser fabricado em 2012. “Ao trazermos o New Fiesta para ser produzido no ABC, além do equilíbrio de volume entre as produções das duas unidades, melhoramos o processo de produção, qualidade e segurança na região”, afirma o executivo. A montadora espera que, até 2015, todos os modelos fabricados no Brasil sejam globais.

Uma questão de sobrevivência – Mais do que incentivar um produto global, a chegada do New Fiesta ao ABC está mais ligada à preservação da unidade, segundo líderes sindicais e especialistas do setor automotivo. Para a Ford, a escolha por fabricar o veículo em São Bernardo se deve à necessidade de aumentar o volume de produção na unidade para transformá-la em um polo de produção regional para a América Latina. Já os sindicatos afirmam que a decisão foi “questão de vida ou morte”. “As fábricas de todas as companhias que vêm para Brasil estão sendo construídas com o que há de melhor de produção e de serviços. Se a unidade de São Bernardo ficasse para trás nessa competição acirrada do mercado, poderia sumir”, diz o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Rafael Marques. Essa previsão, na verdade, já era feita por alguns especialistas há anos. Muitos acreditavam que o Ford Ka, sozinho, não poderia segurar a unidade.

A possível descontinuidade dos serviços da fábrica era quase uma unanimidade há 15 anos, quando a empresa ameaçou demitir quase 3.000 funcionários, diante de uma queda drástica na produção. “Pensávamos que esse era um sinal nítido de que a fábrica viria a fechar”, lembra o líder sindical. Com a unidade de Camaçari, na Bahia, a produção na região do ABC caiu ainda mais, o que acirrou as discussões entre a empresa e o sindicato. O New Fiesta reestabeleceu, então, a paz entre as duas partes. Para André Beer, da André Beer Consult & Associados, a decisão foi acertada. “O Fiesta tem um peso grande na Ford e, aparentemente, vai ter uma boa aceitação. Foi uma boa jogada.”

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