Montadoras cortam benefícios e negociam demissões
Em meio à crise, empresas aproveitam para rever benefícios há tempos concedidos aos funcionários, sempre tidos como os mais bem pagos na indústria
Como reflexo da drástica queda nas vendas, as montadoras aproveitam para rever benefícios há tempos concedidos aos funcionários, sempre tidos como os mais bem pagos na indústria. Também tentam ajustar o quadro de trabalhadores em fábricas que operam com metade da capacidade produtiva.
Só em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, onde estão cinco das maiores fabricantes do país, há 4.170 funcionários declarados ociosos pela Ford, Mercedes-Benz e Volkswagen. A Volvo, de Curitiba (PR), fala em 400 excedentes em seu quadro.
Desde o ano passado, grande parte das montadoras não integrou o reajuste pela inflação aos salários. Aumento real é raro. A Participação nos Lucros e Resultados (PLR) vem caindo, acompanhando o desempenho das empresas.
A Volvo, que em 2013 pagou 30 mil reais em PLR aos funcionários, no ano passado entregou 12 mil reais e, este ano, quer que os trabalhadores abram mão de 5 mil reais, mesmo antes de ter negociado o valor a ser pago. “Podemos até negociar esse e outros itens, mas desde que não ocorram demissões”, diz o diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de Curitiba, Nelson Silva de Souza. “Ocorre que a empresa quer reduzir benefícios e ainda cortar 409 vagas.”
Ford, Mercedes-Benz e Volvo confirmam que estão negociando com as entidades sindicais a flexibilização das relações trabalhistas e formas de compensação para manutenção do nível de empregos, mas não dão detalhes das propostas. A Volkswagen e a Toyota não comentaram o assunto.
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Cortes – Nos últimos 12 meses, as montadoras demitiram 11,2 mil trabalhadores, sendo 1,4 mil neste ano, mostram dados do setor. Atualmente há 36,5 mil funcionários no Programa de Proteção ao Emprego (PPE), com jornada e salários reduzidos e outros 6,3 mil em lay-off (contratos suspensos), o equivalente a 32% da mão de obra do setor, de 128,4 mil pessoas.
“Vai chegar um momento em que parte desse pessoal afastado será demitido”, admite João Morais, economista da Tendências Consultoria, especializado no setor automotivo. Segundo ele, mesmo que comece a ocorrer uma recuperação do mercado no próximo ano, vai levar ao menos uma década para que o setor volte a operar com níveis mais elevados de sua capacidade produtiva.
Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques, uma alternativa é o mercado externo. “As empresas devem ser mais agressivas nas exportações – buscando mercados novos – e na nacionalização de componentes”. De janeiro a abril, as exportações cresceram 24,3% ante igual período de 2015, para 136,3 mil veículos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
(Com Estadão Conteúdo)