Os números ruins do Facebook, principal produto da Meta Plataforms, que também engloba Instagram e WhatsApp, estão provocando uma verdadeira avalanche na companhia de Mark Zuckerberg. A repercussão da queda de 26% das ações, que eliminou 230 bilhões de dólares de valor de mercado em um único dia, continua causando estragos. Seguindo os passos de seu fundador, que deixou o seleto grupo dos 10 bilionários mais ricos do mundo, sua empresa também se despediu do ranking das 10 maiores empresas do mundo na quinta-feira 17.
A Meta está avaliada em 565 bilhões de dólares, passando a ocupar agora a 11ª primeira posição no ranking da Bloomberg, sendo destronada pela chinesa Tencent, dona do WeChat, que subiu para a 10º posição. O valor da empresa despencou de 935,6 bilhões de dólares para 599,3 bilhões de dólares após a divulgação dos resultados financeiros no início de fevereiro, relativos ao quarto trimestre de 2021. Mas, nos últimos dez dias, a Meta perdeu mais 34,3 bilhões de dólares.
O motivo de tamanha queda é a total falta de confiança dos investidores de que o Facebook conseguirá se reerguer após registar o primeiro encolhimento da base de usuários ativos da rede social. Enquanto o metaverso, a sua grande aposta para o futuro, ainda levará anos para se tornar uma realidade e um negócio lucrativo para a Meta.
Com a queda no preço das ações, alguns investidores aproveitam o movimento para fazer a compra dos papéis, mas alguns especialistas ainda estão pessimistas com as perspectivas da companhia. Segundo o empresário da G Money, Ahmed Alomari, houve aumento de 70% na busca por informações para compra das ações do Facebook em sua plataforma, mas o investidor que fez bilhões no mercado financeiro não recomenda a compra. “O Facebook já passou pelo ‘modo de crise’ antes, mas desta vez parece diferente. Wall Street vem punindo o Facebook por sua mudança de negócios, que está obcecada em gastar bilhões de dólares para realizar um metaverso distante”, diz. Para o investidor, os papéis devem continuar em queda livre, estimando um preço de 186 a 188 dólares.
Se quiser sobreviver à crise, Mark Zuckerberg terá de encontrar um jeito de acelerar a viabilidade do metaverso. O conceito que a Meta defende como o futuro da internet se trata de uma espécie de réplica da realidade no mundo digital, onde as interações vão acontecer em um ambiente on-line coletivo e compartilhado (uma espécie de Second Life mais moderno). Mas a própria empresa admite que a construção desse espaço virtual deve levar entre dez e quinze anos para seu pleno funcionamento, uma eternidade quando a pressão é tão alta. Dona de um caixa de 48 bilhões de dólares, a companhia já comprometeu 10 bilhões de dólares no novo projeto.
Apesar da corrida contra o tempo ser um dos grandes inimigos da Meta no momento, o ambiente não vai tornar as coisas mais fáceis para Mark Zuckrberg. A utilização dos dados ainda deve continuar sendo um grande problema para a já desgastada imagem do Facebook. O metaverso ainda é um ambiente fictício, não regulado e que gera muitos questionamentos sobre a utilização de dados biométricos das pessoas. É algo bastante preocupante ao se tratar de uma empresa acusada de passar informações dos clientes sem seu consentimento, divulgação de fake news e inação quando comunicada que seus produtos estimularam problemas sociais, de saúde e até facilitou massacres étnicos, como os dos rohingya em Myanmar.
“O que as companhias querem são os nossos dados. Se a empresa disser que ela vai ter uma política correta de dados, o negócio vai à falência”, diz o professor Walter Teixeira Lima Júnior, professor do mestrado de Inovação e Tecnologia da Unifesp. “Esse é o jogo: a empresa oferece um ambiente totalmente imersivo, onde tudo será possível, e em troca ela conhece seus hábitos e comportamentos”, complementa. Esse tipo de informação pode parecer ser um verdadeiro trunfo para o metaverso, ambiente onde também serão comercializados produtos diversos. No fim, os problemas adquiridos pelo Facebook em sua rede social só vão migrar de um ambiente para outro.