Mercado projeta alta na inflação pela 13ª semana e vê melhora no PIB
Aceleração nos preços dos alimentos e de outros itens com retomada da economia eleva índice e analistas projetam pequeno aumento dos juros ainda neste ano
A projeção da inflação continua a subir, refletindo o impacto da alta dos preços no país – preocupação latente do consumidor na hora de fazer compras. Pela 13ª semana seguida, analistas do mercado financeiro revisaram para cima a estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo dados do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 9, pelo Banco Central, a inflação deve encerrar o ano em 3,2%, acima do previsto na semana passada, em 3,02%. Para se ter uma ideia da aceleração, há um mês, a projeção era de 2,12% para o indicador. O valor segue abaixo da meta definida pelo governo, de 4% neste ano, e dentro da margem de tolerância, que varia entre 2,50% e 5,50%. No entanto, as revisões consecutivas alertam a pressão inflacionária na retomada da economia.
As revisões consecutivas são reflexo, principalmente, da alta sentida em itens de cesta básica. Em outubro, o IPCA acelerou 0,86%, maior resultado para o período em dezoito anos. Com a retomada do setor de serviços, que até o momento tinham baixa demanda e seguravam o bom comportamento da inflação, o indicador tem tendência de alta. Tanto que, em outubro, além dos alimentos, o que pesou no indicador foi o preço das passagens aéreas, com o reaquecimento, ainda que tímido, dos voos domésticos. Em abril e maio, período mais agudo da crise provocada com a pandemia, com o fechamento de atividades não essenciais, houve deflação. Com a reabertura das atividades, injeção de recursos transferidos pelo auxílio emergencial, aumento da demanda interna e também a pressão do dólar, houve aceleração em alguns custos. Para 2021, entretanto, o mercado reduziu a projeção para o IPCA de 3,25% para 3,20%.
Com a aceleração da inflação, economistas projetam alta na taxa básica de juros, a Selic. O mercado projeta os juros em 2,5% ao ano ao final de 2020, a projeção é menor que os 2,75% da semana passada. Na última reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa de juros em 2% para este ano, taxa atual. Na ata, o colegiado justificou que o movimento da inflação atual é passageiro e, por isso, pode fazer apenas algum ajuste adicional na Selic. Para o ano que vem, o mercado manteve a previsão dos juros em 3,50% ao ano.
Retomada
Além da alta projetada para a inflação, analistas do mercado estimam melhora no desenvolvimento da economia. Segundo os analistas consultados pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve fechar o ano em -4,80%, previsão ligeiramente melhor que na semana anterior, de -4,81%. Com a retomada gradual das atividades, o desafio da economia é o aquecimento e recuperação sustentável pós-pandemia.
Após dezoito semanas de revisões para baixo, acompanhando a escalada do novo coronavírus no Brasil, as projeções do PIB que chegaram a -6,54%, passaram por estabilização em junho e as previsões do PIB passaram a melhorar em julho e agosto com a reabertura gradual das atividades. Os dados do Focus não indicam uma recuperação em “V”, jargão econômico para mostrar uma volta rápida, Alguns setores, entretanto, mostram retomada mais rápida, como o comércio, beneficiado diretamente pelo auxílio emergencial.
Vale salientar, porém, que a recessão é significativa e atinge o país no ano em que se esperava uma reação da economia, que dava sinais de recuperação da crise vivida entre 2015 e 2016. No início do ano, a expectativa do mercado financeiro era de que a economia brasileira crescesse 2,3%, acima dos desempenhos de 2017 e 2018 (+1,3%) e 2019 (1,1%).
A expectativa do mercado para projetar o crescimento da economia para os próximos anos, é a retomada da agenda reformista. Incertezas sobre o andamento das pautas, podem gerar incerteza. A previsão do PIB para 2021 é de 3,31% e para 2022 de 2,5%.