Grande termômetro da economia, a inflação é sensível a variação cambial, alta das commodities e, claro, absorve efeitos de política econômica. Apontada como uma pressão temporária durante todo o ano passado, o indicador não dá sinais de arrefecimento e está acima da menta para este ano. Analistas do mercado financeiro apontam que o IPCA, índice oficial de inflação do país, deva fechar o ano em 3,87%, oitava alta consecutiva de expectativas. No início deste ano, a projeção era que o índice terminasse em 3,34%. A meta definida para 2021 é de 3,75%. Os dados são do Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, 1º.
A previsão do indicador segue dentro da margem de erro, de 1,5 ponto porcentual para baixo ou para cima, segundo definição do Conselho Monetário Nacional. Essa pressão, porém, deve puxar a taxa básica de juros para o alto. A Selic, atualmente em 2%, deve subir. Muitos analistas já apostam em ajuste já nesta próxima reunião, na próxima semana, e o mercado vê trajetória de alta até o fim do ano, chegando a 4%.
A aposta é que os principais fatores para a pressão inflacionária no ano passado – retomada das atividades, pagamento do auxílio emergencial e desvalorização do real em relação ao dólar – devem ocorrer em menor proporção, impactando menos a pressão da inflação neste ano. Mas isso não significa que o aumento de preços deva ceder. O real desvalorizado e a alta das commodities são alguns dos motivos para evitar isso. O movimento pode ser visto no preço dos combustíveis, que inclusive gerou uma crise política no governo envolvendo a Petrobras.
A estatal utiliza parâmetros do preço do barril de petróleo no mercado internacional, que é cotado em dólar. A partir do último trimestre do ano passado, o preço do barril voltou a subir e, como o real passou a valer menos em relação ao dólar, o impacto no preço do combustível foi ainda maior. Nesta segunda-feira, 1º, a petroleira indicou nova alta, a quinta do ano para a gasolina e a quarta no etanol. Com os aumentos, os combustíveis já subiram mais de 30% no ano.
A pressão do combustível trouxe insatisfação dos caminhoneiros e consequentemente, ações de Bolsonaro, que preferiu a linha intervencionista em detrimento do posicionamento econômico liberal para não desagradar suas bases. Mesmo com troca indicada no comando da estatal, com projeto de fixar imposto estadual e decreto para detalhamento do preço das bombas, o consumidor já sente o peso da alta do combustível. No IPCA-15, prévia da inflação, os combustíveis tiveram impacto maior que os alimentos na alta dos preços. A inflação dos combustíveis impacta também no preço de produtos e serviços, porque o transporte fica mais caro. No Boletim Focus, o mercado projeta o IGP-M, índice utilizado como base em contratos de aluguel, em 8,88%, contra 6,57% um mês atrás.
Retomada econômica
Os economistas consultados pelo Banco Central apontam uma recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 após a queda histórica de 2020. A perspectiva é que a economia brasileira cresça 3,29% neste ano, após um recuo estimado de 4,37% em 2020 — o resultado oficial será divulgado nesta quarta-feira, 3. A previsão é a mesma da semana anterior e menor que há um mês, quando a projeção era de 3,50%. A escalada de casos do novo coronavírus e os percalços da vacinação são pontos de atenção para a retomada, já que o impacto do coronavírus continua presente. Estados e municípios voltaram a adotar medidas mais restritivas a fim de evitar o colapso no sistema de saúde.
A expectativa para ajudar na volta econômica depende do andamento das reformas, essencial para melhorar o ambiente de negócios e destravar investimentos, estimulando assim a recuperação. Na semana passada, após crise na Petrobras, o governo enviou projetos de privatização dos Correios e da Eletrobras e há expectativa que a PEC Emergencial seja votada nesta semana. Por pressão do Congresso, o ajuste trazido pela PEC, contrapartida básica exigida pelo governo para uma nova rodada de auxílio emergencial, deve ser reduzida.