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Megainvestidor Enrique Bañuelos diz ‘adiós’ ao Brasil

Empresário encerra atividades no país para se dedicar a um controverso empreendimento de cassinos na Espanha

Por Ana Clara Costa
28 jun 2013, 07h30

No próximo dia 1º, o escritório da empresa Veremonte, na Avenida Nove de Julho, em São Paulo, deixará de funcionar. Seu presidente, o investidor Enrique Bañuelos, listado pela revista Forbes como o 17º mais rico da Espanha, decidiu que o Brasil já não é mais o lugar para se estar – pelo menos, não para a Veremonte.

Depois de chegar de maneira ruidosa ao país, em meados de 2007, com a promessa de ficar, pelo menos, 40 anos, o empresário se desfez de seus investimentos e desenha um projeto audacioso na Espanha: a construção de um complexo de cassinos com o objetivo de competir com Las Vegas.

A saída do Brasil não foi repentina. Desde 2011, antevendo que o setor imobiliário havia atingido seu pico, vendeu sua participação na incorporadora PDG Realty. Seus investimentos em agronegócio, iniciados naquele ano, não deram certo por conflitos societários. Com isso, em 2012, o espanhol saiu da Vanguarda, empresa criada para fazer frente a grandes tradings do setor, como Cargill e Bunge. Atualmente, seus únicos empreendimentos em território nacional são a Fit Out, empresa de investimento em shoppings que não tem nenhum projeto em execução, e a Medidata, que pertence à Amper – companhia espanhola da qual tem participação acionária de 28%. Bañuelos não detém sequer um investimento direto no país.

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Seu escritório só não será fechado completamente porque o empresário possui um passivo fiscal que precisa ser administrado. Quem ficará a cargo do problema é Antonio Romanoski, executivo egresso da Copel e da Electrolux que trabalha para Bañuelos desde 2010. Os cerca de vinte funcionários que restaram na empresa em 2013 estavam, há dois meses, em processo gradual de demissão. Nesta sexta, os remanescentes – não mais que cinco – comparecerão à Veremonte para o último dia de expediente.

Segundo apurou o site de VEJA, a decisão de deixar o país remonta ao início de 2012, quando o empreendimento de agronegócio azedou. “A Vanguarda o deixou muito chateado e desmotivado”, afirma uma fonte próxima ao executivo espanhol. A empresa era resultado da fusão entre a Maeda, a Brasil Ecodiesel e a antiga Vanguarda Brasil, e Bañuelos queria transformá-la numa líder mundial do setor de grãos. Seus sócios na empresa eram Helio Seibel, Otaviano Pivetta e Silvio Tini. Os três torceram o nariz quando o espanhol desenhou o plano de um fundo de terras que garantiria rendimentos tanto para a Veremonte quanto para a Vanguarda. A relação se tornou insustentável e terminou com uma briga judicial e sua saída da sociedade.

A conjuntura macroeconômica também foi um fator de ponderação para Bañuelos. Apesar de não ser um investidor pautado por fundamentos macroeconômicos, o encarecimento dos preços no Brasil fez com que ele farejasse um possível problema. “Ele não se conformava com o fato de tudo aqui custar mais. Como o fato de restaurantes de São Paulo serem muito mais caros que os melhores restaurantes europeus. Ele sentia no ar que algo não podia estar bem”, afirma outra fonte recém-saída do escritório.

De lá pra cá, o empresário direcionou todos os seus recursos para a Europa – ele vive em Londres, mas passa boa parte do tempo na Espanha. No final de 2011, vendeu o edifício-sede do fundo Petros, no Rio de Janeiro, por 103 milhões de reais: 40% à vista e o restante pago até março deste ano. Todo o montante já foi enviado à Espanha. A cobertura que o investidor mantinha na Vila Nova Conceição, bairro nobre de São Paulo, foi vendida em maio deste ano por cerca de 15 milhões de reais – Bañuelos havia pago 6 milhões de reais pelo imóvel três anos antes. Todo o dinheiro também foi enviado ao exterior.

Enrique Banuelos
Enrique Banuelos (VEJA)
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Redenção espanhola – A volta do investidor à Espanha tem um quê de redenção. Bañuelos foi encarado por muitos como o maior culpado pela bolha imobiliária que arrastou seu país para a crise. Por isso, acredita que criar um complexo de cassinos em Barcelona será uma forma de eliminar o ranço que ainda paira sobre sua imagem. O empreendimento, chamado BCN World, exigirá investimentos da ordem de 6 bilhões de dólares – valor muito superior à fortuna do empresário, avaliada pela Forbes em 1 bilhão de dólares.

A ideia do espanhol é transformar Barcelona em destino de viagens de jogatina para russos, asiáticos e árabes – para que a cidade possa competir com Las Vegas, nos Estados Unidos, e Macau, na China. Para concretizar o plano, se associou a um dos maiores investidores chineses em cassinos, Stanley Ho. Segundo uma fonte ouvida pelo site de VEJA e que conhece alguns detalhes do negócio, o empresário já conseguiu do governo espanhol seis licenças para abertura de cassinos, além de uma redução na carga tributária cobrada sobre a indústria de jogos. “Ele quer fazer algo para a população espanhola. Por isso está completamente focado no projeto”, afirma a fonte.

Contudo, mais do que criar um complexo de entretenimento para empregar a população catalã, o empresário quer ganhar um bom dinheiro com a operação. Uma opção de compra do terreno que abrigará o empreendimento foi cedida a Bañuelos pelo banco La Caixa. A opção vence no final deste ano. Se Bañuelos não encontrar investidores interessados em assumir a aquisição do terreno, terá de exercer a opção de compra e desembolsar nada menos que 300 milhões de euros. “É um valor muito alto para um investimento muito arriscado. Ninguém entende porque ele está fazendo isso”, afirma um executivo do mercado imobiliário que preferiu não ter seu nome revelado. A situação se complica mais diante do fato de o maior investidor de cassinos de Las Vegas, Sheldon Adelson, também estar interessado neste mercado na Espanha. O americano pretende abrir empreendimento semelhante em Madri – concorrência que poder tornar a vida de Bañuelos mais difícil.

Não bastassem os cassinos, ele está decidido a levar adiante outro investimento controverso. Trata-se da Formula E, uma corrida de carros elétricos recém-criada pela Fédération Internationale de l’Automobile (FIA), cujos direitos comerciais são detidos por um grupo de empresários capitaneados pelo próprio espanhol. O investidor quer transformar a corrida em uma espécie de Fórmula 1 do futuro.

Há especulações de que tais investimentos na Europa sejam temporários – e que o empresário volte ao Brasil depois de 2014, quando, segundo suas apostas, o mercado estiver mais barato devido a uma possível crise econômica que Bañuelos fareja. “Ele diz que, a partir do ano que vem, pode ser que o mercado brasileiro esteja mais adequado para ele”, afirma uma das fontes.

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