Medidas cambiais têm efeito limitado sobre inflação
Sem medidas, câmbio poderia contribuir mais para a redução dos índices
As recentes medidas do governo brasileiro para conter a alta do real sobre o dólar, embora não devam ter um efeito significativo de pressão sobre a inflação, serão um ruído a mais para os preços. Sem elas, o câmbio poderia contribuir mais para a contenção dos índices, avaliam especialistas.
Cálculos mostram que o impacto de uma alta do dólar na inflação ao consumidor poderia ser de até 0,30 ponto percentual no IPCA. Trata-se de um valor elevado, mas que aconteceria apenas em momentos de maior estresse, como uma crise financeira. No momento atual, de estabilidade econômica e competição de importados, as chances de isso virar realidade são bem menores.
“Para ter efeito sobre inflação, você tem que ter uma desvalorização (do real) consistente. O dólar tem que subir por mais de um mês e depende da magnitude”, avaliao economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini. “Mas, ainda assim, isso não acontece automaticamente, depende dos preços lá fora. Se os preços estiverem caindo, diminui o impacto aqui. Enquanto se estiverem em alta, potencializa aqui”, acrescentou ele.
Na quarta-feira, o governo divulgou a mais dura ação já tomada no câmbio, a fim de evitar mais especulações e, consequentemente, mais valorizações do real sobre o dólar. A medida impõe uma taxação de 1% sobre as operações de derivativos cambiais feitas por investidores brasileiros e estrangeiros no país. A alíquota, no entanto, poderá ser elevada a até 25 %.
O mercado acredita que as medidas podem não ter impacto muito significativo para conter a queda do dólar, já que o problema tem aspectos também externos, como a fraqueza mundial da moeda norte-americana. Mas, se causarem uma apreciação mais consistente do real, pode impactar a inflação.
Na quarta-feira, o dólar subiu 1,5%, a maior valorização em um ano. Antes disso, a moeda norte-americana já havia fechado na casa de 1,53 real, a menor em 12 anos. Às 15h30 desta quinta-feira, ainda mantinha o movimento de alta, com 0,36%, a 1,5651 real.
Agostini lembra que cerca de 30% dos itens do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) podem sofrer algum impacto do dólar, enquanto nos Índices Gerais de Preços do Mercado (IGPs), formados em 60% pelo atacado, dois terços dos itens podem ser atingidos.
Assim, no IPCA, pode-se calcular que a cada 1 ponto percentual de alta do dólar há um risco potencial de aumento da inflação de 0,3 ponto. Esse cenário, no entanto, somente se concretizaria em momentos de muito estresse, diferentemente do agora. “Num primeiro momento, você tem um impacto nos IGPs, que têm mais produtos em dólar, e você tem um impacto menor no varejo”, afirmou economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.
O dólar caiu cerca de 6% ante o real neste ano, tendo algum efeito para baixo na inflação do período, sobretudo no atacado. “Se você tiver algum efeito de apreciação cambial, você perderia essa ajuda para a inflação. Se o governo não estivesse tomando medidas, o câmbio estaria abaixo de 1,50 real, o que ajudaria mais a inflação”, acrescentou Neto.
(Com Reuters)