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Interferência na economia derrete moeda turca e liga alerta a emergentes

Presidente do BC foi demitido após elevar taxa de juros, desagradando presidente; lira vale quase 8 dólares e risco reflete em outros países, como o Brasil

Por Luisa Purchio Atualizado em 22 mar 2021, 20h08 - Publicado em 22 mar 2021, 14h02

A pandemia do novo coronavírus somada a uma grave crise institucional fez com que indicadores da Turquia entrassem em pane, alertando para os riscos que grandes interferências podem ter na saúde econômica de um país. O colapso no mercado, com direito a circuit breakers na bolsa do país nesta segunda-feira, 22, e desvalorização na moeda, se devem à demissão de Naci Agbal, presidente do Banco Central, na sexta-feira, pelo presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Na quinta-feira, Agbal subiu a taxa de juros do país de 17% para 19% para tentar conter a inflação no país, que já passa de 15%.

A economia turca, bem como o restante do mundo, está sofrendo com os impactos da crise do novo coronavírus. Até fevereiro, a lira turca estava relativamente valorizada, mas as novas ondas do vírus ajudaram a moeda a se desvalorizar. Para piorar o quadro, a fragilidade da democracia do país assusta os investidores e deteriora ainda mais a confiança no país. “Erdogan tem uma tendência de interferir nas instituições conforme suas necessidades políticas, e o mercado não aceita isso de jeito nenhum”, diz Daniel Duarte Flora, coordenador de relações internacionais e comércio da Universidade Vila Velha.

A lira turca, se desvalorizava 7,78% às 13 horas no horário de Brasília, com um dólar valendo 7,76 liras turcas, enquanto o índice Bist 30, da Bolsa de Istambul, caía 9,95% após paralisação das negociações.

Apesar de as relações comerciais entre a Turquia e o Brasil serem insignificantes perto de outros parceiros internacionais, o que acontece lá pode se refletir na economia brasileira. “Em um momento de maior aversão ao risco, o Brasil acaba sofrendo com a cautela dos investidores por estar na mesma cesta de países emergentes”, diz Camila Abdelmalack, economista chefe na Veedha Investimentos. “Mas o Brasil está passando por problemas domésticos delicados na área da saúde, política e economia, não para colocar a culpa na Turquia”, diz ela.

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No passado, foram feitas comparações do Brasil com a Turquia mas, apesar dos problemas brasileiros, a crise doméstica brasileira ainda está distante da turca. Alguns paralelos, no entanto, podem ser feitos. Na semana passada, o BC brasileiro elevou a taxa de juros de 2% para 2,75%. Apesar de estar em patamar baixo, a motivação para a alta nas taxas é semelhante a da Turquia. “Elevar a taxa de juros deveria ser consequência do aquecimento da economia, mas não foi o caso. Isso aconteceu porque a política monetária teve de fazer frente ao risco brasileiro”, diz Abdelmalack. “Todas as crises de confiança acabam tendo essa repercussão, vimos no passado isso ocorrer na Argentina, que chegou ao limite” diz ela.

INSTITUIÇÕES FRAGILIZADAS

A quebra da estabilidade institucional é uma ameaça constante na Turquia. Desde que Endorgan assumiu o poder na Turquia, em 2013, a desvalorização é muito grande. Um dólar, na época, valia duas liras, agora, o câmbio chegou a 7,76 liras.

Em 2016, houve uma tentativa da oposição de depor o presidente por meio de um golpe de estado. Pertencente ao Partido da Justiça e Desenvolvimento, Erdogan está desde 2014 no poder e é considerado neoliberal na economia e conservador social dos valores islamistas. Em 2017, o regime da Turquia passou de parlamentarista para presidencialista, o que aumentou o poder do presidente. Em 2018, o país sofria uma grave crise, com alto endividamento das empresas, inflação e guerra comercial com os Estados Unidos.

A demissão do presidente do banco central assustou ainda mais os investidores sobre os rumos da política monetária do país. O ex-presidente Agbal era bem aceito pelos analistas internacionais por seguir uma política de juros compatível ao controle da inflação, o que ajudou a lira turca a se valorizar até fevereiro deste ano. O novo presidente do Banco Central, o economista e ex-deputado Sahap Kavcioglu, assusta os mercados, que temem suas críticas recentes à estratégia do seu antecessor sobre o juros. Ontem Kavcioglu informou que “continuará a usar os instrumentos de política monetária de forma eficaz em linha com seu objetivo principal de alcançar uma queda permanente da inflação”, mas o comunicado não convenceu.

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