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Inflação e alta dos juros espantam investidores de startups

Baixo crescimento econômico desestimula fundos internacionais e cria cenário de atenção para novos empreendedores no país

Por Gabriel Ferreira
11 ago 2013, 16h38

Conseguir dinheiro para financiar um negócio em sua fase inicial não é tarefa fácil. E o desafio fica ainda maior em momentos em que a economia do país não vai tão bem. Os fundadores de startups no Brasil têm sentido essa realidade na pele. Com o Produto Interno Bruto (PIB) crescendo a passos de tartaruga, a inflação acima do centro da meta de 4,5% e a taxa de juros em trajetória de alta, levantar recursos para tirar uma ideia do papel ou para expandir o negócio tem se tornado tarefa hercúlea.

A situação está longe de ser caótica para investidores e empresas. O Brasil já viveu tempos piores, como o período de moratórias na década de 1980, a hiperinflação e o período do impeachment do ex-presidente Collor. “Atrair investidores nunca é um processo fácil, principalmente no Brasil, onde o ambiente sempre foi desafiador para o capital de risco”, afirma Everson Lopes, diretor de portfólio do Ideiasnet, um dos primeiros fundos de venture capital a investir em startups no Brasil. Nos últimos anos, porém, as pequenas empresas brasileiras vinham conseguindo conquistar seu espaço. Muito disso se devia ao cenário desafiador das economias americana e europeia, enquanto as empresas nacionais navegavam em águas mais tranquilas. “Ter estado bem enquanto o mundo todo ia mal nos favoreceu. Mas agora a situação é a inversa. Vivemos um momento complicado enquanto outras economias voltam a respirar”, diz Cássio Spina, investidor anjo e fundador da Altivia Ventures.

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O cenário instável afeta principalmente as perspectivas de recursos vindos de fundos estrangeiros – justamente os grupos que fazem os movimentos mais impactantes no país. “Para quem já conhece a realidade do mercado não deve haver grandes mudanças, mas certamente fundos que vinham se preparando para fazer aportes no país podem repensar essa decisão”, afirma Yann de Vries, sócio do fundo americano Redpoint e.Ventures, que possui uma série de investimentos no Brasil. Isso acontece porque, antes de tomar a decisão de aplicar recursos em um determinado país, os grandes fundos fazem uma análise da situação econômica. Se o mercado vai bem, analisam para ver se as áreas com maior potencial de crescimento se adéquam a seu portfólio de investimentos. Quando a economia vai mal, porém, a decisão de aplicar recursos costuma ser adiada até um momento mais oportuno. “Um fundo que tenha por política investir em várias partes do mundo, com certeza vai deixar essa região para depois, quando a situação estiver mais estabilizada”, afirma Hernan Kazah, do fundo Kaszek e um dos fundadores do Mercadolivre.

Desestímulos – O grande desafio é que o aumento da taxa de juros, principal arma do Banco Central para conter o avanço da inflação, é também um dos fatores que mais desestimula o capital de risco. Com juros altos, as empresas que precisam captar recursos com fundos de venture capital padecem, já que não compensa ao investidor correr tanto risco com uma startup se existem outros investimentos mais seguros e rentáveis. “Se vivermos um período prolongado de alta de juros, é grande a chance de ver os recursos de venture capital secarem”, diz Lopes, do Ideiasnet.

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As startups descobriram o custo Brasil – e não estão contentes

Além do pessimismo quase generalizado sobre a conjuntura econômica, fatores estruturais também desestimulam o ingresso de investidores no mercado brasileiro. A cultura de startups ainda é recente no país e muitos investidores reclamam da falta do que chamam de um “ecossistema” que facilite o desenvolvimento desse tipo de empresa e, assim, estimule a chegada de aportes. Não há, por exemplo, uma legislação moderna, que dê segurança ao investidor para aplicar seus recursos em uma empresa com sede no país. “Isso é parte do custo Brasil. Um dos exemplos mais comuns é o investidor que não tem qualquer papel na gestão do negócio, mas tem seus bens bloqueados por conta de uma disputa trabalhista”, afirma Spina.

Grande potencial – Por mais que o momento exija atenção, o mercado brasileiro ainda tem elementos capazes de atrair dinheiro de investidores, principalmente para as empresas de tecnologia. “Por mais que o PIB não venha apresentando bons resultados, os números de usuários de internet e de donos de smartphone tendem a crescer”, diz Kazah. Cerca de metade da população brasileira tem acesso à internet, contra os mais de 70% registrados nos mercados mais maduros, como Estados Unidos e Japão.

Como resultado dessa tendência, as startups brasileiras passaram por um forte processo de amadurecimento nos últimos anos. Segundo um estudo preliminar conduzido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), há cerca de 3 bilhões de dólares investidos em pequenas empresas brasileiras. “Por enquanto não se pode falar em crise de investimentos. Esse número é uma montanha de dinheiro, ainda mais para um país onde a cultura desse tipo de investimento começou a se fortalecer há menos de cinco anos”, afirma Cláudio Furtado, coordenador do centro de estudos de Private Equity da FGV. “Esse quadro não deve sofrer grande impacto no primeiro momento, porque são investimentos já programados. Mas é lógico que se o país entrar em uma recessão, o cenário muda completamente.”

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